Avaliação: nova Renault Oroch turbo é rápida e mais legal que o Duster

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro
Renan Bandeira
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12.04.2022 às 10:00 • Atualizado em 12.04.2023
Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro

A Renault Oroch ganhou novo visual na linha 2023 e adotou o motor 1.3 turboflex dos irmãos de plataforma Duster e Captur. No processo, mudou até o RG para sair do ostracismo.

Antes, a picape compartilhava o nome e toda a parte dianteira do chassi com o Duster. Agora, resolveu seguir um caminho diferente e se emancipar do SUV, trazendo um visual exclusivo e respondendo apenas por… Oroch.

Apesar de a base de ambos os modelos ainda ser a mesma, bem como toda a mecânica, a nova Oroch não recebeu as mudanças estruturais do SUV. Manteve a coluna A e o para-brisa de antes, assim como os faróis.

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Apresentada em 2015, um pouco antes da rival, Fiat Toro, a Oroch inaugurou o segmento de picapes compactas-médias com estrutura monobloco. No entanto, acabou engolida pela rival, muito maior e mais chamativa. 

Com a renovação e uma versão de topo bem mais potente, o modelo pretende se revigorar na briga do segmento, especialmente porque uma nova concorrente, ainda mais direta, a terceira geração da Chevrolet Montana, vem aí.

Os preços a posicionam como opção para as versões mais da Fiat Strada e de entrada da própria Toro. São três as versões. Duas mantêm o conjunto 1.6 SCe aspirado 16V flex, já atualizado para o Proconve L7, com 118/120 cv (G/E) de potência e 16,2 kgfm (G/E) de torque. O câmbio aqui é só manual.

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Só a inédita versão de topo, batizada de Outsider, assim como no Kwid, tem o privilégio de rodar com o propulsor 1.3 turboflex, também quatro-cilindros, porém com injeção direta de combustível, de 162/170 cv (G/E) e 27,5 kgfm (qualquer combustível). Neste caso, a caixa é CVT. Confira os preços:

Renault Oroch Pro 1.6 MT 2023: R$ 105.800 

Renault Oroch Intense 1.6 MT 2023: R$ 111.300

Renault Oroch Outsider 1.3 TCe AT 2023: R$ 137.100

Vale lembrar que a usina 1.3 TCe foi desenvolvida em parceria com a Mercedes-Benz, enquanto o câmbio automático continuamente variável simula oito trocas. A tração é sempre dianteira e a fabricante não demonstra intenção de lançar uma configuração 4x4 no Brasil tão cedo.

Foi justamente a novata versão Outsider turbo que a Mobiauto experimentou durante o pré-lançamento da Oroch 2023. A gente te conta todas as novidades e como ela roda neste artigo.

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Visual, acabamento interno e espaço

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

O visual da Renault Oroch não mudou muito. A maquiagem é basicamente a mesma aplicada no Duster indiano de primeira geração, com uma grade mais larga e dotada de detalhes cromados nas divisórias internas filetadas, além de aplique escurecido nos faróis. Que, por sinal, são iguais a antes e seguem halógenos.

O pára-choque foi remodelado na parte inferior, para aumentar o ângulo de ataque em 1,5°, chegando a 27,5°. A picape ainda ganhou os característicos faróis auxiliares saltados do Duster, que deixam a versão com uma pegada bem fora de estrada.

As rodas de liga leve de 16 polegadas têm design inédito nesta versão e pintura bicolor com acabamento diamantado. Na traseira, a caçamba leva a assinatura Oroch não mais como um letreiro saltado e cromado logo abaixo do logotipo, mas sim através de adesivos na cor preta.

As lanternas com guias de LED também preservam o mesmo desenho de outrora, mas agora estão escurecidas, casando com o visual dos faróis e dos para-choques. O santantônio é em plástico rígido.

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Por dentro, o painel é quase idêntico ao do Duster, mas com uma diferença: o quadro de instrumentos vem do Captur. Além disso, a picape recebe uma faixa horizontal alaranjada ao centro da peça para se diferenciar, ao mesmo tempo em que a central multimídia saiu do centro para o topo do painel, tornando-se flutuante.

