Avaliação: Renault Duster 1.3 não deveria estar à sombra do Renegade
A história do Renault Duster no Brasil já tem mais de uma década. Quando o SUV chegou por aqui, fez sucesso devido à sua proposta simples e acessível, e se destacava por não ter muitos concorrentes. Enquanto os hatches e sedans dominavam o mercado, o Duster atendia os que buscavam uma proposta fora do convencional.
Por isso, nadou de braçada junto com o Ford EcoSport enquanto pôde, na verdade até que a concorrência tomasse dimensões maiores do que ele poderia suportar. Se há dez anos era possível contar nos dedos os SUVs populares vendidos por aqui, atualmente a lista passa de 20.
O Jeep Renegade atualmente é o rival mais implacável que o Duster e qualquer outro SUV compacto de marca generalista pode enfrentar. Mas, diferente de outros modelos que disputam mercado com o da Jeep, o Duster tem entregado o jogo até facilmente, perdendo oportunidades de se antecipar e levar alguma vantagem.
Pior que isso, o Duster parece estar sempre um passo atrás do Renegade. Afinal, resolveu adotar o mesmo estilo de lanternas em X depois do rival. Agora, adotou um motor 1.3 turbo também na rebarba da Stellantis.
E se antes a Renault tentava sanar essa questão com um preço mais competitivo, dessa vez foi o modelo da Jeep que aderiu à estratégia de se destacar pelo custo-benefício. Em 2020, o Duster ganhou uma nova geração, que, apesar de ter agradado em diversos pontos, decepcionou por oferecer apenas o velho motor 1.6 aspirado com fama de manco demais.
Enquanto isso, o Renegade se preparava para uma reestilização tão impactante quanto uma troca de geração, entregando o desempenho emocionante que tanto pediam e que o motor 1.8 não podia oferecer.
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O Duster poderia ter se adiantado e oferecido antes o motor 1.3 turbo feito em parceria com a Mercedes-Benz, e que equipa o irmão Captur desde o ano passado. Mas esperou o Renegade oferecer o motor turbinado primeiro para só depois oferecê-lo na gama, em um momento em que o Duster não é mais quem detém a atenção.
Nós passamos uma semana com o Renault Duster 1.3 e chegamos à conclusão de que ele não merecia estar tão à sombra do rival da marca americana, e vamos te dizer o porquê nesta avaliação.
Design e conforto
Na reestilização do Renault Duster em 2020 o interior foi o que recebeu a maioria das mudanças. Mas comparando com o habitáculo do novo Jeep Renegade, o Duster tem uma pontuação inferior.
No console há pouco espaço para os objetos, e o freio de estacionamento ainda é acionado pela velha alavanca. No Jeep Renegade o freio é eletrônico desde a versão de entrada.
No painel há muito plástico duro, mas a estética não é tão ruim. A central multimídia, assim como no Renegade, ainda não é flutuante e é encaixada no meio do painel. Aqui ela tem 8 polegadas e é compatível com Apple CarPlay e Android Auto.
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O ar-condicionado é automático, mas poderia ser também de duas zonas. Também sentimos falta de um carregador de celular por indução e de mais entradas USB, visto que tem apenas uma.
O apoio de braço é apenas para o motorista. Além de não priorizar também o conforto do passageiro dianteiro, é esteticamente estranho, parece que o apoio que seria do outro ocupante dianteiro quebrou e não colocaram outro.
Por último, os bancos têm uma estética agradável e são confortáveis. Mas nada que se sobressaia. O ponto alto do Duster mesmo é o espaço interno generoso.
Renault Duster Iconic 1.3 TCe 2022: R$ 138.790. Pintura Marrom Vision: R$ 1.650. Outsider Pack (apliques plásticos nos para-choques e laterais; faróis auxiliares de longo alcance): R$ 1.400. Total: R$ 141.840
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Espaço
Entre os SUVs compactos, o Renault Duster é o que tem um dos melhores espaços internos. São 2.673 mm de entre-eixos, 10,3 cm a mais do que Jeep Renegade e Chevrolet Tracker, 6,3 cm a mais que o novo Hyundai Creta e 2,2 cm a mais que o VW T-Cross.
O porta-malas é tão espaçoso quanto o habitáculo. São 475 litros, bem mais que o de Renegade, Tracker, T-Cross e Creta. De fato, espaço talvez seja o principal argumento dos vendedores para emplacar um Duster.
