O abismo criado entre um SUV raiz do passado e um SUV moderno

Saiba as principais diferenças entre um SUV raiz e um SUV de shopping, e se alguns dos modelos que conhecemos como SUVs de fato são
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08.12.2022 às 11:29 • Atualizado em 14.06.2023
Saiba as principais diferenças entre um SUV raiz e um SUV de shopping, e se alguns dos modelos que conhecemos como SUVs de fato são

A sigla SUV tomou conta do mercado nos últimos vinte anos, e hoje mesmo quem não entende nada sobre automóveis a reconhece, e conhece, mesmo que vagamente, seu significado. Entretanto, é palpável que não há um consenso sobre o que é um SUV. 

Indústria, imprensa, entusiastas e usuários empregam a sigla para definir uma gama enorme e bem heterogênea de veículos, deixando suspensa no ar, nas mesas de bar ou nas rodas em torno da máquina de café do escritório, perguntas como: Corolla Cross é SUV?

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Para tentar definir um pouco melhor nosso mercado atual, e fomentar a paz entre puristas e modernistas, preparei esse texto com o objetivo de explicar e definir um pouco mais detalhadamente esses carros que se tornaram a paixão mundial.

O que é SUV?

SUV é a abreviação do termo “sport utility vehicle”, ou “veículo utilitário esportivo”. Em uma rápida pesquisa pela internet você encontrará diversas definições para esse termo. Mesmo discrepantes, e aplicadas a carros bem diferentes, essas definições têm basicamente dois pontos em comum: espaço interno e capacidade off road.

Os SUVs clássicos surgiram na metade do século XX, como veículos com razoável capacidade offroad e bom espaço interno para passageiros e bagagem. À época, eram uma alternativa aos jipes, que possuem excelente capacidade off road, mas conforto pífio e desempenho sofrível em vias pavimentadas.

Existe uma balança entre on road e off froad. Para ter bom desempenho em um, você perde em outro. Jipes são veículos puramente voltados para o off road, então mesmo o mais moderno Jeep Wrangler não consegue entregar o mesmo conforto que sua irmã Grand Cherokee, um SUV. 

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Além disso, jipes normalmente tem capacidade para quatro passageiros, enquanto os primeiros SUVs foram pensados para sete ou mais ocupantes. Assim, podemos chegar a uma definição média de SUV: são carros grandes, com bom espaço interno para ocupantes e bagagem e razoável capacidade de transpor obstáculos no fora de estrada.

Essas características são bem pronunciadas nos SUVs clássicos, bem difundidos a partir dos anos 60. No Brasil, representados pela Chevrolet Veraneio. Nesse ponto você pode começar a ficar nervoso, me perguntando “se a Veraneio é um SUV, como o Corolla Cross pode ser um SUV?”.

Bom, para responder essa pergunta, precisamos olhar para a evolução da indústria automotiva na segunda metade do século XX:

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Evolução da tecnologia do setor automotivo

Até a metade do século XX, os carros eram construídos com a carroceria montada sobre chassis, com raríssimas exceções. Esse conceito é aplicado ainda hoje, em picapes médias, caminhões e ônibus. Ainda no período entre guerras, alguns carros de passeio começaram a ser construídos com chassis monobloco, concepção utilizada em praticamente 100% dos carros de passeio atualmente. 

Estruturas monobloco são mais leves e possuem melhor rigidez estrutural, mas têm fabricação mais complexa e capacidade de carga reduzida, quando comparadas ao chassis-carroceria. Até os anos 1990 a indústria não tinha capacidade de garantir rigidez estrutural em um monobloco grande, do porte de um SUV clássico. 

Por isso optavam pelo uso de chassis clássicos, o que acarretava carros com centro de gravidade bem alto, de baixa estabilidade em curvas e em velocidades elevadas, e extremamente pesados.

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Com a evolução dos métodos de fabricação e dos materiais, na década de 90 começaram a surgir os primeiros SUVs grandes com estrutura monobloco. Inicialmente, Porsche Cayenne, BMW X5 e Mercedes-Benz ML. Eram carros pensados puramente para entregar conforto e desempenho em ruas e estradas, sem foco no off road. 

