Avaliação: Fiat Strada CVT sacrifica o carreto para rodar no conforto

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio
Renan Bandeira
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16.02.2022 às 20:30 • Atualizado em 09.03.2022
Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Em time que está ganhando se mexe? Para a Stellantis, sim. A Fiat Strada foi o veículo leve mais vendido em 2021 no Brasil, com quase 110 mil unidades emplacadas e uma boa vantagem contra o segundo colocado, o Hyundai HB20.

Se você pensa que a fabricante ficou satisfeita com isso a ponto de dormir em berço esplêndido, enganou-se. No fim do ano passado, lançou ainda na linha 2022 da picapinha duas novas versões, Volcano AT e Ranch AT, estreando a tão esperada configuração automática do modelo.

O câmbio, do tipo CVT (continuamente variável), simula sete marchas e vem aliado ao já conhecido motor 1.3 Firefly quatro-cilindros aspirado 8V flex. Este ganhou, ainda, uma nova calibração para atender às regras de emissão do Proconve L7. Contaremos os detalhes dessas mudanças mais adiante.

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Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Por ser mais pesada que a caixa manual de cinco velocidades, a automática CVT usada pelas versões da Strada possuem 50 kg a menos de capacidade de carga na caçamba: o número oficial caiu de 650 kg para 600 kg.

Com isso, a picapinha deixa um pouco de lado o trabalho árduo nessa configuração para ser uma opção confortável para uso no dia a dia.

Como dissemos, o conjunto 1.3 CVT herdado do SUV Pulse está presente em duas versões de acabamento: Volcano e Ranch. A primeira é idêntica à versão homônima com câmbio manual; a segunda, inédita, acrescenta novos detalhes visuais.

Foi justamente a nova Strada Ranch automática, nova opção mais cara versão da gama, que Mobiauto avaliou. Com pintura metálica, seu preço já orbita a faixa de R$ 120.000. Veja como ela anda e tudo que traz em nossa avaliação exclusiva, em vídeo e na sequência deste artigo mais abaixo.

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Fiat Strada Ranch AT 2022 – Preço: R$ 116.990 (fev/2022). Pintura Cinza Silverstone: R$ 2.450. Total: R$ 119.350

Visual e acabamento interno

 A cara da Fiat Strada é mais que conhecida, e já contamos como é o visual e o espaço interno da nova geração com cabine dupla e quatro portas aqui. Como novidades, a versão Ranch traz detalhes para se diferenciar da Volcano como, por exemplo, a base do pára-choque com um aplique em prata fosco.  

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

É na lateral, porém, que estão as principais diferenças estéticas: rodas de liga leve de 15 polegadas com novo desenho, assinatura “Ranch” nas etiquetas dos pára-lamas dianteiros, pára-barros dianteiros, estribos laterais e barras longitudinais de teto na cor prata.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Na traseira, há uma insígnia referente ao câmbio automático na parte direita da tampa da caçamba, onde também se encontra o nome da versão. Lá, a Fiat aplicou também sobre a caçamba uma capota marítima exclusiva.

O interior também tem novidades. O painel é igual a antes, todo em plástico rígido, mas conta com uma faixa horizontal marrom para amenizar a simplicidade. No entanto, faltou um pouco de cuidado com o acabamento das peças, que têm rebarbas à mostra e encaixes nem sempre alinhados.  

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

A assinatura Ranch abaixo da central multimídia é um charme extra. Os bancos vêm revestidos em couro sintético, também com o nome da versão nos encostos lombares dianteiros e com costuras que combinam com as cores do painel. Macios e confortáveis, são o ponto mais positivo da cabine.

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Desempenho em falta

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Desempenho não é o forte da nova Strada CVT. Um dos motivos é que o motor está mais fraco. Para atender ao Proconve L7, como dissemos, a Stellants eliminou 3 cv de potência e 0,5 kgfm de torque com gasolina do motor Firefly aspirado de 1,3 litro, sendo 2 cv e 0,5 kgfm com etanol.