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Claro que ele tem outros atributos, mas nenhum tem sido suficiente para aumentar sua representatividade nas vendas. Em 2021, foram 22.457 unidades emplacadas, o que não chega nem a um terço dos 73.913 Renegade vendidos no período.
Dimensões: 4.376 mm de comprimento, 2.673 mm de entre-eixos, 1.832 mm de largura, 1.693 mm de altura, 475 litros de porta-malas e 50 litros de porta-malas
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Desempenho
Sim, o desempenho do Renault Duster evoluiu muito com o motor 1.3 Turbo, a ponto de saciar as más línguas que tanto criticaram o desempenho do motor 1.6 SCe (isso nos inclui).
O propulsor 1.3 TCe desenvolvido em parceria com a Mercedes-Benz é flex e possui injeção direta de combustível. Entrega 162/170 cv (G/E), a 5.550 rpm, e 27,5 kgfm (com qualquer combustível), logo a 1.600 rpm.
O torque entregue em uma rotação tão baixa deixou o Duster bem esperto nas arrancadas, o que se reflete em um 0 a 100 km/h oficial em apenas 9,5 segundos.
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Já o embalo a velocidades mais altas não acontece com a mesma veemência, o que se explica pela aerodinâmica não tão favorável e pela potência entregue totalmente só a 5.500 rpm. Mas isso é um detalhe.
Com o 1.3 turbo, o Duster se tornou um SUV muito confiável para fazer ultrapassagens em estradas. Em subidas, principalmente as mais íngremes, é possível perceber como a evolução foi grande.
Sentimos falta de aletas atrás do volante e de modos de condução para explorar um pouco mais toda a potência do motor, ou até mesmo um modo Eco para melhorar o consumo no trânsito diário. Pelo menos há um “econômetro” na central multimídia para te ajudar a dosar o pé.
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O conjunto de suspensões também merece elogios. Não são perfeitos para absorver impactos em ruas esburacadas e terrenos irregulares. Na verdade, sente-se bem a transferência de impacto para a cabine. Mas são robustos e permitem encarar nossas vias tão problemáticas sem medo.
Além disso, o vão livre do solo e os ângulos são generosos é outro ponto forte desse SUV: 30º (ângulo de ataque), 22º (ângulo central), 34,5º (ângulo de saída).
No geral, a direção a bordo do Renault Duster é agradável e bem acertada. Inclusive, vou fazer um breve parênteses para falar da câmera de ré, que tem uma boa imagem e até melhor que a do rival Jeep Renegade.
Uma pena que a Renault tenha usado o trunfo do motor turbo de forma tardia. Pois, as lanternas de à la Renegade não seriam o suficiente para o Duster conseguir abocanhar alguns interessados no rival. Há dois anos, o motor 1.3 turbo, seria a virada de chave na disputa entre esses dois SUVs, e o Duster poderia estar em uma posição bem melhor hoje.
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Motor: 1.3, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, flex, comando de válvula duplo no cabeçote, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: 10,5:1
Potência: 170/162 cv (G/E) a 5.500 rpm
Torque: 27,5 kgfm (G/E) a 1.600 rpm
Peso/potência: 8 kg/cv (G/E)
Peso/torque: 49,2 kg/kgfm
Câmbio: automático CVT, 8 marchas simuladas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 9,2 segundos
Velocidade máxima: 190 km/h
Dados técnicos: direção elétrica; suspensões tipo McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira); freios a disco ventilados (dianteira) e tambor (traseira); diâmetro de giro: 10,7 m; vão livre do solo: 237 mm; ângulo de ataque: 30º, ângulo central: 22º, ângulo de saída: 34,5º;
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Consumo
Mesmo com o novo motor 1.3 turbo, não é dessa vez que o Renault Duster perderá sua fama de beberrão. No ranking de SUVs compactos com pior consumo em 2022, o Renault Duster emplacou três lugares seguidos: as versões 1.6 automáticas ficaram em quarto lugar, a configuração 1.3 Turbo, em quinto, e a versão 1.6 manual, em sexto.
Para se ter ideia, o consumo dele é quase o mesmo do Mercedes-Benz GLB com o mesmo motor, só que movido apenas a gasolina e com sete lugares. O SUV alemão faz 10,1 km/litro na cidade e 10,7 km/litro na estrada.
Isso é justificável porque alguns modelos da Mercedes-Benz usam um sistema que desativa dois dos quatro cilindros quando o carro está em baixa velocidade. O que, além de melhorar o consumo, ainda emite menos poluentes. Muito legal, não?