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Os bancos dianteiros têm sempre ajustes manuais de altura e profundidade, são revestidos em material sintético e só o motorista ganha um apoia-braço. Eles são bem macios e deixam os passageiros confortáveis, só que o espaço interno não é tão generoso quanto o do Duster. 

Tanto que se os passageiros da primeira fileira forem espaçosos, os de trás ficarão com as pernas apertadas, mesmo a Oroch tendo um entre-eixos praticamente 15 cm maior que o do irmão. Afinal, sua cabine (sempre dupla e com quatro portas) é encurtada, a fim de comportar uma caçamba lá atrás.

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Dimensões: 4.719 mm de comprimento, 2.829 mm de entre-eixos, 1.834 mm de largura, 1.634 mm de altura, 683 litros de caçamba, 650 kg de capacidade de carga, 45 litros de tanque de combustível, 1.432 kg de peso em ordem de marcha.

Dados técnicos: direção eletro-hidráulica, suspensão independente McPherson (dianteira) e McPherson multilink (traseira), freios a discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira), diâmetro de giro não divulgado, coeficiente aerodinâmico não divulgado, 212 mm de vão livre do solo, 27,5º de ângulo de ataque, 22,4º de ângulo de saída, ângulo central não divulgado, pneus 215/65 R16.

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Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Desempenho é o ponto forte

Falar da Oroch Outsider faz mais sentido quando começamos pelo motor. O coração da picape tem bom apetite e deixa a versão ágil, tornando-a mais legal que os próprios Duster e Captur equipados com o mesmo motor.

Foram poucos minutos de contato para avaliar como ela se comporta na cidade, mas na estrada o desempenho sobra. O fato de a Oroch ser mais de 200 kg mais leve que a Toro ajuda e muito nessa questão.

Tanto que a picape da Renault acelera de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos, sendo 1 segundo mais rápido que a rival da marca italiana. Contra Duster e Captur 1.3 turbo, ela leva apenas 0,6 segundo a mais na mesma prova.

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Motor: 1.3, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, flex, injeção direta de combustível

Taxa de compressão: 10,5:1

Potência: 162/170 cv (G/E) entre 5.500 rpm e 6.000

Torque: 27,5 (G/E) kgfm a 4.000 rpm

Peso/potência: 8,8/8,4 (G/E) kg/cv

Peso/torque: 52 kg/kgfm

Câmbio: automático do tipo CVT, 8 marchas simuladas

Tração: dianteira

0 a 100 km/h: 9,8 segundos

Velocidade máxima: 187/189 km/h (G/E) 

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Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Durante o trajeto em estrada sinuosa, a carroceria pouco arrastou nas curvas. Na estrada de terra, as suspensões independentes nos dois eixos (McPherson à frente, MultiLink atrás) trabalharam bem e enfrentaram os obstáculos com mais suavidade que as picapes médias com suspensão do tipo eixo rígido, por exemplo.

Não há muito refinamento no conjunto, como já é de costume nos Renault de origem Dacia com plataforma B0, mas o bom nível de robustez já é conhecido.

A direção eletro-hidráulica também tem a finesse de uma caixa com assistência só elétrica, tanto que causa estranheza no começo por parecer pesada demais e um pouco imprecisa - há um certo delay entre o comando de esterço e a reação efetiva do veículo.

Com o tempo, porém, o condutor vai se acostumando, a ponto de achar o fato de ela ser mais pesadinha um fator que combina mais com uma picape desse porte do que uma direção totalmente leve e anestesiada.

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Apenas a vedação da cabine deixou a desejar, como já ocorria antes. O ruído da rolagem dos pneus e do próprio motor é alto no habitáculo, tanto que dá para ouvir até o respiro do turbo dentro do veículo - algo que nunca havia acontecido em outros carros turbinados de fábrica testados por mim na Mobiauto.

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Anda mais e bebe menos

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Não só a nova Oroch TCe é mais rápida, conforme já apontamos, como é mais econômica que a Fiat Toro Turbo 270. 

