Super Beetle: a raríssima versão automática do VW Fusca

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante
Renan Bandeira
Por
20.01.2022 às 17:00
Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

O VW Fusca marcou gerações e é um xodó mundial. No Brasil, tem até um Dia Nacional só para ele, celebrado em 20 de janeiro. A data marca o início de sua produção por aqui, em 1959, na recém-inaugurada fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP).

A Mobiauto já mostrou as múltiplas faces do Besouro, que é uma espécie de camaleão, ganhando roupagem de Porsche, pinta de Rolls Royce, versão rali e carrocerias picape, furgão e conversível. Mas e um Fusquinha automático?

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Sim, ele existe, mas o sistema não é tão simples quanto parece. Quem explica para nós é Gabriel Marazzi, jornalista e proprietário de uma unidade do Super Beetle 1302S Automatic Stick Shift, de 1971.

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

A história de Gabriel e seu Fusca automático começou há cerca de 20 anos. “Sempre tive Fusca e, um dia, um amigo me ofereceu o dele para comprar. Vi o Super Beetle de longe, belíssimo, azul muito brilhante, mas recusei”, contou Marazzi, explicando que já tinha muitos Fuscas.

“Mas aí ele me mostrou o carro. Um alemão, 1302, automático, impecável. Interessou. Joguei aquela: “Aceita troca?”. Ele topou. Ficou com meu Chevrolet Astra novinho, recém comprado, e ainda me voltou uma grana”, concluiu o proprietário.

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O Fusca automático surgiu no fim da década de 1960, nos Estados Unidos. Conhecido como Beetle por lá, o Volkswagen já era importado desde 1949, mas não caiu nas graças dos americanos, como aconteceria anos depois com os brasileiros. 

Acostumados com carros maiores, esbanjando torque e motores de seis ou oito cilindros em V, os estadunidenses consideravam o Fusquinha um carro pequeno e exótico demais. 

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

Nos anos 1960, o “sedan” até vendeu bem por virar praticamente símbolo, junto com a irmã de plataforma Kombi, do movimento hippie Flower Power, na Califórnia. No entanto, a marca alemã sentia que precisava entregar mais para se enraizar de vez em solo americano. 

E como nos Estados Unidos o câmbio automático já era bastante usado, a Volkswagen passou a disponibilizar como opcional um “câmbio automático” para o “besouro”.

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Funcionamento do câmbio automático

O funcionamento da caixa automática do Fusca americano é um pouco diferente do que estamos acostumados a ver em câmbios automáticos convencionais. 

“Para ser automático, ele deveria trocar as marchas sem intervenção do motorista, o que não acontecia no Beetle. Dizer ‘semiautomático’ também é um grande erro, afinal, ele não era metade automático e metade manual”, explica Marazzi, que é um conhecedor de Fuscas.

Na verdade, a embreagem era acionada automaticamente e dispensava o terceiro pedal. Como conta o jornalista, “tecnicamente, o Stick Shift [nome do sistema] era uma grande gambiarra.”

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

A caixa de câmbio convencional foi mantida. Mas a Volkswagen trocou a relação de quatro marchas mais a ré por uma nova, de três marchas mais a ré. Com isso, a configuração da transmissão mudou, ganhando as funções L, 1 e 2, no lugar das comuns primeira, segunda, terceira e quarta.

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De acordo com o manual do proprietário, a marcha L, de low (baixa, em inglês) ou load (carga), era uma reduzida para usar em subidas íngremes; a 1 era sugerida para uso urbano e velocidades baixas; a 2 servia em vias expressas, a velocidades mais altas.

“Em nenhum momento é preciso mudar de marcha, a menos que se mude o tipo de uso [conforme descrito anteriormente]. Basta engatar uma delas e sair acelerando, com um resultado semelhante ao de um câmbio automático”, explica o jornalista.

O sistema tem um conversor hidráulico de torque acoplado, semelhante ao visto no automático epicíclico dos dias atuais, para não dar trancos nas saídas. No entanto, o conjunto de embreagem com platô e disco foi mantido. 

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

A grande sacada é que esse sistema é acionado por solenóide elétrico ligado à alavanca de câmbio. Ou seja, quando o condutor coloca a mão no câmbio, a embreagem desacopla esperando o próximo engate. E o carro só se movimenta quando a mão for retirada da alavanca.

Essa tecnologia era vendida como opcional para o Beetle. Para diferenciá-lo dos convencionais, o Fusca automático ganhava a grafia “Automatic” na tampa do motor, lá atrás. A partir de 1973, o Stick Shift ganhou uma nova posição de engate, que corresponde à função Parking dos câmbios automáticos modernos.

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Um Fusca raríssimo

Besouro é conhecido por ter inúmeras versões, mas esta automática foi na verdade uma grande gambiarra da fabricante

O Fusquinha de Gabriel Marazzi é um dos poucos exemplares no Brasil com esse tipo de transmissão. Tão raro que passa despercebido por muitos entusiastas. Seu VW Super Beetle S tem motor 1.600 e foi comprado originalmente do consulado americano.

Além do “câmbio automático”, a configuração esbanja outros itens que atraem os olhos nas ruas. A dianteira, por exemplo, é um pouco mais encorpada que a do Fusca brasileiro, e o interior é bem mais luxuoso que o nacional. E faltou pouco para ser um carro completinho em itens de série. 

“Nas ruas, ele atrai a todos, devido ao recente interesse geral pelo carrinho, e aos poucos entendidos, que percebem as diferenças com o Fusca brasileiro. Pena que não tenha também o ar-condicionado, que era opcional. Dessa forma seria um carro perfeito para uso diário e confortável”, conclui o proprietário.

Imagens: Reprodução / Internet e Gabriel Marazzi

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