Asfalto regenerativo: como ‘milagre’ da ciência fecha buracos

No Brasil, custo para correção das estradas foi calculado em R$ 4,88 bilhões; cápsulas com esporos incorporadas à mistura asfáltica ‘curam’ microfissuras em menos de uma hora
HG
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02.05.2025 às 22:45
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No Brasil, custo para correção das estradas foi calculado em R$ 4,88 bilhões; cápsulas com esporos incorporadas à mistura asfáltica ‘curam’ microfissuras em menos de uma hora

Há exatamente um ano, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) identificou mais de 2,6 mil pontos críticos em rodovias brasileiras e estimou em R$ 4,88 bilhões o custo para a correção de buracos e erosões. No Reino Unido, em que pese o fato de as estradas serem incomparavelmente mais bem conservadas, o problema da buraqueira gera uma conta anual de 143 milhões de libras (o equivalente a R$ 1,08 bilhão).

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A grande diferença é que, lá, cientistas do King's College London e da Swansea University, liderados por pesquisadores chilenos, parecem ter resolvido a questão de forma definitiva, criando um asfalto autorreparador, que não requer manutenção ou intervenção humana para se regenerar. “Nossa solução visa, basicamente, evitar a formação de rachaduras no piso, atuando nos estágios iniciais de formação, reduzindo assim sua progressão”, conta o professor e coordenador do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Swansea, Dr. Jose Norambuena-Contreras que, certamente, desconhece as verdadeiras crateras com que os motoristas brasileiros já se habituaram.

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De acordo com ele, rachaduras ocorrem quando o betume endurece por oxidação – o betume é um material preto viscoso obtido do petróleo bruto, amplamente utilizado na construção de diversas superfícies, como rodovias e pistas de aeroportos. Então, sua equipe encontrou uma maneira de reverter as rachaduras e desenvolver métodos para “costurar” o asfalto novamente. Utilizando as mais modernas ferramentas de inteligência artificial (IA), os pesquisadores desenvolveram um modelo que acelerou simulações atomísticas para estudar a formação de moléculas orgânicas no próprio betume.

“Para criar o asfalto autorreparador, incorporamos esporos – estruturas resistentes, que se reproduzem em plantas, algas e fungos, germinando para formação de um novo organismo – preenchidos com óleos reciclados, que são liberados quando o asfalto começa a fraturar”, explica Contreras. “Isso reverte o processo de rachaduras”, acrescenta.

Alquimia e sustentabilidade

Parece alquimia: cápsulas com este material são incorporadas à mistura asfáltica do pavimento e, a partir daí, modificam o betume e se integram ao material, atuando como um aditivo que melhora a autorreparação do asfalto – os cientistas estão, inclusive, usando cada vez mais materiais reciclados na composição da manta para reduzir o uso de combustíveis fósseis e tornar as estradas mais sustentáveis. “Nos testes de laboratório, esse material asfáltico ‘curou’ completamente uma microfissura em sua superfície em menos de uma hora”, destaca Contreras.

Já o especialista em química computacional do King's College London, professor de Química e Ciências Naturais, Dr. Francisco Martin-Martinez, chama atenção para o uso de outros materiais sustentáveis no novo asfalto, incluindo resíduos de biomassa. De acordo com ele, a nova tecnologia desempenharia um papel fundamental na transição energética para a construção de estradas com emissões líquidas zero, já que uma parcela significativa do carbono liberado decorre da própria produção do asfalto convencional.

“Criar um asfalto regenerativo aumenta a durabilidade das estradas e reduz a necessidade de operações tapa-buracos, mas é importante reduzirmos nossa dependência do petróleo e de outros recursos naturais finitos. Os resíduos de biomassa, por exemplo, estão disponíveis localmente e em todos os lugares, são baratos”, sublinha Martinez. “Produzir materiais de infraestrutura a partir de recursos locais ajudará regiões do mundo com acesso limitado a asfalto à base de petróleo”, acrescenta.

Apesar das qualidades miraculosas, o asfalto regenerativo se encontra em fase de pesquisas e, pelo menos por enquanto, não há previsão para sua aplicação em vias públicas. Aguardemos e torçamos!

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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