Motor: 1.3, dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8V, aspirado, flex
Taxa de compressão: 13,2:1
Potência:  98/107 cv (a 6.250 rpm) (gasolina/etanol)
Torque: 13,2/13,7 kgfm (a 3.500 rpm) (gasolina/etanol)
Peso/potência: 12,6/11,5 kg/cv (gasolina/etanol)
Peso/torque: 93,2/90,1 kg/kgfm (gasolina/etanol)
Câmbio: automático do tipo CVT, simula sete marchas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 12,9 e 12 segundos (gasolina/etanol)
Velocidade máxima: 161/165 km/h (gasolina/etanol)

O segundo motivo está no próprio câmbio automático. A atuação desse tipo de caixa é mais voltada à eficiência e ao conforto, deixando de lado as respostas mais diretas do câmbio manual.

Para completar, a caixa CVT é mais pesada que a manual, o que reduz a capacidade de carga, como já dissemos, e torna as acelerações menos céleres com o veículo vazio.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

O resultado se vê nos números oficiais de 0 a 100 km/h: 12 segundos para a versão Ranch 1.3 AT, 0,8 s a mais do que consegue a Volcano 1.3 Manual. Falta apetite ao conjunto motriz em subidas íngremes, ultrapassagens na estrada e retomadas de velocidade.

Nessas situações, é necessário ter um pouco mais de paciência com a Stradinha, pois pisar fundo não vai ajudar. O motor aumentará a rotação, a picape berrará e o consumo de combustível aumentará, mas a resposta mais rápida não virá. 

Ainda sobre o câmbio, ele tem uma relação curta, assim como a configuração 1.3 manual, sendo programado para trocas rápidas das sete marchas simuladas, sem elevar muito o giro do motor caso as acelerações sejam mais lineares.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

O modo “Sport” pode ser uma saída para quem quer uma elasticidade maior do veículo. Quando acionado, ele muda o mapeamento do câmbio, aumenta as rotações em cerca de 500 rpm e melhora as respostas do acelerador. Até melhora as batalhas contra ladeiras, mas não as retomadas em rodovias.

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Conforto em alta

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Em contrapartida, a nova Strada automática entrega uma dirigibilidade prazerosa. 

Por ter um câmbio CVT, sem solavancos nas trocas simuladas, como nas caixas automáticas com conversor de torque, você até esquece que há um sistema de transmissão trabalhando com o motor.

Esquece, inclusive, que a versão Ranch oferece borboletas para trocas manuais das sete marchas simuladas atrás do volante. Com o foco em rodar com conforto e não com celeridade, para que acelerar as reduções ou retardar as subidas de marcha?

Mais do que isso, no uso diário você não se lembra que está dirigindo uma picape. A posição elevada de dirigir até nos aproxima da experiência de conduzir um SUV, só que em um veículo até mais versátil. 

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

O foco parece mesmo estar no uso urbano. Só não esqueça que este veículo tem caçamba e não porta-malas. Por mais que o compartimento seja grande e vedado pela capota, pode entrar água ali em dias de chuva mais forte.

Outro ponto de atenção é que a suspensão traseira, com eixo rígido e molas semielípticas em vez de eixo de torção com molas helicoidais, faz a carroceria pular um bocado em lombadas.

Dados técnicos: direção elétrica, suspensões independente do tipo McPherson (dianteira) e eixo rígido (traseira), freios a disco ventilados (dianteira) e tambor (traseira), 10,7 m diâmetro de giro, 196 mm de vão livre do solo, 23,4º de ângulo de ataque, 21,6º de ângulo central e 28,7º de ângulo de saída.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Dimensões:  4.480 mm de comprimento, 2.737 mm de entre-eixos, 1.781 mm de largura, 1.576 mm de altura, 844 litros de caçamba, 55 litros do tanque de combustível, 1.235 kg de peso, capacidade de carga: 600 kg.

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Consumo

Outra vantagem da Strada é que seu consumo é melhor que da configuração 1.3 manual no Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro. São 0,3 e 0,4 km/l de ganho em uso urbano, respectivamente com etanol e gasolina no tanque, e 0,9 km/l em ambiente rodoviário com qualquer combustível.

