Por que o carro gera paixão como nenhuma outra máquina feita por humanos

Toda invenção da fascinante ciência da engenharia tem seu charme, mas nenhuma desperta tanto amor e interesse quanto o automóvel
JC
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09.06.2022 às 10:13
Toda invenção da fascinante ciência da engenharia tem seu charme, mas nenhuma desperta tanto amor e interesse quanto o automóvel

Por Antonio Frauches, do Podcast Perda Total

Você se considera um apaixonado por carros? Eu entendo que se você está por aqui, um portal dedicado ao meio automotivo, no mínimo interessado você é. Pode não ser um gearhead (termo em inglês que traduzido literalmente vira “cabeça de engrenagem”, mas que quer dizer apaixonado por veículos), mas pelo menos curioso você deve ser. 

Sendo assim, você provavelmente se encaixa naquele grupo que não consegue entender como alguém pode ser tão apaixonado por carros. Você até entende e simpatiza com quem é louco por superesportivos ou grandes picapes de rodas enormes, ou ainda veículos luxuosos.

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Mas tenho certeza que, quando você vê aquele cidadão todo feliz, passeando com seu Chevette 1980, pensa: “Que maluco!”. Então, para começarmos a entender essa paixão alucinante, que nos drena a conta bancária, temos que recuar à gênesis e perguntar: o que é um carro? Leigos responderão que é “uma máquina” ou “um meio de transporte”.

Carros são tudo que os sortudos leigos e não apaixonados descrevem. São máquinas, objetos inanimados, trambolhos, meios de transporte… “Então como é possível que tantas pessoas sejam apaixonadas por eles? Não faz sentido, é como se alguém fosse aficionado por geladeiras, ou impressoras…”. Sim, exatamente! 

“Mas ninguém é entusiasta de geladeiras…” Quem te disse? Lógico que sim! Podem ser mais raros que nós, os loucos por carros, mas existem. E pela mesma razão. Máquinas são fascinantes! Sejam elas do tipo que for… 

Imagine uma máquina que, usando apenas energia elétrica, consegue atingir em seu interior temperaturas abaixo de 0 °C e fazer aquele bife durar semanas. É mágico, romântico! O mesmo vale para os carros, só que multiplicado por mil. 

Carros são máquinas extraordinárias em todos os sentidos. Revolucionaram o modo como a humanidade se locomove. Possibilitaram o crescimento de cidades antes isoladas. E, como se não fosse suficiente, são capazes de instigar todos os nossos sentidos. Tudo isso faz com que carros tenham alma!

Ok, alguns carros… Existem modelos com os quais você precisa ter uma ligação muito forte para sentir essa paixão. Não, eu não estou limitando a paixão somente a superesportivos ou modelos extremamente caros… Isso não tem a ver com o valor. É só que alguns carros parecem ter menos alma. Soa estranho? Isso também acontece com seres humanos, meu amigo. 

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Toda invenção da fascinante ciência da engenharia tem seu charme, mas nenhuma desperta tanto amor e interesse quanto o automóvel

Sabe aquele cara do seu trabalho que não tem hobby, parece não ter gostos pessoais, no máximo segue uma ou outra moda de momento… Todo ambiente de trabalho tem alguém assim. O seu não tem? Ih… cuidado: esse cara pode ser você… Bom, acalme-se: seres humanos podem evoluir e se transformar, passando por metamorfoses incríveis. Carros, nem tanto…

Alguns modelos simplesmente não despertam essa paixão na maioria das pessoas. Só conseguem ter algum impacto naqueles que têm uma memória afetiva envolvendo aquele carro ou algo do tipo. Exemplos? Toyota Corolla, VW Fox, Honda Fit… 

É difícil de explicar, parece que eles não têm algo que os torne especiais, ou talvez possuam dirigibilidade anestesiada, visual sem qualquer apelo… É tudo muito comum, sem sal…

A maioria dos carros, mesmo populares, médios ou sem nenhum apelo luxuoso ou esportivo, conseguem cativar uma atenção especial em entusiastas que nunca tiveram experiência com aquele modelo. 

São cheiros, sons, vibrações, características simples como um botão de acionamento do vidro elétrico em um local diferente do normal. Conseguimos curtir isso em níveis que pessoas normais jamais entenderão.

É lógico: quando a experiência envolve um superesportivo ou um carro extremamente caro e raro o impacto é diferente. Não é como se não ligássemos para seu preço ou status, mas o sentimento não é como se estivéssemos em um hotel cinco estrelas, ou em um restaurante caro. É algo além, uma experiência transcendental.

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É como se um apaixonado por rock conhecesse Jimi Hendrix pessoalmente, ou se um amante de futebol pudesse bater uma bola com Garrincha. É uma ligação alma com alma. Tudo o que descrevi no parágrafo anterior é potencializado.

E você fica marcado, uma cicatriz boa surge no fundo da sua memória e fica lá para sempre, te tornando capaz de contar a história daquele dia, hora ou minuto com riqueza de detalhes aos seus netos, daqui a cinquenta anos.

Se você chegou até aqui e ainda não conseguiu entender, faça um teste. Da próxima vez que você andar em um carro diferente do seu, seja ele de aplicativo, táxi ou de um amigo, ou ainda: da próxima vez que você alugar um carro, preste atenção nos detalhes. Perceba as diferenças entre seu carro e aquele. Os cheiros, as texturas, as cores... Os pontos positivos e negativos.

Pode parecer uma análise racional e lógica, mas é assim que começa. Após algum tempo tudo isso será feito involuntariamente, e essas diferenças lhe saltarão aos olhos, como um rosto conhecido na multidão.

A única contraindicação é a seguinte: se você tiver algumas poucas moléculas gearheads no seu corpo, corre o risco de se tornar um apaixonado por carros inveterado, daqueles que falam sobre carros o tempo todo, com todos, em qualquer lugar. Você começará a reparar na chave, no peso dos pedais, na espessura do aro do volante, na maciez dos bancos. É um caminho sem volta... 

Isso não significa que você comprará um carro antigo, e gastará todas as suas economias para reformá-lo. Quer dizer apenas que você apreciará mais esse mundo sobre rodas, e provavelmente o Discovery Turbo tomará um pouco do espaço que a ESPN ocupa na sua TV... Simplesmente porque carros são viciantes, se você olhá-los direito.

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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Imagens: Shutterstock e Acervo pessoal

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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