“Unohome”: Fiat Uno Mille vira motorhome para viajar 20.000 km até os EUA

Empresário iniciou projeto como uma forma de curar a depressão e, agora, usará a “botinha ortopédica” para ir do interior de SP até a Califórnia
Renan Bandeira
Por
22.03.2022 às 10:27
Empresário iniciou projeto como uma forma de curar a depressão e, agora, usará a “botinha ortopédica” para ir do interior de SP até a Califórnia

Pode parecer coisa de filme, mas é isso mesmo que você leu: Luiz Torelli, microempresário na cidade de Nova Odessa (SP), vai até a Califórnia, nos Estados Unidos, de carro. 

Mas não será qualquer carro. Se você esperava por uma picape ou jipe 4x4, saiba que esta aventura será colocada em prática a bordo de um Fiat Uno Mille. 

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A viagem começou no início deste mês, depois de mais de um ano de preparação, e promete muitos dias de pista para o Uninho.

O carro é ano-modelo 2001/2002, um dos primeiros “botinhas ortopédicas” com o motor 1.0 Fire que fez tanto sucesso no Brasil e está em linha até hoje com o sucessor Fiat Mobi.

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Na época, o motorzinho de 55 cv entregava 2 cv a menos de potência que o anterior, e prometia um consumo de 10 km/l na cidade e 17 km/l na estrada com gasolina. Com fama de pau para toda obra e dotado de uma mecânica simples, o Uno encheu os olhos de Luiz. 

Ele sonhava em viajar com um motorhome, mas esbarrou nos preços altos desse tipo de veículo. Assim, decidiu modificar o carro que comprou em 2017 e criar o que chama de “Unohome”.

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Transformação do Uninho em casa sobre rodas

Segundo o empresário, a ideia surgiu como uma forma de curar a depressão. “No começo, nem sabia como cortar madeira. Mas peguei as ferramentas emprestadas com meu tio, comprei umas chapas de MDF [fibras de madeira compactadas] e comecei a construir um baú e a estrutura de uma cama”, explicou Torelli.

O paulista se deu bem com o trabalho manual. Tanto que, do Uno original, apenas o banco do motorista e as peças do painel foram mantidas.

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A cama confeccionada por Luiz comporta uma pessoa de 1,80 m e tomou o lugar do banco do passageiro e uma boa parte do restante da cabine, que ainda perdeu a segunda fileira de assentos.

Após essas primeiras modificações, o empreendedor caiu de cabeça em sua primeira aventura. “Depois das mudanças, fiz um teste viajando por 25 dias do Litoral Norte de São Paulo até Angra dos Reis (RJ)”, conta.

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Viagens de teste pelo Brasil

Durante esse período, Torelli sentiu falta de mais alguns itens para tornar o Uninho uma espécie de casa sobre rodas e atender a tudo que precisava. Por isso, assim que retornou à Nova Odessa, iniciou uma nova fase de construção.

“Voltei para casa e reformei o carro do jeito que ele é hoje, adicionando uma pia e até uma geladeira [de 18 litros]”, esclareceu o viajante.

O veículo ainda leva um banheiro improvisado com um “chuveirinho”, que serve para uma boa ducha, caso não encontre um lugar mais apropriado para banho. Basta levantar a tampa do porta-malas e baixar as lonas para ter privacidade. Além disso, há um bagageiro de 360 litros no teto.

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Atrás do banco do motorista, vão a minigeladeira e as gavetas de roupa. Enquanto o porta-malas leva um pequeno armário com talheres, alimentos e um fogão de apenas uma “boca”, que funciona a gás. No total, foram gastos R$ 5 mil.

Outra viagem tinha de ser feita para testar os novos componentes. “Em agosto [de 2021], fui daqui [Nova Odessa] até a Bahia, e depois ao Jalapão [em Tocantins]. Essa viagem durou 35 dias e foi uma preparação para encarar a estrada até os Estados Unidos”, relembra.

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Aventuras e perrengues

Uma baita preparação, de fato. Afinal, se a primeira viagem é lembrada pelas descobertas e busca por melhorias no veículo, a segunda foi marcada por vários perrengues. Na Bahia, Torelli não deu sorte e diz ter caído em um golpe que o forçou a levar o Uno Mille à oficina.

“Chama ‘Golpe do Barrinha’. Estouraram umas coifas do carro e soltaram parafusos do eixo. Eles implantam o problema para você ser obrigado a levar ao mecânico e arrumar. Nessa, eu perdi R$ 800”, rememora.

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Além disso, quando foi ao Jalapão, sentiu o drama de ficar atolado duas vezes. Porque, sim, até o Fiat Uno, maior desbravador off-road dos rincões deste Brasil, é capaz de atolar.

Mas calma que nem tudo foi tão ruim assim. A viagem foi marcada também por um momento de muita empatia. Luiz ajudou uma família ribeirinha, que vive às margens do conhecido Rio São Francisco e que naquele momento passava por necessidades.

Luiz fez uma campanha nas redes sociais e, segundo ele, arrecadou R$ 4.000 de seus seguidores. “Aí comprei mantimentos, fralda, tudo… e deixei o restante do dinheiro com eles”, conta, orgulhoso. Seu perfil no Instagram, @um.a.uno, já possui mais de 22.000 seguidores.

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Viagem aos Estados Unidos

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Mesmo após o golpe e dos atolamentos, Torelli entendeu que o Uninho estava em sua melhor forma para encarar o seu verdadeiro sonho: chegar aos Estados Unidos. A aventura começou há cerca de 20 dias e a previsão é de rodar 20.000 km até a Califórnia em seis meses. 

Mas o viajante garante “estar indo com calma”, respeitando os limites de um carro que já tem 20 anos de uso e mais de 200.000 km rodados. “O meu sonho é ir além e chegar ao Alaska, mas vou decidir lá se isso é possível ou não”, explica.

De qualquer maneira, a viagem tem rendido bem e Luiz está agora de passagem pela Argentina. “O primeiro país que cruzei foi o Paraguai, agora estou na Argentina e vou passar por Bolívia, Peru e Colômbia. Depois, vou subindo para o Panamá, na América Central, e continuo até os Estados Unidos”, conta o viajante.

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De acordo com Torelli, todo o trajeto foi muito bem planejado, assim como o projeto do “Unohome” e sua manutenção. “Estou me preparando financeiramente há um ano, guardando dinheiro, construindo o projeto e fazendo testes”, afirmou. O empresário está levando até peças extras para caso o carro dê problema. 

“Agora estou colocando em prática todo esse planejamento”, conclui o paulista.

Até o desfecho dessa história já está programado. Depois de chegar à Califórnia - e quem sabe viver a vida sobre as ondas e virar artista de cinema, como diz a canção de Lulu Santos -, o empresário colocará o Uno em um navio para retornar ao Brasil. Enquanto isso, ele mesmo voltará de avião para reencontrar o amigo.

Toda essa aventura vem sendo contada no Instagram @um.a.uno. Lá, Torelli publica as novidades da viagem e seu avanço como um diário de bordo. Também deixa dados bancários para quem quiser ajudá-lo financeiramente na viagem.

Imagens: Arquivo Pessoal/Luiz Torelli

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