Avaliação: novo Jeep Renegade 4x4 flex será tão bom quanto era o diesel?

SUV mais vendido no Brasil quer encarar pau, pedra e o que estiver no caminho mesmo sem motor turbodiesel. Será que o 1.3 GSE o substitui à altura?
Camila Torres
Por
17.12.2021 às 12:00
SUV mais vendido no Brasil quer encarar pau, pedra e o que estiver no caminho mesmo sem motor turbodiesel. Será que o 1.3 GSE o substitui à altura?

A Jeep mostrou que, como uma boa mãe, não faz distinção entre os filhos. Por isso, equipou todos os seus modelos nacionais com o mesmo motor 1.3 GSE turboflex de quatro cilindros com injeção direta: Compass, Commander e Renegade. 

Esse é o fim do mistério (nem tão secreto assim) em relação ao que o SUV de entrada da marca guardará sob o capô a partir do primeiro trimestre de 2022. Já suas novidades visuais, tão sutis quanto aquelas aplicadas em 2018, permanecerão camufladas até o primeiro trimestre de 2022, quando o Jeep Renegade 2023 será oficialmente lançado. 

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Dentre as principais novidades, a que mais despertava curiosidade, sem sombra de dúvidas, era o motor. O que todos já sabiam é que o fim do propulsor 1.8 aspirado estava certo, visto que ele não atende as novas regras de emissões do Proncove L7, que entra em vigor no começo do ano que vem. 

Sendo assim, a dúvida era se a Jeep iria escolher o motor 1.3 turboflex usado nos irmãos de plataforma ou o 1.0 turboflex do Fiat Pulse, e o que aconteceria com o motor 2.0 MultiJet turbodiesel que compõe a gama atual. 

SUV mais vendido no Brasil quer encarar pau, pedra e o que estiver no caminho mesmo sem motor turbodiesel. Será que o 1.3 GSE o substitui à altura?

Mesmo com poucas opções na mesa, a decisão da Stellantis de equipar toda a linha com o motor T270, eliminar o propulsor a diesel e sequer dar uma chance para o Turbo 200 do Pulse foi um tanto quanto surpreendente. 

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A fabricante explicou que não tem intenção de equipar o Renegade com o motor do Pulse, em uma clara decisão de fazê-lo ficar dois degraus acima dele e um acima do Fastback, SUV cupê a ser lançado no ano que vem.

Já o motor a diesel foi sacrificado por representar menos de 10% das vendas atualmente. Para os executivos da montadora, se o público já tinha um grande interesse pelo Renegade pelo contestado, fraco e beberrão motor 1.8 aspirado, a cobiça deve aumentar ainda mais com o propulsor turbo, seja na configuração 4x2 AT6 ou 4x4 AT9.


Desempenho 

Carroceria camuflada com o tradicional envelopamento zebrado e interior coberto por lonas: assim estava o novo Jeep Renegade Trailhawk T270 4x4. Tudo que estávamos convidados a saber era o que ele guardava no cofre do motor. 

O que diferenciará as versões do Renegade 2023, mecanicamente falando, é o câmbio e a tração, já que todas serão equipadas com o mesmo motor. As versões de entrada terão câmbio automático de seis marchas e tração 4x2 com bloqueio do diferencial dianteiro. Ou seja, exatamente o mesmo conjunto dos atuais Compass e Commander T270 flex. 

Já as mais caras terão transmissão de nove marchas (fornecida pela ZF e não pela Aisin, como a caixa de seis velocidades) e tração 4x4 (recebendo o mesmo diferencial traseiro do Renegade turbodiesel atual).

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Com a solução, a Jeep mune o Renegade de um conjunto mecânico mais barato e eficiente do que 2.0 MultiJet, embora mais fraco, sem deixar de ter como grande diferencial o fato de ser o único SUV compacto urbano do mercado com tração nas quatro rodas em pelo menos uma versão.

Ter um modelo 4x4 que não seja a diesel é algo raro. A Ford faz isso com o Bronco Sport e a Mitsubishi também se arrisca, mas nada que realmente faça os olhos dos consumidores brilharem. Antes, tínhamos o Ford EcoSport com essa combinação, mas ele se foi, assim como aquele velho Renault Duster 2.0 4x4.

A expectativa da Jeep é transformar o segmento com essa nova aposta. Então, colocamos à prova o novo Renegade T270 4x4 na versão Trailhawk.