Aqueles quilinhos a menos citados acima, além do porte menor, fazem a diferença nesses dois quesitos, junto ao câmbio automático do tipo CVT, que costuma ser mais leve e comedido na sede do que uma caixa epicíclica.

Na comparação com a Toro Freedom, a Oroch só não leva a melhor em ciclo rodoviário abastecida com gasolina. Confira:

Consumo Renault Oroch Outsider 1.3 TCe: 7,4 km/l com etanol e 10,5 com gasolina, na cidade; 7,8 km/l com etanol e 11 km/l com gasolina, na estrada. 

Consumo Fiat Toro Freedom Turbo 270: 6,6 km/l com etanol e 9,5 km/l com gasolina, na cidade; 8 km/l com etanol e 11,2 km/l com gasolina, na estrada.

Tecnologias e segurança

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

A central multimídia de 8 polegadas flutuante é o principal destaque. Muito mais bem posicionada que no Duster, num campo de visão melhor para o motorista, o sistema de entretenimento conecta Android Auto e Apple CarPlay sem fio. A interface, intuitiva, é a mesma já vista em outros modelos da marca. 

O problema é que, nessa posição, a tela fica mais exposta ao calor. Durante os testes, sob forte sol, recebemos alguns avisos de superaquecimento, mas o sistema não chegou a travar como a VWPlay. Questionamos a Renault se o sistema possui isolamento térmico, mas não obtivemos resposta.

O cluster, como já contamos, é o mesmo do Captur, com mostradores analógicos nas extremidades e uma pouco empolgante tela central digital monocromática para computador de bordo e velocímetro digital. 

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Durante a avaliação, a nova Oroch Outsider levava carregador por indução, mas a Renault não oferecerá o item nem como opcional. Será acessório. Uma pena, porque ele funciona bem e deixa o celular fixado corretamente, mesmo em movimento constante, sem fugir do nicho ou perder a carga.

Em relação à segurança, a picape segue deixando a desejar por não oferecer nenhuma assistência ativa à direção. Mesmo na versão de topo, a Oroch ganhou apenas controle de estabilidade e tração, que serão obrigatórios a partir de 2024, assistente de partida em rampa e sistema anti-capotamento.

Nem o famoso sistema de câmeras de auxílio à manobra, presente no Duster e no Captur, foi adotado pela picape. Uma lástima.

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Itens de série - Renault Oroch Outsider 1.3 TCe 2023

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

Visual: grade dianteira com detalhes cromados, retrovisores e maçanetas com acabamento em preto brilhante, faróis de milha auxiliares, bancos com revestimento em couro sintético, rodas de liga leve diamantadas, grade no vidro traseiro, capota marítima, santantônio, barras longitudinais no teto.

Conforto: ar-condicionado automático e digital, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores com ajustes elétricos, pneus verdes de uso misto.

Tecnologia: sensor crepuscular e de chuva, central multimídia de 8 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, quadro de instrumentos analógico com computador de bordo digital.

Segurança: airbag duplo, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, sistema anti-capotamento, star-stop, protetor de caçamba, sensor de estacionamento traseiro.

Conclusão

Picape se descola do SUV e empolga com motor TCe, mas segue pequena e simples demais para encarar a Fiat Toro.

A Renault Oroch abriu o segmento, mas deixou a Fiat Toro dominar o mercado das picapes compactas-média. Agora, tenta definitivamente povoar um pretenso espaço entre suas versões mais básicas e as mais caras da Strada.

O ponto menos empolgante é que o modelo segue com uma lista de equipamentos demasiadamente enxuta, mesmo na versão Outsider, a mais cara da gama. Por outro lado, basta acelerá-la para reconhecer que, pelo menos em desempenho, com motor turbo, ela está revigorada como nunca esteve.

Com esse motor e um visual mais descolado, tanto por fora quanto por dentro, a picape talvez tenha ficado mais estilosa e legal que o próprio Duster. Quem sabe não era disso que ela precisava: se descolar ao máximo do irmão SUV.

Imagens: Marcelo Machado/Renault /Mobiauto - Artes Placas - Renan Bandeira/Mobiauto

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