Avaliação: como anda o Mercedes GLA com o mesmo motor do novo Captur

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?
Renan Bandeira
Por
14.07.2021 às 20:15
SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

A Mercedes-Benz encerrou a produção nas instalações de Iracemápolis (SP) em dezembro do ano passado e, com isso, decretou o fim da produção nacional do SUV GLA e do sedan Classe C, que passaram a ser importados desde o início deste ano.

Com isso, o GLA de segunda geração, que substituiu o SUV montado nacionalmente, chegou ao país apenas importado e com a etiqueta bem mais salgada: R$ 325.900 - cerca de R$ 120 mil a mais do que era cobrado pelo antecessor nacional. 

Mas a importação do modelo não é de toda ruim, já que o mercado nacional começa a receber um veículo alinhado ao disponível no mercado europeu, com mais equipamentos e um moderno motor 1.3 turbo a gasolina no lugar do já cansado 1.6 turbo que compunha a primeira geração.

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O novo trem de força foi construído em parceria com a Renault e, inclusive, equipa o recém-lançado Captur 2022 - que a Mobiauto já testou, veja aqui como ele anda. A tal parceria faz os puristas torcerem o nariz quando o assunto é qualidade e desempenho, mas será que o novo GLA 200 perdeu desempenho com esse motor? 

Nossa reportagem rodou com o SUV na versão única de acabamento, AMG Line, para responder essa pergunta. Veja:

Motor, desempenho e consumo: GLA 200 x Captur

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

O motor 1.3 turbo do GLA 2021 é movido apenas a gasolina, receita um tanto diferente daquela adotada pela Renault com o novo Captur, que utiliza uma especificação flex dessa mesma usina. 

No caso do Mercedes, a calibração é de 163 cv e 25,5 kgfm, sendo 1 cv a mais, porém 2 kgfm a menos do que o Captur 1.3 TCe quando abastecido com gasolina. Quando o SUV da Renault bebe etanol, a potência sobe para 170 cv e o torque segue nos mesmos 27,5 kgfm. Compare os números.

Captur 2022: 1.3 turboflex de 162 (G)/ 170 (E) cv (entre 5.500 e 6.000 rpm) e 27,5 kgfm de torque (E/G) (entre 1.600 e 3.750 rpm) com câmbio automático do tipo CVT que simula oito marchas. 9,2 (E) / 9,5 (G) segundos no 0 a 100 km/h e 190 km/h de velocidade máxima.

GLA 200 2021: 1.3 turbo a gasolina 163 cv (5.500 rpm) e 25,5 kgfm (entre 1.620 e 4.000 rpm) com câmbio automatizado de sete marchas com dupla embreagem. 8,7 segundos no 0 a 100 km/h e 210 km/h de velocidade máxima.

Para acalmar o coração dos amantes da marca alemã da estrela de três pontas, podemos observar que o desempenho do novo GLA com o mesmo propulsor é surpreendentemente superior, embora não com a margem de diferença que o visual esportivo faria crer. 

O Captur entrega mais potência com etanol e mais torque com qualquer combustível, mas o GLA ainda o supera em 0,5 segundo na aceleração de 0 a 100 km/h, e em 20 km/h na velocidade máxima. Isso mesmo com os 2 kgfm a menos de torque e os 119 kg a mais de peso. Qual o segredo?

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Claro que o desempenho do Mercedes não chega perto ao dos AMG raiz, mas ainda é mais favorável que o do Captur especialmente por causa de sua aerodinâmica superior, com coeficiente de atrito de apenas 0,3 Cx, contra 0,37 Cx do Captur. Isso ajuda, e muito, na movimentação mais fluida do carro.

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

Esse aspecto também auxilia no consumo, outro item em que o SUV alemão apresenta superioridade em relação ao irmão de coração:

Captur 2022: 7,5 km/litro na cidade e 8,3 km/litro na estrada abastecido com etanol / 11,1 km/litro na cidade e 12 km/litro na estrada com gasolina. 

GLA 200 2021: 10,4 km/litro na cidade e 14 km/litro na rodovia abastecido com gasolina.

Aqui, temos outro componente protagonista para os números melhores do GLA. O câmbio CVT, mesmo sendo voltado ao conforto e economia, não é tão eficiente quanto o automatizado da Mercedes em consumo na estrada. Por isso o Captur até consegue ser mais econômico em uso urbano, mas não no rodoviário. 

O funcionamento de uma caixa automatizada é mais próximo do encontrado na transmissão manual, com trocas de marchas feitas pela dupla de embreagens e não pelo conversor de torque ou pelo deslizamento das polias nas hastes cônicas, como nos automáticos ou continuamente variáveis. 

Os componentes eletrônicos que controlam a caixa compreendem melhor o momento ideal de realizar trocas de marcha, e o veículo desperdiça menos energia. O problema, claro, é que a manutenção de uma caixa de dupla embreagem banhada a óleo é sua manutenção mais cara e complexa. 

