Nova moda dos hackers é atacar estações de recarga de carros elétricos

Indústria terá que gastar cerca de R$ 50 bilhões até 2030 para resolver esse problema
HG
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06.05.2022 às 17:10
Indústria terá que gastar cerca de R$ 50 bilhões até 2030 para resolver esse problema

O rebaixamento do Brasil no setor produtivo e até como mercado consumidor tem lá suas “vantagens”. É que, se a indústria automotiva não investe parte de seus trilhões de dólares em eletromobilidade aqui, ficamos alheios a problemas como os recentes ataques hackers a estações de recarga de carros elétricos. 

No além-mar, esse fenômeno acendeu a luz amarela para distribuidores e fornecedores. “No ano passado, mais de 80% dos ataques cibernéticos registrados em todo o mundo foram feitos remotamente”, destacou o presidente-executivo (CEO) da Upstream Security, empresa israelense que fornece plataformas de gerenciamento de dados e segurança para veículos conectados, Yoav Levy. 

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A consultoria McKinsey & Company, especializada em gestão estratégica para corporações, governos e organizações não governamentais (ONGs) divulgou uma pesquisa, no ano passado, prevendo que a receita somente para segurança cibernética de automóveis chegaria a US$ 9,5 bilhões (o equivalente a R$ 48,1 bilhões), até 2030.

“Os ataques de hackers a estações de carregamento para modelos elétricos (EVs) estão aumentando e se tornarão mais comuns, a partir de agora. E à medida que a vendas de EVs crescem, seus pontos de recarga se tornam alvos bastante vulneráveis”, acrescentou o executivo.

Levy vai expor os riscos que o este segmento vem enfrentando a partir desta segunda-feira, (9), na EcoMotion, que acontece em Tel Aviv (Israel) com a participação de mais de 600 startups e terá as participações dos chefões de BMW, Ford, Hyundai, Renault e Volvo.

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“O número de estações de carregamento deve subir de 1,6 milhão de pontos, em 2021, para 2,1 milhões de pontos até o final deste ano, mas há um certo negligenciamento em relação à segurança”, avalia o presidente-executivo (CEO) da IPKeys Cyber Partners, fornecedora de plataformas de inteligência OT/TI e proteção de infraestrutura, Robert Nawy.

Nawy, que é membro fundador e membro do Conselho de Administração da Advanced Energy Management Alliance (AEMA) e membro do Conselho da Open Automated Demand Response (OpenADR) Alliance, prossegue:

“No ano passado, o vazamento de uma única senha custou à norte-americana Colonial Pipeline US$ 4,4 bilhões (o equivalente a R$ 22,2 bilhões), cobrados como resgate por hackers, que haviam interrompido seu fornecimento para toda a costa leste do país.”

“Agora, pense no que um ataque cibernético poderia fazer, deixando inativas todas as estações de recarga da Califórnia. Como se pode ver, a cibersegurança automotiva é um tema novo e a regulação, até agora, não cobre todas as ameaças”, conclui.

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Por que estações de recarga?

Indústria terá que gastar cerca de R$ 50 bilhões até 2030 para resolver esse problema

No Brasil, onde os pontos de recarregamento são tão poucos que ganharam o status de verdadeiros pedestais nos shopping centers mais caros do país, não há com o que se preocupar – da mesma que um homem de Neanderthal nunca teve que se preocupar em trocar um botijão de gás, na cozinha. 

Mas nos Estados Unidos, onde o Acordo de Infraestrutura Bipardidária já assegurou um investimento de US$ 7,5 bilhões para a rede pública de recarga, num país onde os EVs devem corresponder a 50% das vendas até 2030, a preocupação é grande.

No mês passado, o jovem David Colombo, um especialista em segurança cibernética de 19 anos, conseguiu invadir 25 modelos da Tesla usando o aplicativo TeslaMate. Na Ilha de Wight, na costa sul inglesa, a prefeitura local teve que se desculpar quando as estações de carregamento começaram a exibir vídeos pornográficos. 

“Na prática, os hackers podem desde obter dados dos donos dos EVs que se conectarem à rede de recarga a até mesmo interromper o fornecimento do serviço”, pontua o professor Chadi Assi, pesquisador do Instituto Concordia de Engenharia de Sistemas da Informação (CIISE), com sede na Califórnia. 

“Avaliamos carregadores de 16 fornecedores diferentes e atestamos vulnerabilidades no firmware dos próprios carregadores, bem como nos aplicativos mobile e web usados para acessá-los. Preocupantemente, verificamos que nenhum dos modelos testados era imune a ataques. Todos podem ser invadidos e infactados por malwares que podem acioná-los ou desativá-los, remotamente”, certifica.

Pior do que os prejuízos pessoais é o risco de várias estações de recarga serem invadidas simultaneamente, sobrecarregando a rede local e levando a apagões. “Em alguns casos, as soluções são simples e partem de senhas mais seguras e firewalls mais capazes, mas as vulnerabilidades variam de sistema para sistema”, declarou Tony Nasr, também pesquisador do CIISE. 

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“Davi Colombo, por exemplo, descobriu que poderia usar um programa genérico para ter acesso aos modelos da Tesla e controlar alguns de seus recursos, como abrir portas e janelas, bem como desativar o Sentry Mode. Sabemos que o número de ataques, neste sentido, está crescendo”, assegurou.

Mas será que um simples motorista seria vítima de um ransomware, capaz de liberar sua estação doméstica de carregamento? “Acho que não”, pondera o presidente-executivo (CEO) da Upstream Security, Yoav Levy. 

"Mas se você é um empresário e tem uma frota de EVs, ou se este é o seu negócio, os riscos crescem exponencialmente. Pense em uma empresa de entregas que, pouco antes do Natal, tem todos seus veículos bloqueados. Seria, no mínimo, perturbador”, pondera. 

“E como os pontos de recarga estão conectados às redes elétricas locais, os hackers também podem tentar usá-las como porta de entrada para todo o sistema. Nesse caso, as vulnerabilidades individuais das estações de carregamento doméstica podem ser tornar um risco à segurança nacional”, projeta o especialista. 

“Vemos grandes investimentos na capacidade de abastecimento, para a oferta de energia para os EVs, mas achamos que os governos também devem garantir que estejam protegendo suas redes, protegendo seus veículos e protegendo sua infraestrutura como parte disso”, completa.

É nessas horas que a gente vê como o subdesenvolvimento é relaxante. Aqui, onde pagamos preço de ouro pela eletricidade e a indústria automotiva brasileira vai se esvaindo enquanto empurra automóveis do século passado a preços da Tiffany, nossa preocupação maior é viver desviando dos buracos nas ruas. E com isso conseguimos lidar numa boa!

Imagens: Shutterstock

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

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