VW Voyage: o carro que está morrendo pela segunda vez

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980
Renan Bandeira
Por
15.12.2022 às 13:26
Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

O VW Voyage é um caso raro da indústria automotiva. Não só por ter vivido quase 30 anos no mercado tendo apenas duas gerações, mas por chegar novamente ao fim da linha.

Sua primeira geração esteve nas lojas entre 1981 e 1995. O visual era quadrado com uma carroceria marcada por vincos fortes e quinas, inspirado na silhueta dos carros vendidos na Europa na década de 1970, principalmente no VW Jetta MK1.

Foram 13 anos de intervalo até o VW Voyage retornar para o mercado. Em 2008 quando chegou, tinha uma proposta muito diferente, simplista, beneficiando o amplo espaço interno e porta-malas generoso. Em 2022, depois de 14 anos seguindo essa toada, o modelo morre novamente pelo cansaço. 

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Assim como nos anos 90, muitos brasileiros gostariam de ver uma nova geração do modelo capaz de brigar com a concorrência de igual para igual. Mas a Volkswagen priorizou o projeto do VW Virtus por causa da plataforma ser mais atualizada e segura.

A nós, só resta relembrar a história do Voyage, que teve um papel muito importante para a indústria, e chega ao fim da linha sem uma despedida de destaque.

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Linha do tempo VW Voyage

 
Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

A trajetória do Voyage começou na década de 1980, quando a Volkswagen estreou no mercado uma segunda família de veículos para substituir VW Fusca e companhia. Com base no VW Gol, que era o hatch sucessor do VW Brasília, foram lançados a perua VW Parati, a picape VW Saveiro e o sedan VW Voyage.

Foram dois facelift de 1981 a 1995, sempre acompanhando a evolução do Gol. O primeiro marcado por um interior mais encorpado, leve tapa no visual e a troca das lâminas de ferro nos para-choques por peças plásticas, já no final da década de 1980.

O Voyage chamou atenção por chegar já com motor refrigerado a água - um dos primeiros VW com essa tecnologia. Sua usina vinha do VW Passat, e era um 1.5 de 78 cv e 11,5 kgfm.

Em 1983, foi escolhido para estrear o 1.6 aspirado de 81 cv e 12 kgfm, o motor mais potente da marca até aquele momento. No mesmo ano, a fabricante usou o sedan compacto no Salão do Automóvel para apresentar a configuração “Tecno”, uma espécie de conceito com itens tecnológicos que a Volkswagen acreditava que seriam equipamentos dos carros do futuro.

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

Nele, poderiam ser encontrados desde painel digital, start-stop, piloto automático, bancos com ajustes elétricos e sensor de farol alto - tecnologias usadas atualmente -, até fones de ouvido para o banco traseiro e abertura das portas via controle remoto.

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Na mesma década, o sedan ganhou uma versão esportiva, chamada Super, equipada com motor AP 1.8 - o mesmo de Gol GT e Passat Pointer - de bons 94 cv e 15,2 kgfm. Esse não era o único destaque, afinal, trazia calotas - que seriam usadas no Gol Star futuramente -, faróis de neblina, bancos Recaro e câmbio manual de cinco marchas.

O Voyage ainda ganhou uma variante para exportação, chamada Fox - que não tem nada a ver com o nosso Fox -, vendida no mercado norte-americano. Ela já era equipada com volante quatro-bolas, painel satélite e ganhava alguns adereços diferentes do nacional.

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

O primeiro adeus do VW Voyage

Virando a página para os anos 1990, o três-volumes ganhou a frente "chinesinha" com faróis mais afilados. Na traseira, as lanternas também eram mais esticadas e horizontais, mantendo a inspiração dos carros europeus. Esse visual se manteve até o modelo sair de linha pela primeira vez.

