Leapmotor B10 é SUV elétrico que pode chegar ao Brasil e tem preço de Kwid
Agora, é para valer! A Leapmotor iniciou, na última quinta-feira, as vendas regulares do seu novo SUV, o B10. O lançamento desperta muito interesse por aqui, não só pelo fato de ter recebido 15 mil pedidos na pré-venda, mas pela possibilidade de desembarque no Brasil e até mesmo de nacionalização – o que, pessoalmente, eu duvido muito.
Atrás da Grande Muralha, o Leapmotor B10 é ofertado em cinco versões com preços que partem de 99.800 yuans (o equivalente a R$ 80.600) e chegam em 129,8 mil yuans (R$ 105 mil), valores que correspondem a menos da metade do preço básico de um Peugeot e-2008 (R$ 269.900), que é o único SUV totalmente elétrico ofertado pela Stellantis no mercado nacional – para quem não sabe, a Stellantis e a marca chinesa têm uma joint venture global, a Leapmotor Internacional, em que a gigante ocidental detém 51% de participação.
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Tanto na China quanto na Europa, o B10 terá o desafio de tomar pelo menos um pouco das vendas do Atto 3, da BYD, um dos líderes globais da marca no primeiro bimestre deste ano, isolados seus modelos 100% elétricos, atrás apenas do Dolphin Mini e do Qin L – vale lembrar que os BYD Song e Qin Plus também são ofertados com motorização híbrida.
Hoje, a Leapmotor não tem nenhum carro elétrico entre os 20 mais vendidos do mundo, mas, no mercado chinês, ela apareceu na quarta colocação na última semana de março. Todavia, seu volume comercial é 7,5 vezes menor que o da BYD. De qualquer forma, a Leapmotor liderou entre as startups, à frente da Li Auto, da Aion (GAC), da Xpeng e da Xiaomi, além de outras sete novas marcas, com 37.095 unidades emplacadas no mês passado.
De volta ao B10, seus grandes trunfos são o sistema elétrico de 800 volts e o sistema LiDAR, ao qual se somam duas câmeras frontais (de 8 MP), quatro câmeras surround (de 3 MP), 12 sensores ultrassônicos e três radares para condução autônoma em centros urbanos, com base no piloto automático NOA da marca.
Há dois motores, de 177 cv (132 kW) e 215 cv (160 kW), e dois pacotes de baterias, de 56,2 kWh e 67,1 kWh, que garantam alcances de 510 e 600 quilômetros, respectivamente, sem necessidade de recarga. A Leapmotor afirma que a recuperação de 30% da carga até 80% leva 19 e 20 minutos, na ordem, apostando nos menores tempos de recarga e na maior autonomia em relação ao Atto 3, da BYD.
Em termos de porte, o B10 é 6 cm maior (4,51 metros de comprimento), 10 cm mais largo (1,88 m de largura) e 4 cm mais baixo (1,65 m de altura) que o Atto 3, com uma distância entre-eixos de 2,73 m – comparado ao e-2008, da Peugeot, ele é 21 cm mais comprido, levando vantagem de 23 cm na distância entre-eixos. Seu porta-malas de 420 litros (374 l, no e-2008) é um pouco menor que o do BYD – 440 litros – mas a Leapmotor afirma que o volume pode ser ampliado para 515 l com um “truque” que libera mais espaço sob o assoalho.
Requalificação
Quando e - é bom frisar - se desembarcar no Brasil, seja importando, produzido localmente, com marca e nome rebatizados pela Stellantis, o Leapmotor B10 vai se posicionar acima do e-2008, da Peugeot, portanto numa faixa de preços na casa dos R$ 300 mil. Sua chegada, inclusive, reposicionaria o EV do leãozinho, mas não é crível que a companhia tenha condições de abrir uma guerra de preços contra a BYD, por aqui – na China, ele sai mais em conta que o Atto 3. O mais provável é que o lançamento seja uma opção de nicho, que responda mais por uma requalificação de seu portfólio do que, propriamente, por vendas expressivas. Afinal, trazer um automóvel da China e colar sua logomarca nele é uma coisa, enquanto enfrentar a líder mundial em novas energias é outra, infinitamente mais difícil.
O que importa é que, por fora ou por dentro, não há como negar que o B10 dá uma chacoalhada nos modelos que a Stellantis oferta hoje, no Brasil, com qualquer uma de suas marcas. Se, externamente, suas linhas mantêm os volumes tradicionais, com a seção dianteira bem destacada, internamente ele apresenta uma arquitetura mais avançada.
No interior, destaque para a tela de 8,8 polegadas que faz as vezes de quadro de instrumentos e para o visor com resolução de 2,5K do sistema de infotainment, sensível ao toque, de 14,6 pol – o sistema de infotainment é comandado por um chip Snapdragon 8155, da Qualcomm, e o sistema OS 4.0 Plus integra comandos por voz e inteligência artificial (IA), com espelhamento HiCar (para suporte de smartphones da Huawei) e Apple CarPlay.
O leitor já deve ter reparado que a imprensa especializada brasileira nutre o fetiche em relação ao desembarque de um “SUV” como este, por aqui, ostentando uma das marcas que há tempo os proporciona todo tipo de mordomia. Mas o fato de travesti-lo de um modelo “semi-nacional” não fará a menor diferença, se a etiqueta de preços exibir um valor na casa dos R$ 300 mil. O fato é que os chineses não são trouxas – pergunte ao Trump – e a parceria entre uma startup como Leapmotor e a Stellantis não tem o condão de ameaçar nem a Geely e muito menos a BYD.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo