Como o modismo faz brasileiro transitar entre carros americanos e europeus

Numa família, do avô ao neto, a origem dos automóveis foi cambiando em cada geração, de acordo com as novas preferências
BF
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11.04.2022 às 16:38
Numa família, do avô ao neto, a origem dos automóveis foi cambiando em cada geração, de acordo com as novas preferências

Foram duas reviravoltas no mercado brasileiro de automóveis. Enquanto importador, fiel ao padrão norte-americano. Quando passou a fabricar, aderiu aos europeus. E agora, sucumbe novamente ao padrão dos EUA.

Conteúdo em parceria com o Auto Papo

Antes de se implantar nossa indústria automobilística, na década de 60, praticamente só se importavam marcas norte-americanas. Só dava Chevrolet, Ford e Dodge. Contavam-se nos dedos os europeus.

Quando surgiram as primeiras fábricas de verdade (Ford e GM eram simples montadoras de peças), os modelos bem-sucedidos eram derivados dos europeus. Nosso mercado sempre foi muito mais atrelado a VW Fusca, Ford Corcel, Chevrolet Monza e Fiat Palio do que a Ford Maverick, Dodge Dart ou Ford Galaxie.

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A diferença fundamental entre os carros europeus e americanos

Numa família, do avô ao neto, a origem dos automóveis foi cambiando em cada geração, de acordo com as novas preferências
Escola europeia se notabilizou por modelos compactos e racionais

Há uma diferença fundamental entre modelos da Europa e dos EUA, que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Os europeus desenvolveram modelos mais compactos, com mecânica mais sofisticada e eficiente que os americanos.

Reflexo da própria economia de cada um: os automóveis produzidos nos EUA, enormes, beberrões, com exagero de dimensões e cromados, refletiam o poder da economia norte-americana. Dólares em profusão, gasolina mais barata que água mineral.

Enquanto isso, os europeus se restabeleciam das ruínas da guerra, com fábricas e economias destruídas. Tudo era escasso, principalmente na Alemanha. A BMW chegou a produzir um carro semelhante à nossa Romi-Isetta, a BMW-Isetta, menor que o Fusca.

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Já os "barcos" americanos, como o Dodge Dart, têm como característica o porte generoso e os motores beberrões 

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Mas, com seu incrível poder de recuperação (e uma mãozinha do plano Marshall…), a Europa foi se restabelecendo, aperfeiçoando e modernizando seus automóveis. Sem fugir da filosofia básica de capricho na mecânica, tecnologia e eficiência, contenção de peso e otimizando a relação custo-beneficio.

Nada de gigantescos motores V8 de 5 e 7 litros equipando “lanchas” de cinco a seis metros de comprimento pesando mais de duas toneladas

Os carros europeus eram equipados com eficientes máquinas de baixa cilindrada, como os da Opel, VW, BMW, Alfa Romeo, Rover, Fiat. E desenvolviam quase a mesma potência de Fords e Chevrolets, apesar de consumir a metade. 

Os cavalos que faltavam aos europeus eram compensados por centenas de quilos a menos, caixas manuais com duas marchas mais que as automáticas de três velocidades dos americanos.

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Brasil era retrato da Europa

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Brasil adaptou a paixão dos americanos por utilitários com a racionalidade europeia para criar a picape compacta

A economia brasileira era muito mais um retrato da europeia, o que se evidenciava pelo panorama de nossas ruas nas décadas de 60 a 80: quase só modelos da VW, Fiat, Alfa Romeo, Simca e Opel (braço europeu da GM). Da Ford, que fabricava europeus (Corcel, Del Rey, Escort) e americanos (Willys, Maverick e Galaxie).

A Dodge, com uma linha nos EUA (Dart) e outra inglesa (Polara). E, com a crise do petróleo da década de 70, sumiram os grandes americanos, como Dart e Galaxie.

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O único modelo norte-americano que fazia sucesso por aqui e quase desconhecido na Europa era a picape grande. Durante anos, só se produziu Chevrolet (C-10) e Ford (F-100), até que a Fiat teve a brilhante ideia de lançar em 1978 uma picape inexistente no mundo, derivada de um compacto, a 147 Pick-up. Logo o conceito foi copiado por GM, Ford e VW.

Nos EUA, a conversa é outra e o motorista é apaixonado pelas picapes médias e grandes: Ford Ranger lá é “pequena”. Aliás, no típico exagero norte-americano, Honda Civic é classificado como “compacto”. Renault e Fiat quebraram a cara ao tentar vender seus modelitos por lá. Citroën e Peugeot nem tentaram.

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O fator SUV…

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A paixão pela picape levou a uma variação sobre o tema, o controverso SUV ou utilitário esportivo. O europeu ainda resiste a ambos, mas o brasileiro se encantou a aderiu a esse inexplicável modismo.

Não existe carro mais prático para a família que a perua, ou station-wagon, em inglês. Que caiu em total desuso por aqui, eliminada do mapa – assim como os hatches médios – pelos SUVs. 

No Brasil, o avô tinha um Chevrolet 1951. O filho, uma Opala Caravan. O neto adora a Blazer… Não pergunte a um brasileiro o que o levou a trocar as peruas Toyota Fielder ou Fiat Weekend, pagando muito mais por um Toyota Corolla Cross ou Fiat Pulse: decisões emocionais são inexplicáveis.

P.S. Eu me recuso a ceder e abrir mão do racional: meu carro de uso é um sedan alemão. E, entre os de coleção, pode conferir nos vídeos do YouTube: só dá europeu. Quer um exemplo da coleção? Esta belíssima Alfa Romeo Montreal. Veja o vídeo:

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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