Por isso seu uso se encaixa melhor em um SUV premium, como o Mercedes GLA, e não em um generalista, como o Renault Captur.

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Além disso, o motor que empurra o GLA é regulado para funcionar apenas com gasolina, que permite o ajuste único e mais preciso da taxa de compressão, que é 10,6:1. Enquanto isso, os motores flexíveis utilizam uma taxa média para explodir os dois combustíveis com eficiência similar, prejudicando a precisão no momento da queima. A do Captur é de 10,5:1.

Dirigibilidade e conforto

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

Rodando, o Mercedes vai “muito bem, obrigado”. Embora a capacidade volumétrica do motor seja pequena, ele tem acelerações fortes e boas retomadas de velocidade, seja em perímetro urbano ou rodoviário, até mesmo no modo Eco. No Sport, o propulsor trabalha em giros maiores e instiga o motorista a pisar mais fundo.

A sensação é quase a de estar conduzindo um hatch. As novas dimensões deixaram o SUV com bitolas maiores, mais largo e mais curto, dando uma boa performance e estabilidade ao veículo, que não desliza em curvas e mantém o carro sempre na trajetória e sem sustos. 

Dados técnicos: direção elétrica; suspensão independente McPherson na dianteira e multilink na traseira; freios a discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira; 143 mm vão livre do solo entre os eixos; ângulo de ataque 18,3°; ângulo central 14,4º; ângulo de saída 22,1°; carga útil 600 kg; rodas de 20 polegadas; Cx: 0,3.

Apesar do perfil relativamente baixo para um SUV, os balanços dianteiro e traseiro curtos oferecem ângulos de ataque e saída decentes para enfrentar subidas e descidas, garantindo que o proprietário não vá se enroscar em valetas ou pisos muito irregulares.

A assistência da direção é calibrada na medida certa, com leveza para as manobras de estacionamento e firmeza a velocidades mais altas. 

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

Já as suspensões, independentes nos dois eixos, absorvem bem as imperfeições do asfalto. Mesmo as rodas de 20 polegadas com pneus de perfis um tanto baixos não geram desconforto aos ocupantes.

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Por dentro, a boa vedação acústica do habitáculo aprimora o conforto, mantendo os passageiros bem protegidos do ruído externo. Além disso, o ar-condicionado possui duas zonas e dutos de ventilação para a segunda fileira. Há, ainda, um apoia-braço dianteiro.

Entretanto, quando a carroceria recebe algum tipo de torção, os plásticos do interior estalam, comportamento geralmente visto em veículos mais baratos.

Visual externo e acabamento interno

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

A Mercedes apostou em um visual mais jovem e esportivo para o GLA, alinhando o design com os demais veículos vendidos pela marca. 

A dianteira é a parte que chama mais atenção, com faróis full-LED bem desenhados e mais modernos que os da geração anterior. A grade frontal é pintada em preto brilhante com pontilhados em prata, e as entradas de ar deixam o pára-choque com o formato de “A”.

Na traseira, destaque para as lanternas bipartidas mais afiladas, com iluminação de LED e design inspirado nos sedans da própria Mercedes. O SUV ainda ganhou vincos que deixam o pára-choque mais musculoso, duas saídas de escapamento e aerofólio integrado, que incrementam a esportividade.

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A silhueta relativamente baixa e aerodinâmica, os elementos decorativos da divisão AMG e as rodas de 20 polegadas aumentam a sensação externa de um carro esportivo. Porém, ao entrar no veículo, o ar de hatch é quebrado e temos a sensação de estar mesmo em um SUV premium. 

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

Sentando no banco do condutor, é possível notar a posição mais elevada para dirigir e também o acabamento sofisticado. As duas telas digitais de 10,25 polegadas, dispostas uma ao lado da outra em uma grande régua em preto brilhante, chamam muita atenção. 

A da esquerda serve como quadro de instrumentos, enquanto a da direita é a central multimídia. Ambas são envolvidas por acabamento macio ao toque que se replica nas portas e no console central.

Os bancos também se destacam pelo acabamento híbrido sofisticado, misturando faixas de couro e alcântara. Já as saídas de ar dianteiras, no característico formato arredondado que lembra turbina de avião, já não surpreendem como antes e  poderiam ser modernizadas, ganhando formas retangulares e horizontais. 

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O ponto negativo fica para a alavanca do câmbio, que, como em todos os Mercedes atuais, fica na coluna de direção como se fosse a chave do limpador de para-brisa. A peça é de plástico rígido e dá a sensação de que pode quebrar no acionamento. 

