Fabricante do iPhone agora faz carros e apresentou SUV e sedan elétricos

Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento
JC
Por
21.10.2021 às 11:40
Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento

 Por Homero Gottardello

Há cinco anos, a Apple criou uma grande expectativa no segmento automotivo, com o anúncio de que pretendia lançar seu iCar. A empresa chegou a montar um centro de desenvolvimento, na Califórnia, “comprando o passe”, inclusive, de engenheiros com experiência e postos muito bem remunerados em gigantes do setor. 

O modelo nunca saiu do papel, mas a Foxconn Technology, multinacional taiwanesa que produz iPhones, consoles PlayStation e Nintendo, o Kindle e os smartphones Xiaomi, revelou, no início desta semana, três carros-conceito com os quais vai ingressar no mercado de veículos elétricos (EVs), a partir de 2023. 

Só no ano passado, em meio à crise da pandemia, a companhia investiu US$ 355 milhões (o equivalente a R$ 1,87 bilhão) para o desenvolvimento final dos protótipos. “Como se pode ver, não somos apenas um novo garoto na turma”, brincou o presidente da Foxconn e de seu braço industrial, a Hon Hai Precision Industry, Young Liu, durante a apresentação do trio, em Taipei.

Anuncie seu carro sem pagar na Mobiauto

Antes de o leitor embarcar na análises delirantes que já dominam o noticiário, vamos aos fatos, da forma como a própria empresa os anuncia: primeiro, que os Foxtron Model C, Model E e Model T – Foxtron é o nome da subsidiária automotiva da companhia – ainda não estão à venda e não há uma data confirmada para seu lançamento comercial, em Taiwan ou na China; 

Outro ponto é que o Grupo Foxconn tem planos ambiciosos e pretende, nas palavras do próprio Liu, “se tornar um fabricante automotivo global, fornecendo 10% de todos os componentes e serviços demandados pelo mercado de EVs, em nível mundial, já entre 2025 e 2027”.

Traduzindo, este verdadeiro titã da tecnologia vai produzir automóveis elétricos que serão comercializados por várias outras empresas – como, por exemplo, a norte-americana Fisker (o sedã Model E) e a taiwanesa Yulon (o utilitário-esportivo Model C). 

Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento

No caso da Yulon, conterrânea e parceira da Foxconn/Foxtron/Hon Hai Precision, já se sabe que o Model C será vendido com uma de suas marcas, a Luxgen ou a CMC, a partir de 2023 e por um preço equivalente ao de um SUV equipado com motor a combustão interna. 

Leia também: Nove carros elétricos que queríamos muito ver no Brasil

“Estamos negociando o fornecimento do Model E, com o objetivo de ofertamos o sedã, em nossa rede, por menos de um milhão de dólares taiwaneses, o que corresponde a US$ 35.700 (ou R$ 199 mil)”, disse a presidente da empresa, Lilian Chen.

Os grupos Stellantis e Geely também já fecharam acordos de produção com a Foxconn, que ainda não foram detalhados, mas de uma coisa o leitor pode estar certo: que a terceirização do desenvolvimento e da fabricação de EVs é um caminho sem volta e, principalmente, que o eixo produtivo já se deslocou da Europa e dos Estados Unidos para a Ásia – mais especificamente, para a China. 

Modelos como o Ford Territory, que nada mais é do que uma versão ocidentalizada do Yusheng S330 chinês, produzido Jiangling Motors, em Nanchang, e o novo Dodge Journey, que nada mais é do que uma versão rebatizada do Trumpchi GS5 chinês, feito pela GAC Motor, em Hangzhou, são apenas dois exemplos da nova realidade da indústria automotiva. 

“Nossos clientes – no caso, as montadoras que, hoje, produzem seus próprios veículos – poderão personalizar o design e o conteúdo de cada modelo”, destacou o vice-presidente da Foxtron, Tso Chi-sem.

