O injustiçado motor 1.0 16V que equipou o VW Gol nos anos 1990

Motores de 16v e turbinados da Volkswagen sofreram com a manutenção e ganharam má fama no mercado de usados
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25.01.2023 às 21:00 • Atualizado em 16.02.2023
Motores de 16v e turbinados da Volkswagen sofreram com a manutenção e ganharam má fama no mercado de usados

Em 1996 a gama de motores da Volkswagen se resumia ao AE-1000 (de origem Ford, ou CHT para os mais íntimos), exclusivo do Gol 1000i e Gol 1000, motor AP (1.6/1.8/2000) da linha Gol e Santana e o motor Boxer 1.6 do VW Fusca e Kombi.

Com a extinção da Autolatina – Joint venture firmada entre VW e Ford de 1987 a 1996, a Volkswagen lançou em 12 de outubro de 1996 uma nova fábrica de motores e um novo motor para sua gama mais vendida: a dos carros populares de 1.000 cilindradas.

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Nascia então o longevo motor EA-111, que se despediu ano passado na versão 1.6 8v graças ao Proconve L7, em vigor desde 01 de janeiro de 2022. 

Nesta fase, o Proconve L7 "baixa a régua" e exige níveis menores de gases do escapamento - como monóxido de carbono e aldeídos. Em resumo, os motores têm que poluir menos, extinguindo motores mais antigos da linha de produção nacional.

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O EA-111 nasceu como AT-1000, equipando a linha 97 do Gol. Dotado de injeção eletrônica multiponto, o famoso motor Mi trazia 54,4 cv a 5.000rpm e 8,5 kgfm de torque a 3.500 rpm, ante 49,8 cv a 5.800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3.500 rpm do motor de origem Ford. Traduzindo meu caro leitor: o Golzinho era mais rápido, fazendo de 0 a 100km/h em 18,07 segundos, ante 22,4 segundos do motor anterior.

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A concorrência lançava versões mais eficientes de seus motores de 1,0 litro, e em abril de 1997 a Volkswagen lançava o primeiro 1.0 multiválvulas nacional: o Hitork 1.0 16v.

Seus motores logo caíram nas graças dos brasileiros, que se encantaram com a potência de 69,4cv (inédita para um motor 1.0 aspirado na época) a 5.750rpm e 9,4 kgfm de torque a 4.500 rpm, além de seu consumo comedido. 

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Com melhor desempenho, um Gol 1.0 16v ia de 0 a 100km/h em 17,58 segundos, fazia 10,89 km/l de gasolina em cidade, ante 11,83 km/l da versão 1.0 8v. Já na estrada, eram 15,44 km/l para o 1.0 16v e 15,29 km/l para o 1.0 8v. A velocidade final também era melhor: 156,5 km/h para o 1.0 16v e 145,8 km/h para o 1.0 8v.

Deu tão certo, que no mesmo ano era lançada a primeira perua do mercado com motor 1.0 16v. A Volkswagen Parati foi apresentada ao público em um criativo comercial de TV, e logo ganhou as ruas em grande quantidade.

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Mas “algo de errado não estava certo”: nossa cultura era com troca de óleo em posto, com qualquer óleo. 

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Logo surgiam reclamações e muitas visitas dos proprietários destes carros às oficinas com problemas nos cabeçotes, anéis, anti-chama, e logo a reputação destes motores começou a ser questionada. 

No início dos anos 2000, foram lançados outros veículos com esta configuração, como o Seat Ibiza e o VW Gol e Parati Turbo, o primeiro motor 1.0 16v Turbo do mercado nacional.

Com o slogan "o motor turbo que todo mundo pode comprar", o 1.0 16v Turbinado da Volkswagen foi considerado na ocasião o motor mais moderno do país e, de quebra, foi o precursor dos motores turbinados de baixa cilindrada, tão comuns e eficientes hoje em dia.

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Foi também o primeiro 1.0 16v a usar balancins roletados para diminuir o atrito quando as válvulas de admissão e escape são acionadas, o que se tornaria referência nos motores seguintes.

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Com 112cv, tinha a mesma potência registrada do AP 2.0, entregando os mesmos números de desempenho e com o consumo um pouco mais baixo.⠀

Pagando menor IPI na época, era uma opção barata e moderna de se ter um carro esportivo, mas muitos não gostaram pelo fato de ter manutenção melindrosa (que nada, era só usar óleo sintético como descrito no manual), outros por ele ter sido o responsável pelo falecimento do Gol/Parati GTi, mas verdade seja dita: era muito divertido e todo mundo queria dar uma voltinha.

