Avaliação: Jeep Compass TD350, virtudes e limitações em teste de 1.200 km
O Jeep Compass passou por mudanças importantes na linha 2022. Mas quem olhar despretensiosamente para as versões movidas pelo velho motor 2.0 MultiJet turbodiesel pode até pensar que a configuração 4x4 do SUV compacto-médio mais vendido no Brasil passaram alheias ao processo de renovação.
Primeiro, porque não houve novidades em termos de motorização. Diferentemente das opções flex, que trocaram o velho e beberrão 2.0 Tigershark aspirado pelo interessante 1.3 GSE turbo, o propulsor do Compass a diesel continua a ser o mesmo de antes, sem alterações nos dados de potência e torque.
O mesmo acontece com suspensões, freios e sistema de transmissão, este formado pelo câmbio automático de nove marchas da ZF, com as duas primeiras velocidades operando como reduzida, e tração 4x4 com opção de bloqueio de diferencial.
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Até as novidades estéticas são ainda mais sutis do que as vistas nas versões flex. Mas o novo Compass 4x4 está, sim, diferente, e não apenas na adoção da nomenclatura TD350, em menção ao motor turbodiesel e ao torque de 350 Nm (35,7 kgfm).
A Mobiauto rodou mais de 1.200 quilômetros com o SUV em sua versão mais barata com motor a diesel, Longitude. Em nosso teste, constatamos o que melhorou, o que ainda deixa a desejar e os itens nos quais o Compass a diesel continua incomparável. Confira abaixo nossa avaliação e veja se vale a pena pagar mais de R$ 210.000 nele.
Compass Longitude TD350 AT9 4x4 2022: R$ 212.990. Pintura Cinza Crystal: R$ 1.900. Acabamento interno em Cinza Steel: R$ 1.600. Teto solar panorâmico: R$ 8.900. Total: R$ 225.300
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Design, acabamento, conforto e espaço interno
O novo Compass TD350 tem um “rosto” diferente das versões T270. A culpa disso é toda do para-choque dianteiro. No SUV movido a diesel, os defletores aerodinâmicos na base da peça saem de cena para melhorar o ângulo de ataque.
Por conta disso, a Stellantis aproveitou para aplicar nele soluções estéticas exclusivas: os faróis de neblina são posicionados mais para baixo e contornados por anéis de cromo acetinado. O mesmo tom é usado para demarcar o aplique trapezoidal na ponta do para-choque, que forma um falso quebra-mato e emoldura a tomada inferior de ar.
Tanto lateralmente quanto na traseira a versão Longitude 4x4 é idêntica à homônima com motor turboflex e tração dianteira. Ela é composta por rodas de liga leve aro 18” com cinco raios duplos em forma de Y e acabamento em tom prata único, faróis e lanternas de LED, e protetores plásticos laterais e barras longitudinais de teto em preto fosco.
A unidade que testamos dispunha de teto solar panorâmico, opcional que sozinho custa quase R$ 9.000. Por dentro, o padrão de acabamento é igualmente similar ao do Compass Longitude T270, incluindo o quadro de instrumentos analógico com computador de bordo central digital e colorido de 7” do Compass pré-facelift.
O exemplar de nossa avaliação conta, ainda, com bancos revestidos de couro e acabamento em uma só cor, preta. Por mais R$ 1.600, é possível fazer o couro e algumas faixas de painel e guarnições das portas ganharem o tom Cinza Steel, como nas fotos de divulgação que ilustram este artigo.
De resto, o padrão é o mesmo do Compass T270 que já avaliamos, com a diferença de que há comandos voltados ao uso da tração 4x4 e modos off-road no console central. Espaço interno e conforto também são os mesmos, incluindo a dupla saída de ar, as duas tomadas 12V e a porta USB-C disponíveis na fileira traseira.
