O segundo semestre já chegou e ainda tem muitos lançamentos de carros para desembarcar no Brasil ainda em 2022. A má notícia é que a maioria deles chegará por valores acima de R$ 120.000. Ou seja, o segmento de carros mais acessíveis, foi praticamente esquecido pelas fabricantes.
Pouquíssimos serão os lançamentos dentro de uma faixa até R$ 100.000, o que confirma que o carro popular no Brasil está cada vez mais próximo do fim em nosso mercado.
Quando olhamos para os lançamentos do segundo semestre de 2022 e início de 2023, com exceção do Citroën C3, dos irmãos Fiat Argo e Cronos levemente renovados, do Hyundai HB20S e, talvez, do novo VW Polo 170 TSI, todos os outros modelos chegarão por valores bem mais salgados. Veja a lista:
1. Fiat Fastback: acima de R$ 120.000 2. Citroën C3: acima de R$ 70.000 3. Honda HR-V: acima de R$ 130.000 4. Fiat Argo e Cronos 1.3 CVT: acima de R$ 90.000 5. Fiat Cronos 1.0: acima de R$ 75.000 6. Hyundai HB20S: acima de R$ 80.000 7. Jeep Gladiator: acima de R$ 500.000 8. Novo Volkswagen Polo 170 TSI: acima de R$ 90.000 9. Novo Volkswagen Virtus 170 TSI: acima de R$ 100.000 10. Kia Sportage: acima de R$ 220.000 11. Novo Nissan Sentra: acima de R$ 150.000 12. Honda Civic e:HEV: acima de R$ 160.000 13. Peugeot Landtrek: acima de R$ 200.000 14. Chevrolet Silverado: acima de R$ 400.000 15. Chevrolet Bolt EUV: acima de R$ 300.000 16. Jeep Grand Cherokee 4xe: acima de R$ 500.000
Há três anos, consumidores reclamavam que os carros populares custavam cerca de R$ 50.000. Estavam de barriga cheia, porque agora não é possível sequer comprar um Renault Kwid por menos de R$ 60.000. Para quem deseja um pouco mais de espaço, como no novo Citroën C3, só acima de R$ 70.000.
A cada mês os reajustes deixam os valores mais próximos da casa dos seis dígitos e já temos mais “carros populares” acima dos R$ 100.000 do que abaixo deles. A inflação, a desvalorização do real e crise de semicondutores são as principais responsáveis por uma alta tão atenuada nos valores dos automóveis.
A estratégia é priorizar quem pode pagar mais
Com a falta de insumos no mercado mundial, as fabricantes optaram pela estratégia de priorizar os carros mais caros. Assim perdem em volume, mas ganham em rentabilidade por unidade vendida.
As versões de entrada foram as mais impactadas com as filas de espera, pois a prioridade está nas mais caras. Ano passado, quando todas as configurações da Fiat Strada chegavam a 120 dias de espera, a versão topo de linha, Volcano, era a única com prazo de entrega entre 40 e 60 dias.
Essa não é uma realidade de 2021, quando olhamos para a lista dos dez carros mais vendidos em 2022, cinco deles estão acima dos R$ 120.000 com versões que passam de R$ 200.000 como no caso da Fiat Toro e do Jeep Compass.
Modelos de entrada, que deveriam ser mais acessíveis como Chevrolet Onix e Hyundai HB20, já ocupam faixas de preço entre R$ 80.000 e R$ 110.000. A Fiat Strada, modelo que lidera o ranking, tem uma única versão na casa dos cinco dígitos.
1. Fiat Strada: 51.046 unidades - entre R$ 93.890 e R$ 123.690 2. Hyundai HB20: 42.834 - entre R$ 76.690 e R$ 114.390 3. Chevrolet Onix: 33.850 - entre R$ 77.450 e R$ 105.950 4. Volkswagen T-Cross: 32.871 - entre R$ 111.800 e R$ 159.390 5. Fiat Mobi: 31.453 - entre R$ 63.390 e R$ 66.390 6. Jeep Compass: 31.029 - entre R$ 177.713 e R$ 251.800 7. Hyundai Creta: 29.255 - entre R$ 124.790 e R$ 171.790 8. Chevrolet Tracker: 26.966 - entre R$ 117.390 e R$ 153.250 9. Chevrolet Onix Plus: 26.941 - entre R$ 84.850 e R$ 111.650 10. Fiat Toro: 25.863 - entre R$ 138.490 e R$ 213.390
A falta de componentes, aliada à estratégia das fabricantes para proteger seus caixas, provocou uma inversão na pirâmide de carros novos no Brasil, onde carros mais caros, como os SUVs, ganham cada vez mais mercado, e modelos de entrada perdem espaço, além de ficarem cada vez mais caros.
Mas a equação é ainda mais complexa se considerarmos o fator de que nos últimos anos carros populares têm ganhado tecnologias inéditas e claro que isso tem um custo. Alguns itens são opcionais, mas outros itens de segurança são obrigatórios. Então, não tem como fugir.
O consumidor pode estar descontente, a ponto de ter que migrar para o mercado de seminovos ou até usados. Mas as fabricantes não só encontraram uma saída, como descobriram um mercado muito atrativo.