A Revista 4 Rodas incorporou em dezembro de 2000 um exemplar do Parati 16v turbo para o famoso teste de 60.000km.

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Com excelente fôlego e poucos problemas, excepcionalmente o teste foi prorrogado em mais 40.000km, quando em outubro de 2002, o veículo foi inteiramente desmontado e saia o veredicto: “após exatos 100.746km rodados, o motor do Parati apresentou um desgaste menor que o esperado, com taxa de compressão bem próximos do limite especificado pela fábrica, virabrequim intacto, cilindros e pistões sem alterações e turbo compressor em boas condições”.

Seu calcanhar de aquiles, neste carro do teste, era o câmbio, que apresentava desgaste prematuro dos sincronizadores, em especial da segunda e terceira marchas.

Mesmo após 100mil km rodados, fazia de 0 a 100km/h em 11,3 segundos e com boas médias de consumo.

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Mas lembre-se: nossa cultura era com troca de óleo em posto, com qualquer óleo, e as reclamações nas oficinas só aumentavam, assim como sua má fama, um tanto injusta.

Em 2001, chegava a vez do motor 1.0 8v receber as melhorias no cabeçote, e o primeiro carro a usar esta nova versão do motor foi o Gol Trend. Com 65 cv a 6.000 rpm e 9,1 kgfm de torque a 4.500 rpm, fazia de 0 a 100 km/h em 15,8 segundos, mantinha boas médias de consumo com 11,2 km/l em cidade e 15,8 km/l em estrada e chegava a 149,4 km/h de velocidade final.

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No final do mesmo ano, a versão 1.0 16v aspirada também recebia as melhorias, elevando sua potência a 76 cv a 6.000 rpm e oferecendo 9,7 kgfm de torque a 4.500 rpm. Apesar da boa velocidade final de 165 km/h, seu consumo cobrava caro o aumento de potência: 8,1 km/l na cidade e 13,9 km/l em estrada.

Em 2002 foi lançado o 1.0 16v aspirado mais potente do mundo, pelo menos àquela época. O modelo que trazia a novidade no capô era o recém-lançado VW Polo modelo 2003, hoje extremamente raro. 

Com 79 cv a 6.500 rpm e 9,7 kgfm de torque a 4.500 rpm, o compacto premium fazia de 0 a 100 km/h em 13,5 segundos, velocidade máxima de 168 km/h, mas com médias também ruins de consumo:  8,1 km/l na cidade. Na estrada, fazia aceitáveis 14,2 km/l. 

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O governo da época reduziu o IPI de carros com motor 1.0, caindo de 10% para 9%.  Para modelos com propulsor acima de 1.0 até 2.0, a redução foi ainda maior, 25% para 16%.

Com isso, os preços entre os carros 1.0 16v e 1.6 ficaram bem próximos. Como exemplo, eram apenas R$ 610,00 (R$ 1.694,68 hoje) de diferença das versões do Polo 1.0 16v Comfortline e 1.6 8v Comfortline equipadas com ar-condicionado.

Os preços de todos os veículos foram reposicionados, tornando os modelos 1.0 16v pouco atrativos se comparados ao 1.6 8v, sendo assim, em setembro de 2003 a Volkswagen retirou de linhas os motores 1.0 16v, tanto aspirado quanto turbo.

No mercado de usados, carros como VW Gol, VW Parati, Seat Ibiza e VW Polo 16v, e até modelos de outras marcas sofreram por anos com forte desvalorização, graças à negligência de muitos proprietários na manutenção desses motores.

Motores de 16v e turbinados da Volkswagen sofreram com a manutenção e ganharam má fama no mercado de usados

Apenas em junho de 2013 a Volkswagen voltou a oferecer motor 1.0 multiválvulas no mercado nacional, quando lançou o EA-211 1.0 12v, o primeiro motor 3 cilindros e multiválvulas da marca no Brasil.

Hoje, em pleno 2023, a maioria dos motores são multiválvulas, desde Toyotas, Hondas, Peugeot e até mesmo os Volkswagen.

Ainda bem que com o passar dos anos, os brasileiros aprenderam a cuidar melhor desses motores, e hoje, são duráveis e bastante eficientes. É claro que a tecnologia também ajudou bastante.

Mas e o 1.0 Hitork 16v? 

Usando o óleo certo e seguindo o manual à risca, é tão (ou mais) resistente quanto um motor atual. São muitos os relatos de alta quilometragem sem necessidade de retífica.

 Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.  

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