Dimensões e espaço interno

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

É só bater o olho no GLA para perceber que ele está mais alto e largo que a primeira geração (e olha que ele ainda não é tão alto assim para um SUV…). As dimensões confirmam isso:

GLA 2021: 4.410 mm de comprimento; 1.834 mm de largura; 1.611 mm de altura; 2.729 mm de entre-eixos; 1.605 mm de bitola dianteira; 1.606 mm de bitola traseira; 435 litros de porta-malas; Peso: 1.485 kg.

GLA 2020: 4.417 mm de comprimento; 1.804 mm de largura; 1.524 mm de altura; 2.699 mm de entre-eixos; 1.569 mm de bitola dianteira; 1.560 mm de bitola traseira; 421 litros de porta-malas; Peso: 1.435 kg.

Na prática, as mudanças significam uma melhora sensível de espaço interno, porta-malas, posição de dirigir e vão livre do solo.

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Tecnologia e segurança 

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

A central multimídia MBUX de 10,25 polegadas é sensível ao toque e compatível com Android Auto e Apple CarPlay, mas sua função mais legal é a interatividade do assistente de voz que é acionado pelo “Hey, Mercedes”. 

Este último compreende bem o que os passageiros solicitam em linguagem coloquial e atua conforme o esperado, permitindo ajustes como o controle do ar-condicionado, por exemplo, sem que seja necessário o tato do condutor.

A área digital ainda tem o painel de instrumentos 10,25 polegadas com alta resolução e 100% digital, que ainda pode ter o plano de fundo trocado com nova fonte numeral e novo desenho dos mostradores.

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O GLA ainda oferece teto solar panorâmico e elétrico, carregador de celulares por indução, acionamento elétrico do porta-malas, bancos dianteiros com ajuste elétrico e memória e portas USB do tipo C (nele já não há mais tomadas USB-A), para fechar o pacote de tecnologia.

No quesito segurança, os faróis full-LED garantem boa iluminação e maior visibilidade em estradas escuras. Além disso, o GLA 200 oferece um bom pacote de assistências ao motorista, que listamos logo abaixo.

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

De todos eles, o mais fascinante é o assistente de mudança de faixa, que atua de forma sutil e fluida, sem fazer o carro cambalear de um extremo ao outro da faixa e com alerta visual no cluster e vibração no volante. 

Também há o assistente de pedestre, que usa o alerta de ponto cego para avisar motorista e passageiro dianteiros sobre o momento ideal para abrir as portas e desembarcar em segurança, sem que haja algum veículo passando próximo.

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GLA 200 AMG Line - principais itens de série

VIsual: teto solar panorâmico e elétrico; rodas de liga leve de 20 polegadas; pacote visual da divisão esportiva AMG; spoiler traseiro integrado; banco em couro e alcântara; envolvente do painel com detalhes em fibra de carbono; faróis full-LED; lanternas de LED; volante multifuncional com base achatada.

Conforto: banco do motorista e passageiro com ajuste elétrico e memória; acionamento elétrico do porta-malas; espelhos retrovisores com sistema antiofuscante e rebatimento eletrônico

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Tecnologia: central multimídia MBUX de 10,25 polegadas compatível com Android Auto e Apple CarPlay e acionamento por comando de voz; painel de instrumentos de 10,25 polegadas 100% digital e com opções de plano de fundo; carregador de celular por indução;

Segurança: sete airbags; câmera de ré com guias; sensor de estacionamento dianteiro e traseiro; assistente de direção ativo; alerta de ponto cego; assistente de estacionamento; alerta de pedestre; assistente de mudança de faixa; piloto automático adaptativo; sensor de chuva; monitoramento de pressão dos pneus.

Conclusão

SUV compacto premium é empurrado pelo mesmo 1.3 turbo da marca francesa, entregando mais desempenho com menos torque. Como ele consegue?

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O GLA 200 AMG Line é um projeto bem trabalhado e bem acabado. A prova é vista no motor, que, mesmo com números inferiores aos do Captur, entrega na prática um desempenho superior. No entanto, passa longe da performance que se esperaria de um SUV que carrega a sigla AMG e custa mais de R$ 325 mil.

Mesmo sendo bem equipado, com motor moderno e eficiente, e trazendo boas evoluções em comparação com o GLA antigo, seus concorrentes também entregam boas novidades e pacotes de encher os olhos por um preço menor. 

Um Audi Q3 S Black Line, por exemplo, sai por R$ 277.990, enquanto um Volvo XC40 R-Design custa R$ 299.950 e um BMW X1 xDrive25i Sport, R$ 315.990. Isso complica a vida da Mercedes, já que o GLA era um dos produtos de maior volume no mercado. No ano passado, com projeto já defasado e clamando por renovação, o SUV vendeu 1.229 unidades. 

Neste ano, até o momento, não bateu 500 emplacamentos, e viu o irmão GLB, de sete lugares e com custo-benefício melhor, tomar o seu lugar como SUV mais comercializado pela Mercedes no Brasil.

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