Renault Kwid 2024 promete beber menos que carro híbrido. Consegue?

Em avaliação de 30 dias, subcompacto bebe pouco e se mostra ágil na cidade, mas sofre na estrada e cobra o preço da simplicidade
Renan Bandeira
Por
03.10.2023 às 19:00
Em avaliação de 30 dias, subcompacto bebe pouco e se mostra ágil na cidade, mas sofre na estrada e cobra o preço da simplicidade

O Renault Kwid é um dos carros mais baratos do Brasil. A versão Zen, junto do Fiat Mobi Like, custa hoje R$ 69.990. Ambos são simples e apertados, mas o subcompacto da marca francesa ao menos tem como argumento o fato de ser o carro flex mais econômico e menos poluente do Brasil, mais até do que híbridos como Toyota Corolla e Corolla Cross.

Num geral, o Kwid pode ser considerado um carro melhor que o Mobi. O subcompacto mudou de visual no ano passado e se distanciou ainda mais do rival da Fiat. Além das linhas mais atualizadas, é mais forte e mais econômico que o concorrente. A Mobiauto, inclusive, já contou todas as novidades do modelo, além de falar de espaço interno e dirigibilidade neste outro artigo.

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Neste teste, vamos concentrar na sustentabilidade do produto e mostrar quanto consome de combustível em cada um dos modais: cidade com etanol; cidade com gasolina; estrada com etanol; estrada com gasolina. Para isso, usamos a configuração Intense, a intermediária na gama do pequeno hatch com desejo de ser SUV. Confira no vídeo e no restante deste artigo:

Renault Kwid Intense 2024 - Preço: R$ 72.990

Renault Kwid 2024 - Consumo de combustível

Uma das principais qualidade do Renault Kwid 1.0 flex é seu consumo de combustível. Embora tenha avaliação C em eficiência energética, de acordo com o Inmetro, o produto promete fazer 10,8 km/l na cidade e 11 km/l na estrada com etanol, sendo 15,3 km/l na cidade e 15,7 km/l na estrada com gasolina.

Em nosso teste de 30 dias, totalizando 1.220 quilômetros, o consumo real foi um pouco diferente. A maior diferença ficou para os números do Kwid na estrada com etanol, único dos testes que foi feito sem o ar-condicionado ligado. Na cidade, enfrentamos muito trânsito.

  • Cidade com etanol: rodamos 327,3 km e gastamos 31,7 litros.
  • Cidade com gasolina: rodamos 372 km e gastamos 25,8 litros.
  • Estrada com etanol: rodamos 320 km e gastamos 22 litros.
  • Estrada com gasolina: rodamos 200 km e gastamos 12,2 litros.

Com isso, os números ficaram da seguinte forma:

Renault Kwid 2024 – Consumo real em teste de 30 dias e 1.220 km

  • Etanol: 10,3 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada.
  • Gasolina: 14,4 km/l na cidade e 16,4 km/l na estrada.

Para se ter uma ideia, um Corolla Cross Hybrid atualmente tem média de 11,8 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada com o combustível vegetal, alcançando 17,8 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada com o derivado do petróleo.

Como anda o Renault Kwid 1.0

O Kwid mostrou que realmente consegue ser tão eficiente ou até mais do que o PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular) do Inmetro diz. Falando agora de desempenho, dentro da cidade o subcompacto é um leão. O motor 1.0 flex de 66 cv de potência com gasolina e 70 cv de potência com etanol, além de 9,4 kgfm de torque com gasolina e 9,8 kgfm de torque com etanol, é mais que suficiente para empurrar um veículo que pesa apenas 820 kg.

O câmbio manual de cinco marchas tem trocas rápidas, embora os engates da caixa trambulada por varão ainda sejam um bocado longos. Como as relações de marcha são curtas, o subcompacto demonstra fôlego suficiente para uma boa aceleração e retomada nos centros urbanos. Com isso, torna-se ágil para rodar nas cidades. A alegria dos motoristas de prestadoras de serviços de internet.

