Ford Belina 4x4, a primeira e única perua nacional com tração nas 4 rodas

Perua da marca americana marcou época no Brasil, era derivada do Corcel e ficou no mercado nacional por 21 anos
LA
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15.03.2023 às 18:49
Perua da marca americana marcou época no Brasil, era derivada do Corcel e ficou no mercado nacional por 21 anos

A Ford Belina foi apresentada em 1970 como uma versão station wagon do Corcel. Considerada naquela época um veículo moderno para seu tempo, teve grande sucesso e concorria diretamente com a Volkswagen Variant.

Nas versões Standart e Luxo especial, trazia motor 1.3 de 68 cv SAE (aproximadamente 57 cv ABNT) a 5200 rpm e 9,8 kgfm de torque a 3200 rpm, capaz de levar a perua de 0 a 100 km/h em 24 segundos e alcançar os 129 km/h de velocidade máxima, números respeitáveis para o período.

Seus grandes trunfos eram o espaço interno, principalmente pelo porta-malas de 380 litros de capacidade, e seu baixo consumo, com médias de 10 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada, abastecida com gasolina.

Acompanhando o mercado e as evoluções de seus irmãos Ford Corcel cupê e sedan, recebera em 1973 uma nova frente e um motor mais possante, antes usado no Ford Corcel GT XP. Agora 1.4, tinha 75 cv SAE (aproximadamente 63 cv ABNT) a 5400 rpm e 11,6 kgfm de torque a 3600 rpm. Mais bonita, mais potente e com as mesmas médias de consumo, aumentou a participação no mercado, ainda carente de “peruas”.

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Em 1977, a Ford apresentou a segunda geração dela que já era linha 1978, intitulada Ford Belina II. Era mais espaçosa e o design era moderno para época, se tornando a queridinha das famílias que precisavam de muito espaço para viagens, o que garantiu a liderança do segmento até a chegada da Volkswagen Parati, em 1982.

Com uma suspensão confortável e estável, mantinha o motor 1.4 que acabava de ser atualizado na carburação e na curva de torque, passando a ter 78 cv SAE (68 cv ABNT) a 5400 rpm e 11,5 kgfm de torque a 3600 rpm. O consumo era praticamente igual, mesmo a carroceria sendo mais pesada, só que perdia em desempenho para seu concorrente de peso (literalmente), que era a Chevrolet Caravan 2.5.

Para a linha 1980, o problema de desempenho foi solucionado com o motor 1.6 de 90 cv SAE (76 cv ABNT) a 5600 rpm e 13 kgfm de torque a 4000 rpm, e as médias de consumo ainda eram similares.

Naquele momento, a Belina ainda era a queridinha das famílias, e a Ford sabia muito bem disso. Tanto que fabricante lançou o Del Rey em 1981, e um ano depois, a Belina ganhou uma versão luxuosa, chamada de Ford Scala, com feições de Del Rey e mais conforto a bordo.

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Com acabamento superior, introduziu equipamentos inéditos à categoria: travas e vidros elétricos, console de teto com relógio digital, luzes de leitura e um painel que trazia até manômetro de pressão do óleo. O ar-condicionado era opcional, assim como o câmbio automático de 3 velocidades.

Com a chegada do motor CHT em 1983, toda a linha passou a ter mais fôlego, afinal, com gasolina, eram 73 cv ABNT a 5200 rpm e 10,3 kgfm de torque a 2800 rpm. Mesmo o consumo que já era bom, melhorou, fazendo com etanol, 8,1 km/l na cidade e na estrada, 9,8 km/l.

Em 1985, um ano após o lançamento da Ford Pampa 4x4, que você pode conhecer melhor aqui, a Ford lançou a Belina 4x4, primeira perua derivada de carro de passeio a contar com tração nas 4 rodas fabricada no Brasil. Ela ainda recebeu um facelift, com nova frente e mudanças no interior.

Com foco dirigido a fazendeiros e moradores das áreas rurais, a Belina se saia bem em estradas ruins e de terra. É claro que atendia também aos “civis” que usavam o carro na cidade, mas que gostavam de enfrentar terra e lama quando necessário. 

