Avaliação: Renault Kwid Zen, o que tem o carro mais barato do Brasil?

Por R$ 60.000, subcompacto une desempenho esperto na cidade a doses homeopáticas de conforto e tecnologia e a itens que parecem vindos dos anos 90
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15.03.2022 às 10:00
Por R$ 60.000, subcompacto une desempenho esperto na cidade a doses homeopáticas de conforto e tecnologia e a itens que parecem vindos dos anos 90

Entusiastas de carros antigos costumam dizer que um veículo do passado, sem direção assistida, vidros elétricos ou qualquer um desses itens de comodidade, é “formador de caráter”. Se há algum modelo do presente que mais se aproxime dessa proposta, é o Renault Kwid Zen 2023. Que, por sinal, é o atual carro mais barato do Brasil.

Por pouco mais de R$ 60.000, se incluirmos na conta a pintura metálica de R$ 1.500 presente na unidade que avaliamos, o Kwid Zen surpreende com um desempenho muito esperto para uso na cidade. Instaladores de serviços de internet e TV por assinatura não terão do que reclamar nesse sentido.

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Possui, ainda, doses homeopáticas de conforto e tecnologia, mas também carrega alguns itens que parecem nos fazer viajar no tempo de volta aos anos 1990. Sim, sabemos que os preços de todos os carros no país estão caros, e pagar R$ 60.000 em um subcompacto de entrada não está nos sonhos de nenhum cidadão brasileiro.

Mas, sem querer bancar os advogados do diabo, já bancando, não focaremos nossas impressões sobre o Kwid Zen nessa questão. Até porque ele pode custar caro, mas ainda tem um custo-benefício interessante se observarmos que um VW Gol 1.0 MPI com lista similar de equipamentos sai por mais de R$ 70.000.

Aqui, o objetivo será mais leve: que tipos de equipamentos o carro mais barato de nosso mercado em 2022, único que ainda resiste com uma etiqueta mínima abaixo de R$ 60.000, é capaz de oferecer? Se você está tão curioso quanto a gente para saber essa resposta, basta seguir os parágrafos abaixo. 

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Renault Kwid Zen 2023 – Preço: R$ 59.090. Pintura Prata Étoile: R$ 1.500.  Total: R$ 60.590.

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Design, conforto, acabamento e espaço interno 

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Já discorremos detalhadamente sobre como é o Kwid 2023 visualmente e em termos de acabamento interno e espaço para os ocupantes nesta avaliação de lançamento, quando rodamos com a versão intermediária, Intense

Lá, apontamos que o pequenino SUV – uma reestilização das linhas anteriores, portanto sem mudança de carroceria ou dimensões – proporciona vãos para pernas e cabeças maiores que os de Gol e Fiat Mobi. Outra vantagem está no porta-malas, com ótimos 290 litros de volume.

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Ainda assim, o espaço num geral é acanhado, mais ainda para os ombros. Afinal, o Kwid é um carro muito estreito. Esbarrar os braços nas portas ou as pernas no console central é algo comum, mesmo para uma pessoa de 1,70 m de altura, caso deste escriba. Por isso mesmo, os apoiadores e puxadores das portas laterais são demasiadamente curtos.

Esteticamente, a versão Zen perde adereços que deixam as opções mais caras da gama um pouco mais requintadas. À frente, a grade é toda em preto fosco, sem as barras cromadas encravadas no topo. Pelo menos o DRL segue de LED na parte superior do conjunto óptico.

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Nas laterais, não há pintura bicolor de teto nem adesivos nos “gomos” que se desenham na base das portas. Os quatro conjuntos roda-pneu possuem as mesmas especificações das versões superiores (165/70 R14), incluindo rodagem com apenas três furos, mas as rodas são sempre de aço com calota escurecida.

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Atrás, o Kwid Zen ganhou refletores entranhados no para-choque, como no restante da linha 2023, mas as lanternas têm o mesmo arranjo interno pré-facelift, o que significa que não possuem guias de LED. 

Por fora, a abertura do porta-malas se dá apenas pelo encaixe e giro da chave, sem nenhum tipo de auxílio elétrico. Pelo menos é possível abrir o compartimento de dentro do habitáculo, através de uma alavanca à esquerda do banco do motorista (junto com o bocal do tanque de combustível). 

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Felizmente, a tampa do bagageiro já possui braços por mola a gás para amortecimento. Os contornos da chapa metálica expõem a simplicidade do projeto, com soldas e parafusos aparentes. Pelo menos o compartimento, em si, é todo forrado, mesmo na versão de entrada. Só que o triângulo de sinalização ocupa um cantinho do bagageiro, pois faltou espaço para ele no local do estepe.

