Hedmos 06: um “Peugeot-Citroën” com 520 km de alcance por R$ 95 mil
Atrás da Grande Muralha, se operam mudanças no marketing automotivo que, despercebidas pelo brasileiro, vão aprofundando o abismo que, hoje, já separa as novas marcas chinesas dos fabricantes tradicionais. Há menos de uma década, a Dongfeng Peugeot-Citroën – joint venture chinesa de propriedade igualitária entre a própria Dongfeng Motor e a Stellantis, criada há mais de 30 anos – se orgulhava das marcas francesas e as estampava na grade dianteira de seus principais produtos.
Mas este conceito vem sendo revisto e, lá, com a virada da eletromobilidade se consolidando numa marcha acelerada, o grupo optou pela criação de uma nova marca descolada das europeias, a Hedmos, para o lançamento do novo “SEV” (um utilitário-esportivo totalmente elétrico, cuja sigla criamos a partir da junção de SUV+EV). De modo que o novo Hedmos 06 começa a ser vendido neste mês sem o clássico “deux chevrons” nem o simpático leãozinho.
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“Não há como saber se os consumidores chineses vão aceitar esta nova marca, mas o fato inegável é que as antigas joint ventures têm cada menos poder de sedução no mercado doméstico”, comenta o editor-chefe do portal “CarNewsChina”, veículo que melhor faz a ponte entre as novidades orientais e ocidentais, Jiri Opletal. “Mesmo com os executivos da companhia depositando suas esperanças nesta estratégia, as chances de sucesso, ao meu ver, não são altas”, avalia Opletal.
De fato, o novo Hedmos 06 nada mais é do que uma versão “ocidentalizada” do Aeolus L7, lançado em setembro do ano passado pela própria Dongfeng, na China. Trata-se de um “SEV” elétrico bem qualificado, com porte (4,67 metros de comprimento, 1,90 m de largura, 1,61 m de altura e 2,77 m de distância entreeixos) semelhante ao do Jeep Commander (4,76 m de comprimento).
Em termos de tamanho, ele se alinha imediatamente acima dos Citroën Basalt (4,34 m de comprimento) e C3 Aircross (4,32 m), bem como do novo Peugeot e-2008 (4,30 m), lançado no Brasil no final de 2024. Aqui, a grande diferença em relação a dupla da Citroën fica por conta da motorização elétrica, disponível apenas para para o Peugeot.
Comparado ao e-2008 vendido no Brasil, o Hedmos 06 é mais potente e – acredite – eficiente. Seu motor de 217 cv (160 kW) traz 59 cv a mais que o do Peugeot, o que se traduz em acelerações mais rápidas, 0 a 100 km/h em 6,9 s, contra 8,9 s do e-2008 GT, e maior velocidade máxima, de 170 km/h contra 150 km/h. Já seu pacote de baterias, com capacidade de 62,3 kWh (54 kWh, no e-2008), garante alcance de até 520 quilômetros sem necessidade de recarga, com recuperação de até 80% da carga, a partir de um nível de 30%, em apenas 28 minutos.
São números que não deixam ninguém de queixo caído, é verdade, mas nada mal
para um modelo que, no mercado chinês, partirá de o equivalente a R$ 94 mil
(120 mil yuans), uma “bagatela” que corresponde à menos da metade do preço do
Peugeot e-2008 GT (R$ 269 mil) vendido no Brasil, que é menor, menos potente e
– vale sublinhar – não tem alcance nem de 270 km.
“A própria logomarca da Hedmos, inspirada numa bússola,
representa uma identidade bem diferente da orientação francesa”, pontua Jiri
Opletal, do “CarNewChina”. O mesmo pode-se dizer da parte técnica, em que a
suspensão traseira multi-link do novo “SEV” substitui o tradicional eixo de
torção, na traseira.
Para além de todo o avanço que o Hedmos 06 traz, por menos de R$ 95 mil, vale
citar que o estilo minimalista do interior, com destaque para duas telas com
10,2 e 14,6 polegadas, para o volante multifuncional e o carregador sem fio
para smartphones, não significa economia de palito de fósforo, não.
Na verdade, ele reserva “espaço” para a futura integração de cockpits inteligentes e direção autônoma (Nível 3) com interações por inteligência artificial (IA), além do implemento de baterias de estado sólido. Ou seja, a distância abissal que separa este lançamento chinês daquilo que é ofertado por aqui, no Brasil, tende a passar à escala astronômica nos próximos anos. Fazer o quê?!?
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo