Como este Ford popular com base do Gol levou ao fim da Autolatina

Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller
LF
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30.07.2022 às 10:38
Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller

A Autolatina, sociedade estabelecida entre Ford e Volkswagen nos mercados brasileiro e argentino durante quase uma década, entre 1987 e 96, tornou-se uma espécie de folclore entre entusiastas de carros nos dois países.

Gerou misturas interessantes e um tanto bizarras, como produtos da marca alemã derivados da parceira americana – caso de Apollo, Pointer e Logus, nascidos da costela de Escort e Verona – e vice-versa – como os médios Versailles e Royale, frutos da segunda geração de Santana e Quantum.

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Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller
Dianteira do projetro trazia traços agressivos, com faróis e para-choque que lembram os da família Mondeo lançada anos depois 

Claro que houve projetos que ficaram no meio do caminho, tipo a segunda geração do Voyage derivada do Gol bolinha, já mostrada pela Mobiauto. Mas foi o modelo ilustrado neste artigo o principal responsável pelo fim da união entre as duas fabricantes no país.

Quem conta a história, mais uma vez, é Luiz Alberto Veiga, designer da VW por 40 anos, hoje aposentado, em sua conta no Instagram. “Dormindo com o inimigo. A proposta de se usar a plataforma do Gol para gerar um ‘Gol da Ford’ ajudou a acabar de vez com a Autolatina”, revela o projetista.

“Além de não estar no contrato original, o mercado brasileiro tinha melhorado muito e não fazia mais sentido dois concorrentes estarem juntos brigando entre si, dentro de casa. E este foi o fim”, completa. 

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Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller
Primeira versão do mocape em argila tinha uma frente mais simples, que lembrava a do futuro Fiesta

Junto ao texto, Veiga publicou a imagem de um mocape em escala real de um curioso hatch compacto com traseira levemente proeminente, típica de um notchback (provavelmente inspirada no Escort), e lanternas integradas com traços arredondados, seguindo o estilo do sedan médio Taurus.

A plataforma em questão seria a AB9, do Gol de segunda geração, também conhecido como “bolinha” ou G2. A placa “ABA-1996” indica possivelmente o ano previsto para o lançamento do modelo.

Outros registros sobre a Autolatina já apontavam para esse projeto, inclusive com mais imagens do mesmo mocape. Porém, é a primeira vez que um membro presente no dia a dia da extinta Autolatina confirma ter sido esse o estopim para o fim da joint venture.

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Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller
Na primeira versão do mocape, traseira era menos pontuda, mas as lanternas integradas já estavam presentes

Veiga não apontou o ano da imagem, mas podemos afirmar que ocorreu entre 1993 e 94, antes do lançamento do próprio Gol G2. Segundo outras fontes da época, quem determinou o cancelamento desse projeto foi a própria Volkswagen, com medo de que um rival tão próximo da Ford ameaçasse a hegemonia do Gol, à época o carro mais vendido no Brasil.

Como consequência, as duas marcas decidiram romper a sociedade em 1994, o que aconteceu até de maneira surpreendentemente amigável. Tanto que as duas empresas se deram o prazo de dois anos para preparar a separação e seguir caminhos distintos a partir de 1996. 

Projeto derivado do “Gol bolinha” era uma mistura de mini-Escort com mini-Taurus, mas foi vetado pela VW, que não queria um rival interno para seu best seller
Versão final do projeto tinha soluções inovadoras. Além da traseira estilo notchback, repare na maçaneta da porta disposta na vertical 

A dissolução levou ao fim abrupto de modelos como Versailles, Logus e Pointer, visto que tinham projetos, tecnologias e até produção compartilhados entre ambas.

Quanto ao misterioso compacto Ford derivado do Gol bolinha, que nem nome tinha, o veto da VW levou a marca americana a apostar suas fichas no Fiesta, trazido ao país quase que às pressas em 1995, ainda importado. No ano seguinte, passou a ser produzido em São Bernardo do Campo (SP), aproveitando a virada da terceira para sua quarta geração global.

Imagens: Acervo/Autolatina

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