Dirigir, o ato que nos fascina na infância e nos irrita quando adultos

Enquanto algumas crianças e adolescentes mal podem esperar a hora de tirar a CNH, na vida adulta a prática vira sinônimo de rotina e estresse
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21.07.2022 às 18:23
Enquanto algumas crianças e adolescentes mal podem esperar a hora de tirar a CNH, na vida adulta a prática vira sinônimo de rotina e estresse

Por Antonio Frauches

Você pode ser um fanático, um entusiasta, ou um simples usuário de veículos automotores, que só precisa de um modo cômodo e seguro de ir do ponto A para o ponto B. 

Mas com certeza, sendo você quem for, você se lembra da primeira vez que se sentou atrás de um volante e domou um carro. Definitivamente, essa sua memória carrega uma riqueza de detalhes incomum, provavelmente você se lembra da textura do volante, do cheiro do carro, se estava frio, ou calor…

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Aprender a dirigir é um ato mágico e marcante. Tanto que é um dos poucos momentos que fazem nascer a paixão por carros em quem antes não ligava muito. Se a paixão já existe, aí sim: é um momento que será eternizado pela mente em 4K e 4D.

Para nós, apaixonados por carro, esse momento é o fim de uma expectativa que pode durar mais de uma década. Eu mesmo, não me lembro quando foi a primeira vez que me sentei no colo do meu pai e “guiei”, controlando só o volante.

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O primeiro contato com um volante

Provavelmente eu tinha uns três ou quatro anos, idade parecida com a que minhas filhas tiveram essa mesma experiência. Eu lembro de ter essa idade e brincar no Corcel II do meu pai, lembro do volante de dois raios e do emblema azul da Ford.

Desde essa época eu queria dirigir. Conhecia a teoria, sabia o que cada pedal fazia e como deveria ser acionado. Conhecia o peso da embreagem, o trilho do trambulador, a relação entre o curso do acelerador e o subir das rotações. Mas era tudo pela metade, com o carro parado.

Controlar o volante é uma meia experiência. Pode valer muito para uma criança, mas no fim é como um encontro que termina no beijo de boa noite. Tudo isso vai alimentando um monstro interior que tem como desejo mais forte e obscuro roubar o carro dos pais e sair pelo mundo, sem rumo.

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A primeira experiência de conduzir um carro

Até que toda essa espera culmina no dia que você assume o controle. E toda a teoria que você conhece, observando o piloto durante anos, de nada te ajuda. O nervosismo toma conta do seu corpo, as pernas tremem, a mão mal consegue girar a chave no contato. 

De repente você solta levemente a embreagem, até ela não precisar mais do seu pé esquerdo. O pé direito começa a beliscar o acelerador. Você sente no volante as imperfeições da estrada de terra da chácara. E nesse mágico segundo da sua vida, você se sente um adulto.

No meu caso, esse momento aconteceu quando eu tinha nove anos. Um belo dia, do nada, meu pai me deixou dirigir a Blazer DLX 4.3 nova dele. Eu era pequeno para me sentar sozinho no banco do motorista, e ele provavelmente ficou preocupado pelo fato de a Blazer não ter o freio de mão entre os bancos dianteiros, para ele puxar em caso de emergência. 

Então, chegou o banco todo para trás, e eu me sentei no vão entre ele e o volante. E a mágica da direção aconteceu. Desde esse momento, tudo o que eu queria era a minha habilitação. Queria tanto que quando fiz 16 anos, liguei para o Detran.

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A ansiedade de tirar a CNH

O motivo da ligação era só um: saber como eu fazia para tirar minha CNH aos 16. Diante da óbvia negativa do atendente, questionei se eu poderia adiantar o processo caso fosse emancipado, e precisasse do carro para trabalhar... Lógico que desligaram na minha cara.

Até que chegam os maravilhosos 18 anos e você pode se matricular em alguma autoescola para conseguir sua licença para a vida. Para mim, foi meio que uma tortura ter que andar a 40 km/h no Fiat Mille pelas vias expressas do Rio de Janeiro. 

Para aumentar minha ansiedade, reprovei na primeira tentativa. Na baliza, deixei o para-choque traseiro do Mille encostar no ferro. Mero nervosismo... Mais um mês de espera até a segunda tentativa.

Depois dessa saga, eu finalmente estava habilitado. E em posse do meu primeiro carro: um Fusca 1995. E então a mágica acontece! Dirigir é algo único. Um ato de liberdade, um rompimento com a rotina. Um momento de interação entre homem e máquina, onde você é o senhor do destino.

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Quando o fascínio vira rotina

Eu entendo: você passa duas horas por dia no trânsito, no interminável anda-e-pára das metrópoles. Quando chega em casa, você está exausto, acabado. Dirigir é bom? Onde? Para quem? Sim, tudo que cai na rotina se torna um peso, um dever. 

Você precisa dirigir para chegar ao trabalho, precisa ir rápido para chegar na escola a tempo de tirar seus filhos, caso contrário eles ficarão presos lá para sempre. E bem nessa hora, às 18:15 de uma quarta-feira, a Marginal resolve engarrafar... Que maldição!

Dirigir é dirigir, não há como negar que o vai e vem necessário na nossa rotina nos toma muito tempo e irrita, sim. Esse lado não é tão mágico, concordo. Mas e quando você leva seu carro para aquela volta no final de semana?

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Não precisa ser um antigo ou esportivo. Não precisa ser aquela estrada entre as montanhas e a praia, ou aquela pista de cascalho por entre os campos de girassol. Pode ser uma volta pelo centro da cidade, em um domingo de manhã. É simplesmente enxergar sua vida por outra perspectiva.

Quando dirigimos, nos conectamos com séculos de evolução tecnológica, vamos para onde queremos, pelo caminho que desejamos. Fazemos o que nossos antepassados fizeram para romper com gerações de viagens à cavalo. É só prestar atenção, você vai achar a sua receita para um passeio relaxante. A música, a rota, a companhia…

Imagens: Acervo pessoal

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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