Nem o último país que fabricou o Fusca o trata mais como carro popular

Fomos ao México, único país a ter produzido o “besouro” no século XXI. Ele ainda é comum nas ruas e vidas de trabalhadores
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18.03.2022 às 08:00
Fomos ao México, único país a ter produzido o “besouro” no século XXI. Ele ainda é comum nas ruas e vidas de trabalhadores

Da Cidade do México (México)

Tempos atrás, bastavam alguns poucos milhares de reais para comprar um VW Fusca no Brasil. De uns anos para cá, à medida em que sua presença foi rareando nas ruas das grandes cidades, o carro talvez mais icônico da indústria automobilística nacional e mundial foi se tornando objeto mais cobiçado entre colecionadores. E os preços começaram a disparar.

Hoje, dificilmente se encontra um “besouro” em bom estado por menos de R$ 20.000. Tal valor o tornou uma espécie de nota de corte. Não acredita? Faça um exercício conosco: entre neste link e veja as ofertas do Fusca de primeira geração nos classificados da Mobiauto para a cidade de São Paulo (SP).

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Vocho, o Fusca mexicano

Mas não estamos aqui para falar do Fusca brasileiro e sim do Vocho, nome pelo qual o clássico “sedan” é conhecido no México. O país latino da América do Norte foi o último a encerrar a produção do modelo, em 2003, tendo sido, assim, o único a fabricá-lo no século XXI.

Por isso, é claro que os mexicanos possuem com o Vocho uma relação de carinho muito similar à dos brasileiros com o Fusca. Do complexo da Volkswagen em Puebla, existente até os dias atuais, saíram praticamente 1,7 milhão de unidades. É pouco mais da metade dos 3,3 milhões de “besouros” feitos no Brasil, mas ainda assim um número muito expressivo.

Vocho é um nome utilizado só no México. Nem tente usá-lo em outro país de língua espanhola. Nos primeiros anos de existência do modelo na terra dos astecas, era a forma como os locais pronunciavam a abreviatura Volks. E assim ficou.

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Sua origem, aliás, se assemelha (de novo) à história da alcunha criada no Brasil para denominar o modelo. Afinal, Fusca é a evolução abrasileirada da pronúncia alemã para a sigla VW, cujos fonemas criam a sonoridade “fulque” ou “fulca”.

E, convenhamos, ambos são apelidos muito mais legais do que os insípidos nomes “VW Typ 1” ou “VW Sedan” usados pela fabricante para denominar o carro em princípio.

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As diferenças do Vocho para o Fusca

O Fusca mexicano teve relevância para o mundo não apenas por ter sido o derradeiro em linha. Foi Puebla que abasteceu os mercados europeu e americano durante um bom período, a partir do final dos anos 1970, quando a Alemanha deixou de produzi-lo para apostar no Golf.

Os mexicanos começaram a montar localmente o “besouro” em 1964, dez anos depois de o modelo ter chegado ao país por importação. O ferramental veio direto da Alemanha, o que significa que o Vocho se aproxima mais do VW Typ 1 alemão, com algumas diferenças visuais em relação ao Fusca brasileiro. 

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O para-brisa, por exemplo, é maior, enquanto o contorno dos faróis não é cromado, mas sim na cor da carroceria. E as luzes de seta dianteiras ficam alojadas nos cantos do para-choque em vez dos para-lamas.

Por ter ficado mais tempo em linha, ele também ganhou equipamentos que nunca chegaram ao nosso Fusquinha, como um motor 1.6 – ainda boxer e refrigerado a ar – dotado de injeção eletrônica em vez de carburador duplo. Ou, ainda, mimos como ar-condicionado e alarme.

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Ícone muito presente nas ruas

A reportagem da Mobiauto veio à Cidade do México a convite da Volvo para participar do lançamento do elétrico C40 na América Latina. Em breve, publicaremos a avaliação do modelo. Antes de olharmos para o futuro com um SUV cupê eletrificado e cheio de tecnologias, resolvemos revisitar o passado.

Em nossas andanças pelas ruas da Cidade do México, uma megalópole até maior do que São Paulo, nossa alegria foi constatar que, sim, ainda há muitos Fusc... quer dizer, Vochos rodando. Muitos ainda estão nas mãos de trabalhadores, com conservação honesta, mas longe do impecável. São poucos os que se vê abandonados nas partes menos nobres da cidade.

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É um cenário um pouco distinto de metrópoles brasileiras, onde tem sido cada vez mais raro ver um Fusca “comum”, e cada vez mais comum ver um Fusca sendo tratado como raridade por entusiastas e colecionadores. O que, inclusive, ajuda a explicar seus preços cada vez mais assustadores.

Este parece ser um reflexo do fato de a produção no México ter acabado sete anos depois da nossa (1996), e sem uma interrupção de outros sete no meio – de 86 a 93, não houve produção de Fusca em São Bernardo do Campo (SP).

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Mas, assim como aconteceu no Brasil – pelo menos nas cidades mais abastadas – no México o Vocho também vai aos poucos ganhando ares de carro clássico e colecionável, conforme os anos passam e a quantidade de exemplares em bom estado nas ruas vai diminuindo. 

Nos classificados de venda online do país, encontra-se geralmente unidades de anos-modelos mais recentes (1993 a 2003), a preços que podem variar de 32.500 pesos mexicanos (equivalentes a cerca de R$ 8.250) a 200.000 pesos (R$ 50.000). 

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Isso porque eles ainda não têm direito à indicação de “auto antíguo”, a placa preta mexicana. Concedida a veículos com pelo menos 30 anos de uso e 80% de originalidade, ela ajuda a fazer com que exemplares mais velhos, dos anos 1980 e 70, sejam comercializadas por até 500.000 pesos ou absurdos R$ 125.000 na conversão.

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É... Teremos que nos conformar com o fato de que, seja chamando-se Fusca, Vocho ou Beetle, o velho VW Sedan ou “carro do povo” – significado de Volkswagen em alemão – vem deixando cada vez mais para trás sua aura popularesca conforme o peso da idade avança. Nem o último país no mundo a produzi-lo está imune a esse fenômeno inexorável.

(Inserir algum vídeo nosso de VW)

Imagens: Leonardo Felix/Mobiauto e Shutterstock


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