Abrindo o capô, vemos manta acústica e diversos enxertos de espumas para conter vibrações da própria tampa e a invasão de ruídos do motor na cabine. Ao mesmo tempo, a bateria é surpreendentemente revestida por um conjunto de forros unidos por velcro, enquanto o cabeçote é vedado por uma peça de... isopor.

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Internamente, o Kwid Zen perde os elementos em cromo e preto brilhante nas maçanetas, manopla de câmbio (que é igual à dos anos-modelos anteriores), console central e painel. Tudo isso deixa a cabine do Kwid Zen 2023 com predominância de um tom preto fosco, sem contrastes e com cara de carro de entrada.

Por outro lado, é preciso dizer que as peças são aparentemente bem encaixadas. Há alguns vãos pelo painel, mas sem desalinhamentos grosseiros como o do porta-luvas do Fiat Pulse, por exemplo. Se as peças não se soltarem ao longo do tempo, como alguns clientes reclamam em unidades de anos-modelos anteriores, será um bom avanço.

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Há, ainda, rádio com tela monocromática de luz azul no lugar de central multimídia, pinos nas quatro portas (apesar de as travas serem elétricas), manivelas para abertura manual dos vidros traseiros e chave com pantógrafo fixo. Tudo isso cria a já referida conexão com a década de 90.

Falando em bancos, os traseiros não são bipartidos e sim inteiriços, mas possuem rebatimento. O do motorista não oferece regulagem de altura, assim como o volante não é multifuncional nem dispõe de qualquer tipo de ajuste. Pelo menos o revestimento em tecido, embora simples, é de bom gosto, com costuras vermelhas e miolo xadrez. 

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O Kwid Zen conta ainda com direção elétrica (bem leve, por sinal) e ar-condicionado, mas há apenas um limpador de para-brisa e os retrovisores externos são manuais – ou seja, mudar a angulação do espelho direito dependerá de braços longos ou da boa vontade do passageiro. 

Dimensões:  comprimento, 3.680 mm; largura, 1.579 mm; altura, 1.479 mm; entre-eixos, 2.423 mm. Porta-malas: 290 litros. 

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Desempenho, consumo e dirigibilidade

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Pudemos dirigir o Kwid Zen ao longo de uma semana pelo trânsito sempre caótico de São Paulo (SP), e constatamos que o modelo ficou mesmo mais esperto na linha 2023. As mudanças aplicadas pela Renault no motor 1.0 SCe, já explicadas aqui, foram pontuais: sensor de fase e central eletrônica recalibrados.

Todavia, o subcompacto desenvolve muito bem nas arrancadas e retomadas, sem demandar muitas reduções de marcha mesmo a giros mais baixos. Com a vantagem de ter dimensões muito compactas, sendo extremamente fácil de manobrar. Só não conte com nenhum tipo de sensor de estacionamento ou câmera: a baliza terá que ser mesurada no velho “olhômetro”.

Motor: 1.0, dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12V, aspirado, flex, comando único de válvulas, injeção eletrônica multiponto, taxa de compressão 11,5:1
Potência: 68/71 cv (G/E) a 5.500 rpm
Torque: 9,4/10 kgfm (G/E) a 4.250 rpm
Peso/potência: 12,1/11,6 kg/cv (G/E)
Peso/torque: 87,8/82,5 kg/kgfm (G/E
Câmbio: manual, 5 marchas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 13,5/13,2 segundos (G/E)
Velocidade máxima: 159 km/h (E) e 160 km/h (G)

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Até 90 km/h, máxima permitida nas marginais expressas da maior cidade do país, tudo transcorre com positiva agilidade. A partir disso, o propulsor de apenas 71 cv com etanol começa a demonstrar falta de elasticidade, mostrando que rodar com o Kwid em rodovias continuará sendo um exercício de resiliência.

A velocidades mais altas, a carroceria extremamente leve, com pouco menos de 800 kg – constata-se isso pela leveza e finura das portas –, os pneus com banda de rodagem estreita e as suspensões demasiadamente permissivas em termos de inclinação comprometem a estabilidade e a sensação de segurança.

O câmbio manual de cinco marchas segue o mesmo de outrora, assim como as suspensões (tipo McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira) e os freios (por discos ventilados à frente desde a linha 2020 e tambores atrás), conforme explicamos na avaliação da versão Intense. Lá, também discorremos sobre o isolamento acústico precário do modelo.

Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e eixo rígido com molas helicoidais (traseira); freios a disco ventilados (dianteira) e tambor (traseira); peso em ordem de marcha, 818 kg; carga útil, não divulgada; diâmetro de giro, 10 m; vão livre do solo, 185 mm; ângulo de ataque, 24,1°; ângulo central não divulgado; ângulo de saída, 41,7°. Tanque de combustível: 38 litros; pneus 165/70 R14.

Talvez a maior vantagem do Kwid esteja no consumo de combustível. Em nossa avaliação, obtivemos 9,9 km/l com etanol em perímetro urbano. Pode parecer pouco, mas a verdade é que rodamos sem nenhuma preocupação com economia, tentando extrair ao máximo sua agilidade nas retomadas, e com o ar-condicionado o tempo todo ligado.

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Só não gostamos da atuação do start-stop, pois o processo de desligue e religue automático do motor em paradas breves se dá de modo abrupto, com trancos, o que chega a irritar. Ainda assim, mantivemos o sistema ligado o tempo todo, o que contribuiu para o número alcançado.

Consumo Inmetro: 10,8 km/l (E) e 15,3 km/l (G) na cidade / 11 km/l (E) e 15,7 km/l (G) na estrada.
Consumo Mobiauto: 9,9 km/l na cidade com etanol.

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Segurança e tecnologia

Segurança e tecnologia são oferecidas de forma comedida pelo Kwid Zen 2023. Mas há pontos positivos, como os quatro airbags, o controle eletrônico de estabilidade, o monitoramento de pressão dos pneus, o aviso de não afivelamento dos cintos em todas as posições e os indicadores de temperatura externa e de troca de marchas no quadro de instrumentos.

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Este último possui o mesmo desenho das versões mais caras, com grafismos agradáveis nos mostradores analógicos e uma boa tela digital monocromática de LED ao centro – melhor até que a do primo maior Captur.

Só não espere encontrar comandos satélites para o sistema de som à direita da coluna de direção, ausente na versão Zen. O rádio possui pareamento via Bluetooth, mas conseguir fazê-lo conectar é exercício de paciência, pois os comandos são todos muito pouco intuitivos, mesmo para a troca de estações.

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Há, ainda, direção assistida, travas elétricas e vidros elétricos só dianteiros, mas fica só nisso. De resto, o Kwid Zen 2023 é um carro simples como já se esperaria da versão de entrada do carro mais barato do Brasil, mesmo que ele custe R$ 60.000.

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Renault Kwid Zen 2023 – Itens de série

Além dos obrigatórios airbags frontais, freios dianteiros com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem), cintos de segurança de três pontos em todas as posições, encostos de cabeça em todas as posições e ganchos Isofix para cadeirinhas infantis, o Kwid Zen 2023 vem de série com:

Visual: Luzes de circulação diurna em LED (DRL), 

Conforto: direção elétrica, ar-condicionado, travas elétricas das portas, vidros dianteiros elétricos; abertura interne de porta-malas e tanque de combustível; retrovisores com regulagem manual; banco traseiro inteiriço rebatível.

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Tecnologia: painel de instrumentos com mostradores em LED; Stop/Start; monitoramento da pressão dos pneus (TPMS); indicador de temperatura externa; rádio Continental 2DIN (Bluetooth, USB, AUX) com dois alto-falantes.

Segurança: 4 airbags (2 frontais e 2 laterais), controle eletrônico de estabilidade (ESP), assistente de partida em rampa (HSA), aviso de cintos de segurança não afivelados no banco traseiro.

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Conclusão

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Se carro simples forma caráter, o Kwid Zen 2023 faz isso com louvor em detalhes como os vidros traseiros por manivela, os retrovisores manuais, o rádio arcaico, a abertura externa do porta-malas só pela chave, o espaço acanhado para os ombros e a impossibilidade de se promover qualquer mudança na altura do banco do motorista ou na posição do volante.

Por outro lado, ele até surpreende com agrados como a direção elétrica levinha, o câmbio de engates longos, mas justinhos, as travas elétricas, os airbags laterais, o controle de estabilidade e o start-stop, além de um desempenho satisfatório para uso em ambiente urbano.

É caro? Sim, como qualquer carro zero-quilômetro hoje. Replicará as mesmas fragilidades de projeto das linhas anteriores do Kwid? Isso só o tempo dirá. Mas, como versão com foco em vendas para frotas, aparentemente os instaladores de internet e TV por assinatura poderão até andar apertados, mas não terão desculpa para não chegar a tempo ao local do serviço.

Imagens: Murilo Góes/Mobiauto

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