“Gasolina caseira”: já tem brasileiro fazendo, mas riscos são enormes

Gambiarra visa a economizar gastos com combustível, mas rende menos que a gasolina comum e ainda pode custar muito caro para o motor do seu carro
Camila Torres
Por
31.03.2022 às 13:14
Gambiarra visa a economizar gastos com combustível, mas rende menos que a gasolina comum e ainda pode custar muito caro para o motor do seu carro

Deveria ser só um meme, mas já tem consumidores levando a sério a ideia de aprender a fazer uma suposta receita de “gasolina caseira” para abastecer o carro e economizar um pouco na hora de abastecer no posto. 

Com os preços dos combustíveis cada vez mais caros, brasileiros estão apelando à famosa gambiarra de uma forma que pode parecer inicialmente esperta, mas tem tudo para provocar um prejuízo ainda maior em médio e longo prazo.

Só de 2021 para 2022, o etanol teve um aumento médio de 52,87% em seu valor por litro, enquanto a gasolina subiu 37,06% e o diesel, 37,72%. Só em março deste ano, a gasolina passou por um novo reajuste de 18,8% e o diesel, de 24,9%. 

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Tudo isso vem deixando os proprietários de automóveis cada vez mais apertados financeiramente. Mas, como brasileiro nunca perde a piada, logo surgiram memes como o “aprenda a fazer gasolina caseira”. 

O problema é que tem gente realmente testando uma mistura de gasolina com óleo de cozinha usado. Atenção: tal mistura pode ser mais nociva para o motor do seu carro do que usar um combustível adulterado com água, por exemplo.

O óleo de cozinha tem propriedades aderentes, que fazem dele uma espécie de “cola” em contato com os componentes do carro. Para saber os danos que o tal combustível caseiro pode causar ao automóvel, a Mobiauto conversou Erwin Franieck, engenheiro mecânico da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva). 

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Além de citar a proporção dos danos, o engenheiro explica como funcionam os processos de deterioração dos componentes mecânicos quando entram em contato com o óleo de cozinha. Confira:


7 Perguntas que te farão desistir de experimentar a “gasolina caseira”

1. Gasolina caseira rende tanto quanto a gasolina comum?

Não. Nenhum combustível adulterado rende tanto quanto o combustível original. Segundo Franieck, no caso da “gasolina caseira” a perda de eficiência é ainda maior: “A queima é muito mais lenta e com detonações, que irão jogar mais energia no escapamento que no motor. Com isso, o consumo em km/litro será muito prejudicado”. 

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2. Quais danos a “gasolina caseira” pode causar no carro?

O engenheiro mecânico esclarece que a gasolina caseira pode causar diversos danos ao carro, pois, além da oxidação do óleo e da proliferação de bactérias, ele reduz as propriedades antidetonantes do combustível e ainda cria uma camada aderente que vira uma espécie de cola nos componentes injetores. 

Por isso, a lista de danos pode ser extensa: a “gasolina caseira” pode colar bicos injetores, travar os mancais, degradar o filtro de combustível, injetores, catalisador, sonda lambda e até contaminar o óleo do motor. Franieck ainda alerta que, em casos mais graves, as fortes detonações podem furar os pistões em cargas mais elevadas.

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Vários desses danos podem ser irreparáveis, ao ponto de demandarem a substituição das peças e a retífica do motor, o que significa que o prejuízo será superior a muitos tanques de gasolina cheios.


3. Usar “gasolina caseira” só de vez em quando pode danificar os componentes mecânicos do carro?

Sim. Usar uma única vez já pode ser o suficiente para consequências graves. Para ser mais didático, o engenheiro da AEA até dá um exemplo: 

“É como usar uma tesoura de tecido para cortar plástico duro. Ela perde parte do corte logo no começo. Talvez isso seja imperceptível na hora, mas com o passar do tempo a falha do corte se torna pior, até rapidamente perder a precisão”.

O mesmo acontece com os componentes do carro. Os danos se agravam com o uso do isolador da vela sujo, o filtro pré-entupido, injetores com depósitos... Franieck faz outro alerta, de malefícios provocados ao meio ambiente: 

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“Se a mecânica do carro já funciona de forma precária, talvez os danos sejam menos perceptíveis no automóvel, mas ainda são graves para o meio ambiente. É um prejuízo para o ar, é como jogar lixo na rua, só que em estado gasoso”, conclui. 


4. O carro pode “morrer” por estar abastecido com gasolina caseira?

É um risco. O engenheiro mecânico explica que os prejuízos do óleo de cozinha aos componentes mecânicos acontecem de uma forma muito rápida: 

“Em poucos quilômetros, a vela de ignição pode parar de centelhar, devido à camada de depósitos que se forma no isolador. Em seguida, o filtro de combustível pode entupir, comprometendo o trabalho da bomba de combustível a ponto de quase parar o motor”, afirma Franieck.

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5. Usar gasolina caseira em motor turbo é pior que no motor aspirado?

Sim. Em um motor turbo, os efeitos da “gasolina caseira” são ainda mais nocivos, porque esse tipo de propulsor trabalha com maior densidade de potência, o que demanda um poder antidetonador melhor. 

Com a presença do óleo de cozinha, essa característica se altera, conforme explicamos na resposta da pergunta 2. O resultado é uma queima tardia e uma temperatura mais elevada dentro do turbocompressor, explica o especialista.

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6. Como “salvar” o carro depois de usar “gasolina caseira”?

Senta e chor… Brincadeira! Talvez ainda seja possível salvá-lo usando aditivos de marcas confiáveis para realizar a limpeza e recuperar os componentes. Tudo, claro, depende do nível do dano e de um pouco de sorte. Em estados mais graves, só a substituição das peças danificadas conterão a degradação de outros componentes.

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7. Como economizar gasolina?

Há um ano, a Mobiauto ensinou cinco formas de economizar até 50% de combustível sem instalar nada no carro, que vão de dicas de direção até saber como, quando e onde abastecer. Basta clicar no link e conferir.

Imagem: Reprodução internet

 

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