Os três fizeram estrondoso sucesso nos anos seguintes ao seu lançamento, roubando uma boa parcela do mercado dos sedãs e peruas de luxo. Isso acendeu uma luz na indústria automotiva, que percebeu que o mercado amava ter as qualidades dos SUVs clássicos, sem algumas das suas desvantagens. A partir daí a filosofia de projeto passou a ser aplicada ao mercado de populares, sendo nosso primeiro representante nacional o Ford Ecosport.

A partir de então, podemos dividir os SUVs em duas vertentes: o SUV clássico e o SUV moderno. O SUV clássico (SUV raiz) é o que o senso comum entende como SUV até hoje, possui projeto com concepção antiga (chassis-carroceria), normalmente é derivado de picapes médias ou grandes. 

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Pode ou não possuir tração 4x4 e capacidade para sete ocupantes, mas geralmente possui excelente vão livre, e trafega sem dificuldade alguma por vias não pavimentadas ou extremamente esburacadas, mas possuem limitada dirigibilidade em altas velocidades.

O SUV moderno (SUV Nutella ou SUV de shopping), algumas vezes chamado de CUV (Crossover Utility Vehicle), são carros construídos sobre plataformas empregadas em hatches, sedãs e peruas, com os quais compartilham diversos componentes, como: motores, suspensão, câmbio, acabamentos etc. 

Com isso, possuem dirigibilidade bem próxima de seus irmãos. O vão livre ligeiramente maior ajuda a ganhar um pouco em capacidade no fora de estrada.

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Por que os SUVs modernos fazem tanto sucesso?

Simples: porque SUVs modernos tem algumas das vantagens dos SUVs clássicos, sem ter algumas de suas desvantagens. Possuem posição de dirigir mais alta, sem perder muito em estabilidade e dinâmica. Possuem maior espaço interno, sem ganhar muito peso quando comparados aos hatches. 

Normalmente possuem porta-malas menor do que seus irmãos sedãs e peruas, mas o formato da carroceria permite o uso do espaço do bagageiro que supera a altura dos bancos traseiros, fato impossível em um sedã. A posição ligeiramente mais alta da cabine auxilia muito na entrada e saída de pessoas idosas, ou na hora de colocar ou retirar uma criança de sua cadeirinha. 

E o principal: trafegam por nossas ruas esburacadas e quebra molas gigantes sem arrastar, tanto, o assoalho. Estacionam de frente para as guias sem raspar a parte inferior do para-choque. Entretanto, mesmo não sendo pesados como os SUVs clássicos, são mais pesados que os hatches, sedãs e peruas. Por não possuírem chassis-carroceria, não tem dirigibilidade ruim, mas não são estáveis como seus irmãos menores.

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Como reconhecer um SUV moderno?

Como acontece com qualquer moda, o termo SUV é constantemente extrapolado, chegando a alguns absurdos... Basta lembrar que a Renault chegou a chamar o Stepway de SUV, e o Kwid de “SUV dos compactos”.

A resposta é simples: SUV moderno é todo carro pensado e projetado para ser um SUV. Um hatch, como o Sandero, com suspensão elevada jamais será um SUV. O SUV da família do Sandero não é o Stepway, é o Duster. 

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E como diferenciar SUVs modernos de SUVs clássicos?

Simples: SUVs clássicos possuem construção chassis-carroceria, como: Toyota SW4, Chevrolet Trailblazer, Mitsubishi Pajero Sport... Só essa característica é suficiente para dividir os dois mundos. Atualmente é possível um carro grande, construído a partir de uma estrutura monobloco, possuir boa capacidade offroad. 

Mas, por melhor que sejam os atuais SUVs com chassis-carroceria, a distância do conforto e dirigibilidade desses para os SUVs construídos a partir de monobloco é grande. Então, por mais que os puristas não gostem: Fiat Pulse, Toyota Corolla Cross, VW TCross, Honda HR-V, Renault Captur, Jeep Renegade e cia são SUVs.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

Antonio Junior, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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