“Elon Musk chinês” quer criar grife de carros elétricos maior que a Tesla

NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade
JC
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23.06.2021 às 11:17
NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade

Por Homero Gottardello  

Poucos se deram conta de que, enquanto o Brasil se consolida como uma espécie de vala comum da indústria automotiva global, como destino preferencial para a desova de modelos equipados com motores a combustão interna, a China se consolida como maior mercado de veículos elétricos do mundo. 

O mais recente relatório da Bloomberg NEF, que é o braço de pesquisas estratégicas do grupo, prevê um volume comercial de 2 milhões de unidades elétricas para o mercado chinês até o fechamento deste ano, número que irá a inimagináveis 6,2 milhões de unidades em 2025.

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Mesmo com a pandemia, 2020 já é considerado como um marco – o “ponto sem retorno” – para os fabricantes, o ano a partir do qual a eletrificação das gamas deixa de ser uma tendência para se tornar um requisito, uma condição sine qua non mesmo para as gigantes permanecerem vivas na disputa. 

NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade

“Para as novas montadoras, entrar neste segmento e sobreviver já é uma tarefa muito difícil”, disse o presidente-executivo da BMW chinesa, Jochen Goller, ao jornal norte-americano “Auto News”. 

Goller revela que viu muitas montadoras desaparecerem nos últimos anos, mas chama atenção para a performance da chinesa NIO: “Estou impressionado com o que eles conseguiram”.

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Que empresa é a NIO 

Hoje, a NIO é considerada a única marca capaz de rivalizar com a Tesla em um futuro próximo, e não só no que tange à projeção de vendas, mas principalmente em relação ao desenvolvimento de tecnologia. 

A empresa, com sede em Xangai, é um dos nomes por trás da Fórmula E, categoria de monopostos elétricos que atualmente é a segunda na ordem de grandeza da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), atrás apenas da F1. 

NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade

Seus três modelos, os SUVs ES6, EC6 e ES8, estão entre os 20 elétricos mais vendidos do mercado chinês, que é liderado pelo HongGuang Mini EV, da Wuling – um microcarro que parece o ForTwo, da Smart, e custa o equivalente a R$ 30 mil. A Mobiauto já contou a história dele neste outro artigo.

O Tesla Model 3 vem logo atrás do Mini EV, com 9% de participação na classe, um pouco menos da metade da fatia do carrinho da Wuling.

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No primeiro quadrimestre, as vendas da NIO responderam por 5% dos mais de 666 mil modelos elétricos vendidos atrás da Grande Muralha. Parece pouco para uma marca que tem pretensões tão grandes, mas ela está no caminho certo. 

NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade

“A economia de escala é um fator preponderante para os fabricantes de automóveis e a NIO ainda não atingiu um volume de produção nem de 100 mil unidades anuais”, pondera o analista Robert Cowell, da 86Research, também sediada em Xangai. 

“Hoje, a montadora está em uma situação muito melhor do que a de 18 meses atrás, e isso sem ter atingido sequer sua dimensão de eficiência”.

“Elon Musk chinês”

Para William Li, criador da NIO e uma espécie de “Elon Musk chinês”, ainda é cedo para se falar em uma disputa entre sua marca e a Tesla. “O jogo só vai começar, de verdade, quando os titãs da tecnologia entrarem em campo”, disse o executivo, durante a comemoração pela marca da 100.000ª unidade produzida pela NIO. 

“Tenho uma grande expectativa em relação à entrada da Apple no mercado automotivo. Sua capacidade de desenvolvimento, suas plataformas de inteligência artificial e conectividade farão desta disputa uma competição muito diferente da que vimos até agora, entre as montadoras tradicionais”, pontuou.

NIO é a primeira marca da China voltada a veículos elétricos premium, com ambição de conquistar a Europa e um CEO que também age como celebridade

Li faz planos a médio e longo prazos. “Em 2030, entre 90% e 95% dos lançamentos, em nível mundial, serão elétricos”, prevê.

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A verdade é que para a “torcida organizada” da NIO, este futuro já chegou. Prova disso é a aclamação que Li experimenta todas as vezes que sai em público. Mesmo usando roupas simples (seu traje usual combina camisa social, paletó cinza e calça jeans), ele chama atenção e não consegue chegar a um bufê sem posar para dezenas de selfies.

Atende, pacientemente, cada cliente, até porque a NIO criou um verdadeiro estilo de vida naquela que é a mais ocidental das megalópoles do país.

Mais que uma marca, uma grife

A marca tem sua própria grife de roupas, sua linha de produtos alimentícios, equipamentos de ginástica, clubes noturnos e, obviamente, um serviço de recarga de baterias, além de um hino – isso mesmo, um hino cujo refrão é “com a NIO, queremos ser melhores”.

Tudo isso criou um público mais que fiel e que só pode ser classificado pela lealdade, cunhando o primeiro adversário para a Tesla em um nicho bastante exclusivo. 

É que enquanto várias corporações fazem contas para a produção de modelos EVs, focando o mercado de massas, a NIO quer tomar a maior fatia do público ‘premium’ que, até este momento, reza a cartilha de Musk.

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Para alcançar seu objetivo, Li terá a ajuda imensurável do governo chinês, que já manifestou sua intenção de tornar o país no líder mundial de uma nova era automotiva e, para isso, iniciou aportes milionários nos últimos seis meses. 

O NeoPark, centro de produção e desenvolvimento de tecnologia que recebe aporte equivalente a 6,4 bilhões de euros, impulsiona um resultado que já pode ser visto: a frota chinesa de elétricos praticamente triplicou de 1,2 milhão de unidades em 2019 para 3,4 milhões no final do ano passado.

Desbravando o Velho Continente

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E a China também mira a Europa. “França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido respondem por 63% das vendas de modelos elétricos na Europa e, só no ano passado, a participação dos EVs entre os zero-quilômetro nesses mercados saltou de 1,6% para 6%. São números que indicam, claramente, para onde o continente está indo”, avalia Jose Asumendi, da European Autos Research. 

“Para 2021, temos um calendário de lançamentos recheado e a adoção de novas políticas governamentais, que vão auxiliar as montadoras a cumprirem as novas metas de emissão de gás carbônico. E é a procura por versões elétricas, não outro fator, o que determina a implantação de incentivos fiscais”, lembra Asumendi. 

Na Alemanha, os subsídios são de até 6.000 euros por unidade comercializada, enquanto na França chegam a 7.000 euros. Ou seja, não vai faltar mercado para a NIO atingir seus objetivos comerciais.

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E se no Velho Continente a marca chinesa conseguir operar o que vem fazendo na China, também veremos uma mudança na percepção do consumidor em relação à marca.

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É que, por lá, a NIO vendeu 20 mil unidades (somados seus três modelos) entre janeiro e fevereiro deste ano, a um preço médio de US$ 68 mil cada, enquanto a Tesla comercializou 17 mil unidades de Model Y a US$ 53 mil. 

Estamos, portanto, diante de um tíquete médio quase 30% maior, algo impensável tanto para os europeus, quanto para os norte-americanos e brasileiros.

Fato é que a eletrificação dos automóveis é uma realidade transformadora, que vai mexer muito com o establishment do setor e mudar a relação centenária entre homem e máquina. E quem duvida que os chineses estão prontíssimos para esta transição, talvez até mais bem preparados que japoneses, europeus e americanos, terá que rever seus conceitos. 

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