O porta-malas tem 410 litros no sistema VDA. É um volume menor que o de Toyota Corolla Cross e VW Taos, mas em nosso percurso de 1.200 km rodamos com quatro passageiros a bordo e as bagagens de todos couberam sem muitos problemas. Estamos falando de quatro malas de tamanho médio mais algumas sacolas e mochilas.
Dimensões: comprimento, 4.300 mm; entre-eixos, 2.610 mm; largura, 1.635 mm; altura, 1.790 mm; porta-malas, 410 litros; pneus, 225/55 R18.
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Motorização, desempenho e dirigibilidade
Apesar de ter tido sua nomenclatura alterada, o motor 2.0 MultiJet turbodiesel do Compass não recebeu o ganho de 2 kgfm com o qual o irmão maior Jeep Commander foi agraciado. Ainda assim, os 35,7 kgfm gerados pela especificação original são mais que suficientes para tirar da imobilidade o SUV da imobilidade de modo até ágil.
O desempenho só não é melhor porque o Compass TD350 pesa 1.760 kg em ordem de marcha, acima dos padrões de um SUV compacto-médio. Por isso mesmo, seu 0 a 100 km/h oficial é de quase 11 segundos, mas não se preocupe: há fôlego de sobra para encarar rodovias como a Castello Branco, uma das rápidas e bem estruturadas no Brasil.
Motor: 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, diesel, duplo comando de válvulas no cabeçote, injeção direta de combustível, taxa de compressão 16,5:1
Potência (G/E): 170 cv a 3.750 rpm
Torque (G/E): 35,7 kgfm a 1.750 rpm
Peso/potência: 10,4 kg/cv
Peso/torque: 49,3 kg/kgfm
Câmbio: automático, 9 marchas
Tração: 4x4 com bloqueio de diferencial e reduzida
0 a 100 km/h: 10,7 s
Velocidade máxima: 198 km/h
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Outra vantagem do Compass, especialmente perante Taos e Corolla Cross, está na robustez das suspensões. A absorção de impactos está longe da perfeição, mas o conjunto segura muito bem a carroceria em curvas e encara terrenos mais acidentados sem sofrer ou fazer barulho como os rivais.
O ponto negativo vai para a assistência elétrica de direção, que dá tanto rebote na configuração TD350 quanto na T270, além de ser leve demais e um tanto anestesiada. Má notícia para quem querer encarar uma aventura off-road com uma dose maior de conforto e precisão.
Sobre o fora-de-estrada, aliás, espere do novo Compass 4x4 a diesel um nível similar de valentia em relação à Fiat Toro Ranch, recentemente avaliada pela Mobiauto, mas com o acréscimo de bloqueio de diferencial e seletor de modos de condução, a depender do tipo de terreno.
Para uma trilha de nível intermediário, são predicados mais que suficientes, mas só o Compass Trailhawk contará com itens como ganchos de reboque e pneus mais preparados para uso em terrenos escorregadios.
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensões McPherson (dianteira e traseira) com molas helicoidais; freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro, 11,3 m; Cx, 0,35; vão livre do solo, 219 mm; ângulo de ataque, 30,3°; ângulo central, 21,6°; ângulo de saída, 31,1°; peso em ordem de marcha, 1.760 kg; carga útil, 400 kg.
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Consumo e o tal do Arla 32
Uma das maiores vantagens de adquirir o Compass turbodiesel no lugar do turboflex está na autonomia. O Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro anuncia 10,3 km/l em ciclo urbano e 13,5 km/l no rodoviário para o TD350, contra 10,2 km/l e 11,7 km/l, respectivamente, para o mesmo SUV com propulsor GSE 1.3 e gasolina no tanque.
Em nosso teste, rodamos cerca de 1.000 km por rodovias e 200 km dentro de cidades, alcançando um consumo combinado de 12,3 km/l. Poderia ter sido ainda melhor se desde o princípio o veículo estivesse abastecido com Arla 32. “Arla o quê?”. É um concentrado de ureia que o Compass a diesel passou a exigir na linha 2022.