Na estrada, a história é diferente. Sem elasticidade em um motor 1.0 desprovido de variação dos comandos de válvulas, o Kwid sofre para atingir velocidades mais altas. Mesmo abastecido com etanol, que é quando o motor entrega os melhores números, o modelo chega aos 100 km/h com motor girando próximo aos 4.000 rpm.

Retomadas de velocidade e acelerações em ambiente rodoviário são lentas. O 0 a 100 km/h em 14,7 segundos é uma amostra disso. Aqui, a leveza da carroceria também joga contra: passa sensação de insegurança na rodovia. Passar por ônibus, vans, caminhões ou até caminhonetes, veículos que num geral deixam o ar mais turbulento, faz o Kwid balançar bastante.

A experiência foi interessante para compreender que o modelo pode ser ainda mais econômico na estrada do que o estipulado pelo Inmetro, além de entender que seu habitat natural é urbano.

Eficiência energética

Vale lembrar, ainda que Kwid tem uma nova importante marca para ganhar o coração de novos compradores, principalmente aqueles ligados ao meio ambiente, consumo consciente e sustentabilidade.

De acordo com o último levantamento do Inmetro, o Kwid é quase tão eficiente do ponto de vista energético quem um Corolla Cross Hybrid. Seguindo o instituto, o subcompacto da Renault consome 1,36 MJ/km, contra 1,31 MJ/km do Toyota. Como referência, o Volkswagen Polo que é hoje o hatch mais vendido do Brasil, na versão 1.0 MPI, tem consumo energético de 1,46 MJ/km.

Isso que o índice do Kwid poderia ser ainda melhor. Afinal, o hatch tem apenas nota C na etiqueta do Inmetro, e poderia desperdiçar menos a energia que produz. Quando o assunto é poluente e gás do efeito estufa, o Renault deixa um pouco a desejar.

Poluentes Kwid Corolla Cross Hybrid Polo MPI
Nmog+Nox
65 mg/km 18 mg/km 41 mg/km
CO 403 mg/km 104 mg/km 187 mg/km
CHO 5 mg/km 4 mg/km 4 mg/km
CO2 fóssil (etanol) 0 mg/km 0 mg/km 0 mg/km
CO2 fóssil (gasolina) 84 mg/km 79 mg/km 90 mg/km

Ruído interno

Para custar R$ 70 mil, o Renault Kwid 2024 abdica de refinamentos, seja na carroceria, no acabamento interno ou mecanicamente. É por isso, também, que ele não tem certificação A de eficiência energética. Faltam elementos como a variação de fases do comando de válvulas para um melhor aproveitamento energético do veículo.

No entanto, alguns pontos poderiam ser melhorados. Como exemplo, o Kwid controla muito pouco o ruído externo. Quase tudo que acontece na rua é escutado no habitáculo. Frenagens e acelerações de outros veículos, buzinas, entre outros sons. Dentro da cabine, é possível ouvir até a máquina elétrica do limpador de vidros funcionando e os engates das marchas no trambulador por varão.

Um pouco mais de borracha nas portas e alguns retoques de acabamento interno ajudariam a reduzir esses ruídos.

Espaço interno

É um outro ponto em que o Kwid agrada muito. São 3,68 de comprimento, que tornam o modelo muito versátil para as cidades. Com vagas cada vez mais escassas e trânsito cada vez mais intenso, manobrá-lo é moleza demais em meio a grandes centros urbanos, seja em mercados, shoppings, estacionamentos de prédios ou na própria rua. A leveza da direção elétrica contribui para isso.

E, embora seja um subcompacto, o Kwid não decepciona em espaço interno. É óbvio que ele não consegue levar cinco adultos a bordo, mas o habitáculo é bem aproveitado como era o dos Fiat Uno na década de 1990.

Motorista e passageiro da frente têm espaço digno para cabeça e pernas. Já os que vão atrás, tendo até 1,70 m de altura, conseguem caber sem tanto aperto. Sim, o Kwid é um carro estreito e apertado para os ombros, mas sua relação tamanho-espaço interno é interessante, com vãos para as pernas e cabeças mais generosos que os de seu grande rival, o Mobi.