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Infelizmente, o Duster não herdou o sistema. Mas ao menos o desempenho ameniza a frustração de ir ao posto mais vezes.
Consumo: 7,7 km/litro na cidade e 9,4 km/litro na estrada com etanol / 10,8 km/litro na cidade e 11,5 km/litro na estrada com gasolina
Renault Duster Iconic TCe 2022 - Principais itens de série
Digamos que não há nada de muito errado com a lista de itens de série do Renault Duster Iconic TCe, não fosse pela existência do Jeep Renegade Sport. Sua maior mancada é trazer apenas os obrigatórios airbags frontais. Pô, Renault. Até o Kwid, modelo de entrada da marca no país, tem quatro, enquanto o Renegade tem seis.
O SUV “francês” - entre aspas, porque o projeto do Duster vem da romena Dacia - também não tem alerta de mudança de faixa, leitor de placa e detector de fadiga, sistemas que são oferecidos no Renegade desde a versão de entrada.
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O Renegade Longitude, versão um pouco mais cara, ainda oferece borboletas para troca de marcha atrás do volante, ar-condicionado digital de duas zonas e carregador de celular sem fio. Confira abaixo a lista de equipamentos do Renault Duster Iconic 1.3 turbo.
- Desembaçador traseiro
- Chave-cartão com sensor presencial
- Volante com regulagem de altura e profundidade
- Retrovisores externos com regulagem elétrica
- Banco do motorista com apoio de braço
- Ar-condicionado automático
- Central de controle e segurança multimídia
- Multimídia Easylink 8"
- Sistema Multiview câmera
- Repetidores laterais de indicação de direção
- Vidros dianteiros e traseiros com função um toque e sistema antiesmagamento
- Desativação do airbag do passageiro
- Sensor de estacionamento traseiro
- Assistente de frenagem de emergência (AFU)
- Dois airbags frontais
- Duas posições ISOFIX no banco traseiro
- Controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA)
- Faróis de neblina
- Detector de ponto cego
- Acendimento automático dos faróis
- Cinto de segurança com pré-tensionadores
- Alerta de cinto de segurança não afivelado
- Piloto automático com limitador de velocidade
- Eco mode
- Câmbio Automático CVT 8 velocidades
- Stop & Start
- Direção elétrica
- Indicador de troca de marcha (GSI)
- Skis frontal e traseiro
- Volante com revestimento Premium
- Alargadores de paralamas e adesivos laterais nas portas
- Acabamento preto das barras de teto, para-choques e retrovisores externos
Renault Duster 1.3 Turbo: vale ou não vale?
Comparado aos principais SUVs compactos do mercado, o Renault Duster 1.3 turbo tem um bom custo-benefício, mas não é melhor do o Jeep Renegade e até perde em alguns pontos para o Hyundai Creta e mais alguns rivais em outros, mas vamos deixar essa discussão para um comparativo.
Pegando apenas o Renegade como recorte, o Duster mais uma vez está à sombra do rival, oferecendo menos que a versão Sport e cobrando tanto quanto. Claro que o espaço extra do Duster deve ser considerado, quesito em que o Renegade fica devendo.
Mas para quem de fato não precisará andar com o carro lotado na maioria das viagens, isso não vai fazer diferença, e ainda valerá mais a pena ter mais itens do que um espaço a mais para as pernas.
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Se a pergunta é: O Renault Duster é um bom SUV? A resposta é sim. Ele só consegue a maioria das vezes se destacar em relação a concorrência. No passado, era muito mais fácil, pois tinha poucos SUVs no mercado.
A proposta simples, o bom espaço interno e o preço mais acessível foram o suficiente para o Duster cair no gosto do povo. A questão é que ele está mantendo a mesma proposta de anos atrás, mas esquecendo o valor acessível e tendo que competir com uma enxurrada de SUVs.
Só esclarecendo a questão do valor, ele não está fora da realidade do mercado. Basta checar os preços do Nissan Kicks, Hyundai Creta, Chevrolet Tracker, VW T-Cross. O problema é que tem o Jeep Renegade, que cobra menos de R$ 140.000 é muito mais equipado e está sempre se antecipando em relação a concorrência.
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A faculdade me fez jornalista, a vida me fez aficionada por carros esportivos e adrenalina. Unindo paixão e profissão, realizo a missão de conectar pessoas com o universo automotivo, mas confesso que já tentei pilotar um kart e não deu muito certo.