A Mobiauto já explicou o seu funcionamento aqui, mas vale resumir: trata-se de uma solução muito usada por caminhões a fim de melhorar seus índices de emissões de poluentes. Arla é a abreviação de Agente Redutor Líquido de Óxidos de Nitrogênio. 32 se refere ao índice (32,5%) de ureia de alta pureza presente na solução. O restante é formado por água desmineralizada.
O Arla 32 faz parte da chamada SCR ou Redução Catalítica Seletiva. Na prática, ele se mistura com os gases expelidos pelo motor que vão para o catalisador, onde reage com o Óxido de Nitrogênio (NOx) e gera vapor de água e gás nitrogênio, que não são nocivos ao ambiente.
Segundo a Stellantis, o tanque de Arla 32 do Compass TD350 2022 suporta até 13 litros e permite rodar entre 7.000 km e 10.000 km a cada reabastecimento. O problema é encontrar um posto que vende a solução em ambiente urbano, especialmente em uma metrópole como São Paulo (SP), na qual o acesso a rodovias contíguas é complicado.
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Quando pegamos o Compass, o reservatório estava vazio e o quadro de instrumentos pedia insistentemente o seu preenchimento através do aviso “Nível de DEF baixo. Reabasteça logo”, o que pode até assustar o motorista e dar a entender que o veículo vai parar de funcionar. Mas calma: o SUV não deixou de rodar em nenhum momento.
Como não encontramos o líquido à venda na cidade, o jeito foi encontrá-lo já no meio da estrada, após quase 100 km percorridos. O bocal do reservatório fica bem ao lado do acesso ao tanque de diesel, à esquerda dele, o que demanda atenção para não colocar Arla 32 no lugar do combustível e vice-versa.
Como dissemos, a falta do concentrado de ureia não impediu o funcionamento do SUV, mas certamente prejudicou um pouco o consumo nos primeiros dois dias de uso. Com o Arla 32, segundo o Inmetro, o Compass turbodiesel melhora em 0,1 km/l seu consumo na cidade e 0,4 km/l os parâmetros na estrada. Além, é claro, de poluir bem menos.
O ponto nevrálgico é: para quem usa o veículo prioritariamente dentro da urbe, será que o processo será cumprido à risca? Ou teremos donos do novo Compass 4x4 rodando por aí com o tanque de Arla vazio, consumindo mais combustível do que gostariam e emitindo mais poluentes do que deveriam?
Consumo Inmetro: 10,3 km/l na cidade / 13,5 km/l na estrada.
Tanque de combustível: 60 litros
Tanque de Arla 32: 13 litros
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Conforto e espaço interno
Neste quesito, o Compass TD350 se iguala ao T270 que já testamos. O que podemos acrescentar é que a versão Longitude vem de fábrica com couro em tom preto, mas é possível mudá-lo para o tom Cinza Steel, opcionalmente, junto com a faixa central do painel e das guarnições das portas.
Durante nossa experiência, quatro adultos viajaram a bordo em trechos de 550 km cada entre São Paulo capital e Londrina (PR). Nenhum reclamou de falta de espaço ou desconforto ao fim dos percursos, o que dá uma resposta prática positiva quanto ao nível de conforto e ergonomia de seus bancos.
Além disso, apesar de seu bagageiro ser menor o menor da categoria, acomodamos quatro malas de porte pequeno ou médio mais algumas mochilas e sacolas sem nenhum tipo de sofrimento.
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Tecnologia, segurança e equipamentos
Apesar de custar mais de R$ 200.000, a versão do novo Compass TD350 que testamos era a Longitude, a mais básica entre aquelas com motor turbodiesel e tração 4x4.
Ela já traz itens exclusivos da linha 2022, como a nova central multimídia UConnect de 10,1” com projeção de celulares sem fio, o pacote Adventure Intelligence by Jeep e possibilidade de Wi-Fi a bordo para até oito smartphones simultâneos. Já havíamos testado esses sistemas na nova Toro Turbo 270 e você pode conferir o resultado aqui.