Os pneus eram Pirelli Cinturato MS 175 SR 13 fora de estrada, que garantiam uma boa dirigibilidade na terra e na chuva, mas que eram desconfortáveis no asfalto. A espessura maior da borracha provocava oscilações transversais, ocasionando instabilidade direcional. Além disso, acima de 120km/h, a condução da Belina era desagradável por causa do curto entre eixos - o que não ocorria na Ford Pampa com o mesmo sistema de tração.

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Usando outro tipo de pneus, como os Firestone Town and Country, definidos como 30% cidade e 70% campo a sensação era amenizada. Porém, muitos proprietários colocavam os pneus para asfalto, como os Pirelli P44 na medida 185/70 R13, bastante confortáveis para estrada e inapropriados para o uso fora dela, o que eliminava as vantagens de se comprar este tipo de carro.

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O sistema 4×4 tinha alguns inconvenientes, como a limitação da velocidade em 60 km/h para evitar desgastes dos componentes. Outro ponto era que essa tração só deveria ser usada em terrenos de baixa aderência, como lameiros, e a princípio isso não foi bem explicado no Manual do Proprietário. Não havia também sincronismo entre as rodas dianteiras e traseiras, o que só reduzia seu desempenho.

Equipada com o motor CHT 1.6 e com quatro marchas de relações curtas, não passava de 140 km/h de velocidade máxima e ia de 0 a 100 km/h em 20,99 segundos, enquanto uma Belina com tração nas duas rodas e câmbio de cinco marchas chegava a 143 km/h e ia de 0 a 100 km/h em 17,57 segundos.

Muito robusto na Ford Pampa, o sistema 4x4 era problemático na Ford Belina, como contou a Quatro Rodas na edição de março de 1987. A tração nas quatro rodas funcionou bem até 10.000 km, e daí para frente a experiência foi penosa, sendo o modelo definido como inapropriado, após rodar 50.000 km.

Quando a configuração foi lançada, seu slogan era: “a Belina 85 saiu da estrada. A Belina chegou 4x4, chegou para oferecer o conforto já conhecido e mais liberdade que só uma 4x4 pode oferecer”. E isso frustrava seus usuários que não conseguiam usá-la como um veículo moderno, pois a tração servia apenas para utilização em emergências, como, por exemplo, sair de um atoleiro.

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Verdade seja dita: no Manual era explicado que “a utilização da tração 4x4 deve-se limitar ao essencialmente indispensável, como em terrenos íngremes, lamacentos e arenosos”. E ainda tinha duas recomendações: “procure engrenar a tração 4x4 somente com as rodas dianteiras alinhadas para a frente” e “não ultrapasse a velocidade de 60km/h estando com a tração nas quatro rodas acionada”. Para acionar o sistema, o veículo precisava estar totalmente parado.

Comparado com os modernos modelos 4x4 fabricados no exterior, em que a tração já naquela época era usada de forma integral ou acionada com o veículo em movimento, a Belina frustrava seus proprietários que liam apenas os materiais publicitários, e não os manuais. 

Uma falha no marketing, na venda e mesmo na entrega técnica findou a vida da configuração 4x4, que saiu de linha como Belina Del Rey 4x4 em meados de 1987, logo após a Ford ter unificado sua linha de peruas, eliminando o nome Scala e integrando a Ford Belina à linha Del Rey. 

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O fiasco comercial do modelo 4x4 não abalou a imagem da Ford Belina, que na mesma época chegou ao seu auge. Mesmo com modelos mais potentes e mais espaçosos na concorrência, tinha seu público cativo graças ao bom acabamento e sua suspensão confortável.

A partir de 1989, recebia o motor VW intitulado para a Ford como AP-1800, tendo a maior potência de fábrica em sua carreira. Eram 93 cv com etanol a 5200 rpm e 15,5 kgfm a 2800 rpm, capaz de levar a Belina de 0 a 100 km/h em 14,8 segundos e a 154 km/h de velocidade máxima.

No mesmo ano, chegava a Chevrolet Kadett Ipanema ao mercado, que já estava bem concorrido com os modernos VW Parati, então líder do segmento, VW Quantum, Fiat Elba (que recebia a versão de 4 portas), além da velha de guerra Chevrolet Caravan.

Sua produção durou até 1991, quando a Ford Belina foi descontinuada para dar lugar a Ford Royale, fruto da joint-venture Autolatina, e lançada em 1992.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…

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