Assim como no Compass e no Commander, o motor 1.3 turboflex do Renegade entrega 180/185 cv de potência (E/G) a 5.750 rpm e 27,5 kgfm de torque ((E/G) a 1.750 rpm. Para ir de 0 a 100 km/h, na configuração 4x4 de nove marchas, o SUV precisa de 9,7/9,9 segundos (E/G). É basicamente o mesmo tempo que o prestes a ser extinto Renegade 2.0 turbodiesel registrava oficialmente.

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Sim, ele é mais veloz do que o velho 1.8 e seus 11,1 segundos, mesmo com o acréscimo do diferencial traseiro e de uma caixa de câmbio bem maior. Porém, o tempo com etanol é superior ao do Commander, que precisa de 9,5 segundos. Pode parecer sem sentido, já que o Commander é um SUV bem maior, mas algumas coisas explicam tal resultado.

Primeiro, o Renegade tem um câmbio de nove marchas que, além de ser mais pesado, tem uma relação de marchas mais curta. Tem também a questão da tração 4x4, que agrega mais peso à suspensão traseira. Para completar, o Renegade é um SUV de linhas quadradas e menos aerodinâmicas que o Commander.

Por isso, os irmãos não têm apenas o 0 a 100 km/h parecido, mas também o peso também o peso. Apesar dessa surpresa, fomos conferir como o Renegade com esse inédito conjunto motriz se comporta na prática em teste fora do asfalto no circuito de Curvelo (MG), perto da fábrica que a Stellantis possui em Betim.

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Lá, encaramos uma trilha de nível médio e boa dose de adrenalina. Aclives com inclinação de 90º, pistas extremamente esburacadas - a ponto de uma das rodas perder o contato com o chão, o que eles chamam de “teste da caixa de ovos”.

Além disso, passamos por um lago com mais de 40 cm de altura de água e subimos um morro com inclinação de 45º. Não faltou adrenalina. Os momentos mais tranquilos foram em trechos estreitos no chão de terra, cheio de irregularidades, mas onde era possível acelerar um pouco mais.

O Renegade fez bonito em todos os testes. Na rampa, acionamos a tração e o assistente de descida em aclive. Com esses dois sistemas, foi possível tirar o pé completamente do freio e controlar apenas o volante. O resto o carro faz sozinho. Sem susto.

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Na caixa de ovos, umas das partes preferidas de qualquer trilheiro, o Renegade mostrou muita maestria. Bastava pisar um pouco mais no acelerador que o carro ia encarando todo o terreno com familiaridade, jogando a torque para as rodas em contato com o solo. 

A água parecia ser uma das partes mais críticas, mas só parecia mesmo. Fomos devagar e sem dificuldades já estávamos do outro lado. Vale citar que era um trecho curto também.

Por último, deixamos o morro. Se fosse o motor 1.8, ele iria começar a gritar antes de começar a subir. Agora, toda a responsabilidade estava nas costas do T270. Nesse momento, ficou claro que, a não ser por gosto pessoal, o motor a diesel não fará tanta falta nas trilhas de nível intermediário que o Renegade já conseguia transpor antes.

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A grande perda, mesmo deverá ser na autonomia. Afinal, a Stellantis ainda não revelou os dados oficiais do Inmetro, mas o consumo com gasolina ou etanol dificilmente será tão eficiente quanto era com o diesel. Ou seja… o dono de um Renegade 4x4 2023 gastará mais com combustível e terá de abastecer o SUV mais vezes do que fazia um proprietário de Renegade 4x4 até a linha 2021.

Motor: 1.3, dianteiro, transversal / quatro cilindros em linha / 16V / turbo / flex / eixo comando de válvulas: um no cabeçote / injeção direta de combustível / taxa de compressão 10,5:1
Potência (G/E):  180/185 cv a 5.750 rpm
Torque (G/E):  27,5 kgfm a 1.750 rpm
Peso/potência: 8,8 kg/cv
Peso/torque: 59,7 kg/kgfm
Câmbio: automático, 9 marchas
Tração: 4x4 com bloqueio de diferencial e reduzida
0 a 100 km/h (G/E): 9,9/9,7 segundos
Velocidade máxima: Não informado 

Dados técnicos: direção elétrica / suspensão dianteira: McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores com geometria triangular, barra estabilizadora e molas helicoidais/ suspensão traseira: McPherson com rodas independentes, links transversais/laterais, barra estabilizadora com molas helicoidais / Freios dianteiros a disco ventilados e traseiros a disco sólido / Diâmetro de giro: não informado / vão livre do solo: 216 mm, ângulo de ataque: 30°; ângulo central: 22°; ângulo de saída: 32° / peso em ordem de marcha: 1.643 kg / carga útil: 400 kg.