Nessa versão, o SUV também traz faróis full-LED, freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold, controle eletrônico anticapotamento e assistente de frenagem em pânico (o ABS detecta quando se trata de uma frenagem emergencial, através da pressão aplicada ao pedal, e ajuda a alcançar a carga máxima de frenagem mesmo que o condutor não consiga sozinho).
No entanto, o quadro de instrumentos ainda é o mesmo usado até a linha 2021, com mostradores analógicos e um computador de bordo digital colorido de 7”. E não espere pela presença de nenhuma assistência semiautônoma de segurança, nem como opcionais. Elas ficam restritas às opções mais caras da gama.
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Jeep Compass Longitude TD350 Turbo Diesel AT9 4x4 2022 – Itens de série
Além dos obrigatórios airbags frontais, freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuição eletrônica de frenagem, ganchos Isofix para cadeirinhas infantis, cintos de três pontos e encostos de cabeça em todas as posições, o Compass Longitude diesel 2022 traz de série:
Visual e exterior: faróis full-LED com acendimento automático; faróis de neblina de LED; para-choque dianteiro com apliques em cromo acetinado; lanternas traseiras com guias de LED e luzes halógenas; lanternas de neblina; Friso cromado por toda a extensão das janelas do veículo; protetor de cárter; barras longitudinais de teto na cor preta; retrovisores externos com repetidores de luzes de seta; rodas de liga leve aro 18”.
Segurança: alarme; seis airbags; cintos dianteiros com ajuste de altura; controles de estabilidade e tração; controle eletrônico anticapotamento; alertas de limite de velocidade e manutenção programada; freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold; assistente de partida em rampas; controle de velocidade em descidas; assistente de frenagem em pânico; seletor de tração e terrenos; controle de cruzeiro com limitador de velocidade; sensores de estacionamento traseiros; câmera de ré; retrovisor interno eletrocrômico; monitoramento de pressão dos pneus.
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Tecnologia: chave com sensor presencial; quadro de instrumentos analógico com computador de bordo digital colorido de 7”; central multimídia UConnect de 10,1” com Apple CarPlay e Android Auto sem fio; sistema Adventure Intelligence; sistema de som com seis alto-falantes; Wi-Fi a bordo; tomadas USB tipo A e C no console central, e tipo A na fileira traseira; tomada 12V.
Conforto e acabamento: trio elétrico; vidros com função um-toque e antiesmagamento; volante multifuncional revestido em couro com ajuste manual de altura e profundidade e borboletas para troca de marcha; sensores de luminosidade e chuva; apoia-braço central com porta objetos; ar-condicionado automático digital de duas zonas com dupla saída para a fileira traseira; banco do motorista com regulagem manual de altura; banco do passageiro dianteiro rebatível e com porta-objetos no assento; banco traseiro rebatível e bipartido em 60:40; bancos, guarnições das portas e faixas do painel revestidos em couro; tapetes em carpete dianteiros e traseiros; porta-malas com iluminação, pavimento duplo e ganchos de fixação de carga.
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Conclusão
O novo Compass 4x4 diesel preserva os predicados que já tinha antes em termos de desempenho, dinâmica, conforto e espaço interno. Ganhou, também, algumas doses de tecnologia, menos presentes na versão avaliada pela Mobiauto, mas ainda assim marcantes.
O visual pouco mudou, mas recebeu ajustes interessantes. O ponto mais negativo vai mesmo para a necessidade de usar Arla 32 para manter os níveis de emissões e consumo de acordo com os padrões de fábrica. Para quem usa o SUV apenas na cidade, isso pode ser um empecilho.
Imagens externas: Juliana Carneiro/Mobiauto, Leonardo Felix/Mobiauto
Imagens internas: Divulgação e Murilo Góes/Mobiauto
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Jornalista Automotivo