E com direito a um porta-malas de 290 litros, não apenas maior que o de 217 litros do concorrente da Fiat como mais generoso que o de alguns hatches compactos, como Peugeot 208 (265 litros) e Chevrolet Onix (275 litros).

Tecnologias a bordo

O Renault Kwid sempre foi um carro simples, com foco em custo-benefício. Essa característica se mantém na linha 2024. Tanto que os vidros traseiros continuam a ter abertura manual por manivelas, enquanto os bancos são revestidos de tecido e o acabamento é todo por plástico rígido.

Mas a versão Intense tem seus trunfos. A central multimídia Media Evolution oferece o básico em termos de conectividade, com Android Auto e Apple CarPlay por cabo, através de conexão via tomada USB tipo A.

Há um pequeno computador de bordo digital no centro do quadro de instrumentos, com mais funções que as de um Citroën C3. Os retrovisores possuem regulagem elétrica nesta versão e os contestados, porém duradouros comandos satélites para o sistema de som estão presentes na coluna de direção.

Renault Kwid Intense 1.0 flex 2024 – Ficha técnica

Motor: 1.0, dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12V, aspirado, flex, comando único de válvulas, injeção eletrônica multiponto, taxa de compressão 11,5:1
Potência: 68 cv (G) / 71 cv (E) a 5.500 rpm
Torque: 9,4 kgfm (G) / 10 kgfm (E) a 4.250 rpm
Peso/potência: 12,1 kg/cv (G) / 11,6 kg/cv (E)
Peso/torque: 87,8 kg/kgfm (G) /82,5 kg/kgfm (E)
Câmbio: manual, 5 marchas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 13,5 s (G) / 13,2 s (E)
Velocidade máxima: 159 km/h (E) e 160 km/h (G)

Dimensões: comprimento, 3.680 mm; largura, 1.579 mm; altura, 1.479 mm; entre-eixos, 2.423 mm. Porta-malas: 290 litros; Tanque de combustível: 38 litros; peso em ordem de marcha, 820 kg; carga útil, 375 kg.

Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e eixo rígido com molas helicoidais (traseira); freios a disco ventilados (dianteira) e tambores (traseira); diâmetro de giro, 10 m; vão livre do solo, 185 mm; ângulo de ataque, 24,1°; ângulo central não divulgado; ângulo de saída, 41,7°; pneus 165/70 R14; estepe integral 165/70 R14.

Renault Kwid Intense 1.0 flex 2024 – Itens de série

  • Abertura interna do porta-malas
  • Retrovisores regulagem manual
  • Ar-condicionado
  • Banco traseiro rebatível inteiriço
  • Apoio de cabeça traseiro central e laterais com ajuste de altura
  • Quatro airbas (frontais e laterais)
  • Central multimídia Media Evolution com Android Auto e Apple CarPlay via cabo
  • Tomada USB tipo A e tomada 12V dianteiras
  • Sistema CAR - Travamento automático a 6 km/h
  • 2 Isofix
  • Freios ABS
  • Monitoramento da pressão dos pneus (TPMS)
  • Controle eletrônico de estabilidade (ESP)
  • Auxílio de partida em rampa (HSA)
  • Luzes de circulação diurna em LED (DRL)
  • Sistema Start&Stop
  • Indicador de troca de marcha
  • Volante três raios
  • Retrovisores e maçanetas com ajuste elétrico
  • Câmera de ré

Renault Kwid 2024 - Vale a pena comprar?

Existem vários cenários para avaliar a compra de um Kwid. Contra o Fiat Mobi, por exemplo, o subcompacto da marca francesa leva a melhor e vale a pena, sim. Se a busca não é filtrada apenas por carros 0 km, seminovos como Hyundai HB20 e Chevrolet Onix podem ser mais interessantes.

Mas é preciso dizer: o Renault Kwid 2024 é um carro que cumpre o que promete. Entrega excelente consumo de combustível, agilidade e comodidade para uso na cidade. Não é um veículo que roda na estrada com o mesmo apetite, e falta um pouco de carinho com o acabamento interno. Mas, dentro de nossa realidade de preços hoje, não daria para exigir mais.

Imagens: Murilo Góes/Mobiauto

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