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Design e espaço 

Como boa observadora de mercado que a Jeep sempre foi, ela não gastou muita energia com modificações estéticas. Mesmo com a carroceria camuflada, é possível perceber que o Renegade segue com seus característicos faróis redondos e lanternas intactas. Afinal, o estilo de jipe quadradinho é um de seus maiores trunfos.

Durante a apresentação, a marca deu a entender que o facelift do Renegade terá algumas inspirações no irmão maior Wrangler. 

Na dianteira, as alterações parecem mais um retoque na maquiagem do que uma troca de roupa. Mas só quando a camuflagem cair poderemos ter certeza. O que sabemos é que a grade foi modificada e está mais proeminente, e que os faróis ganharam tecnologia full-LED com novos arranjos internos.

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As lanternas receberam alguns retoques, mas sem perder o formato quadrado e as luzes em X, porém com uma barra horizontal ao centro para destacar a luz de seta.

Por dentro, tudo que sabemos é quase nada. Cheio de lonas e cada carro de teste com um interior diferente, ficou difícil saber qual será o verdadeiro visual. Mas apostamos em quadro de instrumentos digital e no volante nos novos Compass e Commander.

Em termos de dimensões, nem precisamos nos estender, pois está tudo exatamente do mesmo tamanho por aqui. O que vale citar, para fins de curiosidade, é que o porta-malas do Renegade continua pequeno, mas a Stellantis deve magicamente aumentar o número (atualmente em 320 litros) ao trocar a medição VDA por outra com água, como fez com Compass e Commander.

Dimensões: 4.268 mm de comprimento, 2.570 mm de entre-eixos, 1.805 mm de largura, 1.712 mm de altura, 320 litros de porta-malas, 55 litros de tanque de combustível 

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Novo Jeep Renegade: versões, preço e itens de série 

A lista de itens de série, assim como os preços, só serão revelados ano que vem. Mas já temos noção do que esperar da versão topo de linha, por exemplo: carregador de celular por indução, central multimídia flutuante e vários assistentes de direção, como o de permanência em faixa, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de tráfego cruzado, alerta de ponto cego e frenagem autônoma emergencial.

Também temos informações privilegiadas sobre versões e preços. O Jeep Renegade ganhará mais versões em 2022, inclusive mais configurações 4x4 e uma versão inédita. Outra informação que agradará os consumidores é que o valor da versão topo de linha será menor do que a versão que temos hoje, segundo a marca. 

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Antes que você ache que não faz sentido, nós já temos a explicação. Para começar, o valor deve baixar pouca coisa, mas isso será possível graças à troca do motor a diesel importado pelo 1.3 GSE T4 de fabricação nacional, o que diminui os custos.

Já a parte indigesta deixamos para o final. As versões de entrada ficarão mais caras, também devido ao motor, que é superior ao antigo 1.8. E se você está querendo saber o que irá acontecer com esse motor, depois de descontinuado no Brasil, ele seguirá sendo produzido em Campo Largo (PR), equipando veículos da Stellantis que serão exportados para outros países, como a Argentina.

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Do shopping ao off-road

Com o novo motor, o Jeep Renegade deve deixar no passado a fama de manco e dar lugar a uma reputação bem mais atraente. 

Apesar de não termos rodado com o Renegade no asfalto, nem com a configuração 4x2 AT6, sabemos com base nas recentes experiências com Compass e Commander que esse é o tipo de motor que pede estrada. Dos três modelos, o Renegade é o que possui um DNA off-road mais destacado, permitindo aventuras bem mais interessantes. 

Mas não se engane, ele também continua sendo um SUV de shopping, só que agora no bom sentido da palavra. Graças às suas medidas compactas, ele cabe perfeitamente nas vagas apertadas de mercados, lojas e das ruas abarrotadas de carros das grandes cidades. Isso faz dele um SUV capaz de transitar perfeitamente entre os dois mundos.

Versatilidade, sem sombra de dúvidas é uma das maiores qualidades do novo Jeep Renegade. 


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