O Fusca que escapou da guerra e de um incêndio para hoje valer milhões
O VW Fusca é um dos modelos mais icônicos do mundo. O “Besouro” colocou as rodas na linha de produção em série para uso civil pela primeira vez no final de 1945, ainda sob a ressaca da Segunda Guerra Mundial, mas muito antes disso já frequentava os laboratórios da fabricante alemã.
Desde o princípio dos anos 1930 o engenheiro austríaco Ferdinand Porsche, que mais tarde se tornaria ícone ao dar sobrenome a uma das marcas mais respeitadas de carros esportivos na atualidade, esboçava projetos de um carro que seria popular e robusto, já com traços similares aos que conhecemos no Fusca.
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Com forte apoio - e muitas exigências - do recém-ascendido governo nazista de Adolf Hitler, Porsche seguiu desenvolvendo o “Volkswagen” (“carro do povo”, na tradução do alemão) por quase uma década, sempre perseguindo o compromisso de um veículo robusto, espaçoso para uma família e, principalmente, muito barato.
Nesses estudos, Ferdinand Porsche construiu diferentes séries de protótipos do Fusca, cada uma delas corrigindo falhas detectadas nos testes anteriores. A grande maioria deles foi destruída por ordem do próprio Hitler, temeroso de que se descobrissem os vários percalços ao longo do desenvolvimento do modelo.
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Série VW39, chassi 0003
No final dos anos 1930, veio a 2º Guerra Mundial e protótipos do Fusca foram convertidos em veículos de guerra. Poucos sobreviveram para contar a história. É por isso que cada exemplar do Fusquinha construído antes do início de sua efetiva produção em série é artigo raro e vale milhões. Mesmo quando está queimado.
É o caso do Fusca das imagens que abrem este artigo, o terceiro de um total de 14 chassis da série VW39, construída em 1939 pelo próprio Ferdinand Porsche, na fábrica de Stuttgart-Zuffenhausen, pouco antes de a guerra eclodir na Europa.
A unidade pré-série número 1-0003 foi a única preservada daquele lote. Para incrementar ainda mais sua exclusividade, era uma variante de alta velocidade do Fusquinha - sim, um esportivo! Por isso, seu característico motor boxer rendia 32 cv, 8 cv a mais do que os 24 cv das versões convencionais.
Pouco se sabe o que o governo alemão pretendia com aquela versão mais envenenada do Fusca, mas o fato é que, durante os testes, afirma-se que o time de Ferdinand Porsche teria superado a barreira de 145 km/h com a série VW39, um marco de respeito para a época.
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Do galpão ao incêndio
No entanto, como todo bom e velho Fusquinha, a vida do chassi 1-0003 não foi nada fácil. Para começar, ele só escapou de virar carro de combate e ser destruído durante a II Guerra porque ficou guardado sem motor em um galpão.
Só em 1948 foi encontrado pela família Raffay, que era dona de uma concessionária VW. Resgatado e guardado na coleção particular de clássicos da loja, o Fusquinha ficava sempre longe dos holofotes para não chamar atenção. Mas nem isso foi capaz de deixá-lo distante dos problemas.
Imagem do acervo da concessionária Raffay após o incêndio de 2011 (Reprodução/Classic & Sport Car)
Em 2011, um incêndio atingiu o acervo dos Raffay, fazendo o Fusquinha 1-0003 uma das vítimas. Justamente por causa do fogo que o VW chegou nas condições deploráveis das fotos, sem tinta, sem pneus, ficando apenas na lataria.
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A restauração e os milhões
Para não colocar um ponto final na trajetória de um carro tão raro, o Prototyp Automuseum (museu alemão de protótipos), de Hamburgo, na Alemanha, tomou as rédeas da situação e iniciou um minucioso processo de restauração.
O 1-0003 levou longos anos para ser completamente reformado, principalmente por causa dos estudos para compreender quais eram as características dos protótipos da série VW39 de Ferdinand Porsche. Além de manter a originalidade no visual, o exemplar recebeu, por sorte, um motor original.
Claro que não estamos falando do motor que o equipava quando ele foi fabricado. Só que o museu alemão, que também compra propulsores raros, tinha em seu acervo um motor boxer do chamado “Tipo 64”, idêntico ao do Fusquinha 1-0003. Foi só colocá-lo no cofre para o projeto ficar completo.
O resultado de toda essa trajetória de esconderijo, chamas e restauração não podia ser diferente: ele se tornou um dos Fuscas mais valiosos do mundo - se não o mais valioso. Atualmente, o VW 1-0003 está exposto no Prototyp Automuseum e é avaliado em 300.000 euros, valor que, na conversão direta, dá mais de R$ 1,7 milhão de reais.
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Gerente de conteúdo
Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.