Em nosso teste, alcançamos números um pouco inferiores aos do Inmetro na cidade: 8,1 km/l com etanol. Acrescentando 30% de rodagem em rodovias, chegamos a 9,7 km/l combinados.

Consumo Inmetro: 8,8 km/l com etanol e 12,4 km/l com gasolina na cidade; 9,9 km/l com etanol e 13,9 km/l com gasolina na estrada.

Consumo Mobiauto: 9,7 km/l com etanol após uso 70% urbano e 30% rodoviário

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Tecnologia e segurança

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Embora custe quase R$ 120.000, a Strada Rancha AT tem um pacote de tecnologia de carro de entrada, sem muitos itens tecnológicos a oferecer. Destaques para os faróis de LED, a central multimídia de 7 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, a câmera de ré e o carregador de celular por indução.

Este último, inclusive, tem um alojamento muito bom no console central, que deixa o celular bem encaixado. Assim, ele não escorrega em curvas, diferentemente do que vemos em Jeep Compass e Commander, Fiat Pulse e Hyundai Creta, por exemplo. Assim, a carga não é interrompida o tempo inteiro.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Por outro lado, fica devendo itens já considerados básicos para sua faixa de preços, como acendimento automático dos faróis, quadro de instrumentos mais caprichado (e não igual ao do Uno) e até um controle de cruzeiro. E olha que não estamos falando de um adaptativo (ACC), pois nem o mais simples a Strada Ranch traz.

Se é assim, quem dirá cobrarmos a presença de assistente de permanência em faixa, alerta de ponto cego, frenagem autônoma emergencial…

Uma chave canivete com sensor presencial e partida por botão também seriam bem aceitos em uma picape de R$ 120.000. Aliás, a chave pantográfica da Strada Ranch trava algumas vezes no miolo quando se desliga o veículo, como se o câmbio não tivesse sido posicionado corretamente em “P”. É preciso ter paciência para retirá-la.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

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Fiat Strada Ranch CVT 2022 - Itens de série

Visual: assinatura “Ranch” no pára-lamas, peça cinza na parte inferior do pára-choque, capota marítima com inscrição “Ranch”, bancos em couro sintético, bancos longitudinais no teto, estribos laterais, santantonio e rodas de liga leve de 15 polegadas com design exclusivo.

Conforto: bancos do motorista com ajuste de altura, ar-condicionado, porta copos, apoia-braço para a primeira fileira, direção elétrica, faróis de neblina, faróis de LED, luz de condução diurna de LED, follow me home, ganchos para amarração e iluminação da caçamba e aletas para trocas de marchas atrás do volante e vidros elétricos em todas as portas.

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

Tecnologia: central multimídia de 7 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, câmera de ré, sensores de estacionamento traseiros, volante multifuncional, computador de bordo multifuncional com tela de 3,5”, TC+, modo Sport e carregador por indução.

Segurança: quatro airbags (dianteiros e laterais), alerta de não afivelamento do cinto de segurança para todos os passageiros, cinto de segurança três pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes, freios ABS, controle de estabilidade e tração, Isofix, assistente de partida em rampa e sensor de monitoramento de pressão dos pneus.

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Conclusão

Nova versão Ranch automática carrega menos carga, mas faz a picapinha rodar um pouco mais como um carro de passeio

A versão Ranch tenta posicionar ainda mais a Strada como um veículo de passeio, não de trabalho. Automática, cabine dupla e com quatro portas, a configuração não empolga em desempenho, mas cumpre a proposta urbana com boa dose de conforto e economia em consumo de combustível.

Além disso, a posição de dirigir, a condução prazerosa e a versatilidade de ter uma caçamba tornam a Stradinha automática uma boa opção para quem não consegue alcançar um SUV mais equipado, por exemplo. Pena que o nível de tecnologia e acabamento não esteja à altura do preço.

Imagens: Renan Bandeira/Mobiauto
Artes placas: Kleber Silva/Mobiauto

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