Na década de 90, VW e Ford formaram a Autolatina, e o Voyage ganhou mais uma opção de motor: o 1.6 CHT. Ele era usado pela marca americana no Escort, por exemplo, e chegou a ser chamado de AE, uma sigla que significava Alta Economia - embora o motor não fosse tão eficiente assim.

O sedan também deixou de ser fabricado exclusivamente no Brasil naquele ano, e viu sua produção ser dividida com a Argentina. Ainda naquela década, o modelo ganhou mais uma versão com apelo esportivo, que era chamada de “Sport”, uma espécie de releitura da “Super” vendida anos antes.

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Em 1993, a Autolatina acabou e o Voyage voltou a oferecer apenas os motores AP, porém o sedan já estava com os dias contados. Um ano depois, sua produção era exclusivamente feita na Argentina e, em 1995, saiu de linha pela primeira vez. 

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

A Volkswagen substituiu o modelo pelo Polo Classic, que também era sedan e vinha importado da Argentina. O veículo era um projeto global e mais sofisticado, e a marca tentava emplacá-lo no Brasil, mas não fez o mesmo sucesso do Voyaginho.

Talvez seja aí que a Volkswagen errou com o veículo. Afinal, o Voyage tinha forte apelo no mercado e merecia ter chegado a segunda geração da família Gol com o formato “Bolinha” - carinhosamente apelidada pelos entusiastas. Tanto que, apenas o sedan não chegou nessa fase, já que Parati e Saveiro também ganharam nova geração.

O retorno sem tanto glamour

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

Foram 13 anos fora da linha de montagem, até que, em 2008, ele volta a ser produzido já na “geração 5” do Gol. O projeto já era bem diferente do que se via nos anos 1990, e o mercado também mudava. Tanto que o Voyage chegava com acabamento interno simples, focando em espaço e maior porta-malas.

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Na tentativa de oferecer configurações com uma pegada a mais de conforto, que não fugissem da proposta de um sedan de entrada, a VW deu ao Voyage um câmbio automatizado de embreagem monodisco a seco, conhecido como i-Motion. Naquela época, houve um boom desse tipo de tecnologia no mercado nacional, mas logo o sistema fracassou por causa da manutenção cara e menor vida útil das peças.

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

Daí em diante, as mudanças foram pequenas para o veículo. Ele ganhou retoques visuais sutis em dois facelifts, sendo o primeiro em 2012, e o segundo em 2016. Interessante é que desde em seu retorno às lojas foi ofertado com motor EA111, um 1.6 de 101/104 e 15,4/15,6 kgfm, que foi descontinuado em 2021 por não cumprir com as novas regras de emissão.

Em 2019, ele ganhou uma opção automática. A caixa sequencial de seis marchas gerenciava o motor 1.6 MSI 16V, que entregava até 120 cv e 16,8 kgfm. Entretanto, já eram seus últimos passos no Brasil. A VW acabava de lançar o Virtus, outro sedan compacto, mais refinado e construído sobre a plataforma MQB, atendendo às novas exigências de segurança.

Sedan compacto já teve o motor mais potente da marca, foi excluído da segunda geração do VW Gol e teve até configuração futurista na década de 1980

Dessa forma, o Voyage iniciou sua era do ostracismo. Assim como o Gol, ficou escanteado pela Volkswagen, sem receber atualizações para seguir firme no mercado. Em 2021, veio o grande golpe, com os motores 1.6 saindo da prateleira da marca, mantendo apenas o 1.0 como opção.

Com isso, o modelo perdeu mercado gradativamente mês a mês. Sem atualizações e com Virtus sendo um projeto mais interessante aos olhos da fábrica, o Voyage sairá de linha pela segunda vez. Desta vez, se despede junto do VW Gol, assim como chegou por aqui.

Uma pena a VW não tenha dado uma despedida honrosa ao veículo como ganhou seu irmão hatch, com a opção Last Edition. Mas com certeza ficará marcado na história de muitos brasileiros e também da indústria nacional.

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