Leia também: Carregar um carro elétrico já pode levar menos tempo do que reabastecer  

Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento

Atributos da marca e os carros elétricos

Enquanto, por exemplo, a Renault – terceiro maior grupo automotivo do mundo, junto com a Nissan e atrás apenas de Volkswagen e Toyota – fechou 2020 com um prejuízo recorde de oito bilhões de euros (o equivalente a R$ 52 bilhões), a Foxconn estima faturar US$ 35,7 bilhões (ou a cifra astronômica de quase R$ 200 bilhões, em valores de hoje) nos próximos cinco anos. 

“Nossos produtos já estão disponíveis para todas as grandes montadoras e, também, para dezenas de startups que têm pretensões para o segmento de EVs”, acrescentou Chi-sem. 

Não é mera coincidência o fato de, apenas um dia depois de a Foxconn revelar seus carros-conceito, a Xiaomi confirmar que terá carros elétricos em seu portfólio, já no primeiro semestre de 2024 – mais um indicativo de que esta nova tendência vai pulverizar as vendas de automóveis, dando um ponto final no “monopólio” das gigantes de hoje.

O Model E tem pelo menos dois atributos que o destacam frente a concorrência: o primeiro, suas linhas elegantes assinadas pela Pininfarina, mais renomado estúdio de design automotivo italiano e, o segundo, uma combinação de performance (750 cv) e autonomia (750 quilômetros, sem necessidade de recarga das baterias) que o posiciona entre os sedãs mais avançados de sua classe. 

Leia também: O limbo das motos elétricas proibidas de circular em via pública no Brasil  

Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento

Já o Modelo C, de 4,64 metros (12 cm menor que o novo Commander) conta com sete lugares, na configuração 5+2, e promete maior espaço interno em relação ao Jeep, já que sua distância entre-eixos é 7 cm superior. Seu motor elétrico garante aceleração de 0 a 100 km/h em 3,8 s (contra 9,9 s, do Commander) e alcance de 700 quilômetros, sem recarga. Enquanto o Model T é um ônibus com autonomia de 400 quilômetros.

A Foxconn também promete ressuscitar a Byton, que havia encerrado suas atividades em Nanjing, reativando o projeto de lançamento do utilitário-esportivo M-Byte. 

Da mesma forma, ela se prepara para fornecer veículos elétricos para marcas norte-americanas in loco, já que comprou a fábrica da Lordstown Motors, que fica no Estado de Ohio – de lá, sairá a picape Endurance. 

“Você precisa de baterias para produção de EVs, esta é a base”, pontua o presidente global de pesquisas da consultoria LCM Automotive, Jeff Schuster. “O modismo que estamos assistindo, dos anúncios das montadoras, são um chamariz para os investidores. Nos Estados Unidos, a capacidade instalada para produção de baterias está atrasada, em relação a Europa e China”, acrescenta o consultor.

Neste ponto, resta claro que a estratégia dos chineses é se adiantar às marcas tradicionais, principalmente nos EUA, aproveitando o cenário atual para que sua oferta de uma solução completa, com produtos prontos para comercialização, seja irrecusável. 

Foxconn é a gigante taiwanesa que produz iPhones para Apple e smartphones para a Xiaomi. Ela projeta um faturamento de R$ 200 bilhões, em cinco anos, no segmento
Leia também: Como a BYD venderá carros que usam energia gerada pelo próprio dono  

A perspectiva é tão positiva que até mesmo o iCar pode, finalmente, sair do papel. Os rumores de que a Apple estaria disposta a entrar no mercado de EVs, em 2024, parecem mais factíveis agora, que sua fornecedora tem uma base integralizada para a formatação de um automóvel com a “cara da maçã”. 

“Além da antiga fábrica da General Motors – da Lordstown, em Ohio – e de uma unidade que vamos construir na Tailândia, também teremos uma fábrica própria de chips, para atender nossos parceiros mais próximo de seus usuários finais. É um começo promissor”, finalizou o presidente da Foxconn, Young Liu.

Imagens: Divulgação

Talvez você também se interesse: 

Nissan avança no segmento de elétricos e transformará Leaf em SUV

Avaliação: Audi E-tron é enorme e não tem retrovisor 

Kia terá SUV híbrido em novembro no Brasil para sair do esquecimento

Ter um carro elétrico no Brasil vale a pena? Quem tem responde


Comentários