Argentino cria picape movida a lixo com autonomia de 1.000 km

Engenheiro adaptou uma Ford Falcon Ranchero para funcionar usando até cinzas de carvão e caroço de azeitona. E ensina a receita para qualquer um fazer o mesmo

LF

Por Leonardo Felix

06.08.2021 às 16:47

Há quantos anos não vemos discussões intermináveis sobre como reaproveitar do lixo que geramos, como criar carros que não poluem e como desenvolver biocombustíveis que não são nocivos ao meio ambiente, como a gasolina e o diesel derivados do petróleo?

Pois o engenheiro argentino Edmundo Ramos, de 63 anos, morador do município de Alta Gracia, na província de Córdoba (região central do país), resolveu unir os três temas em uma solução só.

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Ramos, que na verdade é um americano filho de argentinos (que estavam expatriados nos EUA por motivos de trabalho quando ele nasceu), transformou uma picape Ford Falcon Ranchero ano-modelo 1983 em um veículo movido a lixo. E ele ensina publicamente a receita em sua página no Facebook para qualquer um fazer o mesmo.

“Me inspirei nos gaseificadores que eram usados na Primeira e Segunda Guerra Mundial, mas simplificados”, contou o engenheiro em entrevista ao site Autoblog Argentina. “Criei um gaseificador que não poderia ser mais simples: é um tanque de metal com uma tampa e duas presilhas. Ponto, não há mais nada. Não é uma usina termonuclear”, resumiu.

Engenheiro adaptou uma Ford Falcon Ranchero para funcionar usando até cinzas de carvão e caroço de azeitona. E ensina a receita para qualquer um fazer o mesmo

Picape movida a lixo vem sendo testada desde 2019

Pode ser simples, mas seu gerador de gás combustível a partir do lixo não é lá muito prático. Tanto que o sistema toma toda a caçamba de sua Falcon Ranchera, que vem equipada com um motor seis-cilindros em linha 12V longitudinal de 3,6 litros.

O hermano criou até um reboque com outros três reservatórios para aumentar o processo e melhorar a autonomia da picape, que fica entre 600 e 1.000 km.

Geringonça que gera o gás combustível ocupa toda a caçamba da Falcon Ranchero

Adaptações ao motor 3.6 carburado

Segundo Ramos, para adaptar o propulsor a receber o gás gerado pelo lixo sólido foi preciso fazer modificações na bateria e no motor de arranque, além de encontrar a mistura estequiométrica adequada do ar atmosférico com o gás no carburador. Para isso, ele contou com a ajuda de um amigo mecânico.

O primeiro teste ocorreu em outubro de 2019, em um trajeto de aproximadamente 50 km no qual a picape alcançou 95 km/h. Depois disso, a velocidade máxima alcançada pelo engenheiro com ela e registrada na página do Facebook foi de 115 km/h.

Em setembro deste ano, Edmundo Ramos iniciará uma jornada com a Ranchero movida a lixo para cruzar a Argentina de La Quiaca (ponto mais ao norte do país) até o Uchuaia (área mais ao sul de toda a América). Para tanto, vem contando com a ajuda de colaboradores em diversos locais do país, que já estão juntando resíduos para doar a ele.

Sistema visto de cima: simples e, aparentemente, sem receber os devidos cuidados contra ferrugem

Como a Ranchero transforma lixo em combustível

Mas, afinal, que tipo de lixo a Falcon Ranchero aceita? Inicialmente, Edmundo usava sementes de carvalho, tão abundantes em sua cidade a ponto de terem que ser tirados das ruas e quintais das casas periodicamente. Depois, passou a usar cascas de noz e amêndoa, caroços de azeitona e pêssego e, principalmente, cinzas e restos de carvão.

O engenheiro garante que pelo escapamento da picape saem apenas vapor de água e gás carbônico, “como o que os humanos exalam na respiração”. “Não há nada poluente. Com gasolina, essa Falcon expelia chumbo, enxofre, ácido sulfúrico, ácido nítrico, monóxido de carbono e um montão de outras porcarias”, comparou.

o reboque, mais três tanques para gaseificar o lixo e ampliar a autonomia da picape

Ramos chega a afirmar que sua picape movida a lixo “polui menos que um carro elétrico”.

E como funciona o processo? O lixo é depositado no gaseificador de metal, onde é esquentado a uma temperatura de 370°C até ebulir o gás. Este passa então por um processo de resfriamento na tubulação sanfonada até chegar a dois filtros: o primeiro, a banho de óleo; o segundo, um filtro sólido.

Por fim, um secador de cabelo sopra o gás através de uma tubulação multiválvula até o carburador. Pensou em fazer o mesmo com sua Belina ou outro carro carburado qualquer? O argentino disponibiliza gratuitamente um guia de conversão que você pode acessar clicando aqui.