Cinco preconceitos que (quase) todo brasileiro tem com carros

Adoramos julgar um automóvel por seu país de origem, seu tipo de carroceria ou sua cor. Mas nem sempre esses pré-julgamentos estão certos
JC
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15.04.2022 às 10:00
Adoramos julgar um automóvel por seu país de origem, seu tipo de carroceria ou sua cor. Mas nem sempre esses pré-julgamentos estão certos

Por Antonio Frauches, Podcast Perda Total 

Preconceitos são características intrínsecas ao ser humano, não há como negar. Assim como não se pode negar que preconceitos são, na sua grande maioria, burros. Isso quando não são criminosos... 

Máquinas, tecnologias e etc também sofrem com nossos preconceitos. Provavelmente você já deixou de comprar um celular de uma determinada marca porque era chinês, ou deixou de comprar um notebook porque ele era branco, e o preto está na moda. Então, é lógico que os carros também são atingidos.

Não vou ficar aqui tentando te convencer a esquecer seus preconceitos e comprar algo que te incomoda. Minha missão nesse terreno é simplesmente te mostrar que preconceitos automotivos são burros, frutos de modismos ou boatos, e que na maioria das vezes te levam a comprar algo que não te atende tanto quanto os infelizes rejeitados.

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E o mais importante de tudo: como os preconceitos automotivos mudam com o tempo, e o rejeitado de ontem passa a ser a moda de hoje. Então aperta o cinto e vem comigo nessa análise!

Preconceitos contra origem

Adoramos julgar um automóvel por seu país de origem, seu tipo de carroceria ou sua cor. Mas nem sempre esses pré-julgamentos estão certos

Fruto de preconceito por ser chinesa, a Chery teve notória evolução nessa década

Esse tipo de preconceito ficou adormecido durante alguns anos no Brasil. Depois de ganhar bastante força na década de 1990 com a invasão dos importados, o preconceito de origem ficou limitado aos franceses na década seguinte. Até que chegaram os chineses, por volta de 2010.

Na época, muitos comparavam os chineses de 2010 aos coreanos da década de 1990, e diziam que em breve todos desejaríamos carros chineses. Do mesmo modo que o preconceito era burro, a comparação simples e linear não fazia jus a verdade: os coreanos de 1990 não tinham tantos defeitos quanto os chineses de 2010.

Mas, parte dessa previsão está se concretizando. Doze anos depois, temos alguns chineses que realmente mostram uma evolução absurda quando comparados aos seus antepassados sino-tupiniquins. É cedo para dizer se eles vão conquistar o mercado como Hyundai e Kia fizeram há quinze anos, mas é possível.

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Preconceitos contra cores

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Carro verde, amarelo, azul, laranja... A década de 90 foi colorida!

Por volta de 2015 a maioria dos VW Jetta, Ford Fusion, Hyundai Azera, entre outros, vistos nas ruas seguia um padrão: carroceria em branco perolizado e interior de couro bege.

Essa moda aparentemente perdeu força desde então, e hoje temos novamente cores interessantes como o azul e o marrom metálico do T-Cross. Isso ilustra como o preconceito contra cores de carroceria muda rápido. 

Voltando à década de 1990: carros brancos eram minoria. Sabe por quê? Porque na maioria das cidades brasileiras os táxis são brancos. Pelo mesmo motivo, em alguns lugares, como no Rio de Janeiro, ninguém comprava carros amarelo-ovo (compreensível, né...). 

As ruas eram cheias de carros azuis, verdes, laranjas, vermelhos... Não sei precisar quais fatores determinaram o fim do preconceito contra carros brancos, os transformando em tendência. Mas se eu tivesse que chutar, diria que os aplicativos de transporte tiveram uma boa contribuição.

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Preconceitos contra o número de portas

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A extremamente rara Brasília 4 portas

Os preconceitos contra cor e tipo tem origens similares, e se misturam. Atualmente ninguém compra carros com duas portas (praticamente nem se vende mais por aqui). 

Mas, voltando 25 anos no túnel do tempo, até meados da década de 1990, os duas portas eram preferidos por nós. Duvida? Deixa eu te dar uns exemplos então: o que a VW Parati quadrada, Chevrolet Caravan, Chevrolet Marajó e Ford Belina tem em comum? Todas são peruas, carros de família, e não tiveram versões com quatro portas. 

Pelo menos não original, de fábrica. Ou seja: Até meados dos anos 90 as pessoas compravam carros para a família, com duas portas. Quer saber por quê?

Porque diziam à época que carros de quatro portas eram “carros de taxista”. Assim, se você tivesse um carro quatro portas seria muito difícil vendê-lo após anos de uso, pois todos acreditariam que se tratava de um táxi aposentado. 

Para evitar esse sofrimento você comprava um carro imenso, como uma Caravan, e enfiava seus quatro filhos no banco traseiro por um espaço triangular, acessado pela porta dianteira - tem muita lógica nisso.

Para fechar esse preconceito segue uma pequena lista de carros que tiveram versão com quatro portas, mas pouca gente conhece, e que se tornaram extremamente raros: Chevrolet Chevette, VW Brasília, VW TL, VW Voyage, Ford Maverick, entre outros.

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Preconceitos contra tipos de carroceria

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Hoje o mercado tem preferência por SUVs, deixando de lado excelentes carros

Esse preconceito é algo novo por aqui. Claro, no tópico anterior citei o preconceito contra os quatro portas que existiu até o fim do século XX, e o preconceito contra os duas portas no início do século XXI. 

Mas o filtro selecionava versões de um mesmo modelo. Hoje o mercado torce o nariz para praticamente tudo o que não é SUV. Só se salvam os subcompactos, ainda. Pois quando o mercado começar a "suvizar" esse segmento... um abraço!

Assim como os preconceitos citados anteriormente, essa onda pró SUV provavelmente vai passar. Imagino que uma boa parcela dos compradores de T-Cross vão, eventualmente, perceber que ele é mais caro de manter que um Virtus. Talvez veremos esse pêndulo voltando um pouco nessa década.

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Preconceitos contra tecnologias

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O Tempra era o símbolo do preconceito automotivo na década de 90

O último preconceito listado aqui é, sem sombra de dúvida, o mais burro de todos! Atualmente, com a evolução cada vez mais rápida, nós perdemos um pouco desse preconceito contra novas tecnologias, aquele medo de comprar algo que não vingará.

Em 2015, quando a VW trouxe o turbo para os carros populares o mercado abraçou na fé, e hoje os carros sobrealimentados são a referência de desempenho e economia. Mas nem sempre foi assim... 

O preconceito contra tecnologias é antigo, e tem suas raízes no pouco conhecimento do mercado e no lobby que as montadoras já estabelecidas aqui têm. Qualquer coisa nova que promova avanços e, por consequência, peça investimentos, sofre ataque.

Parte da mídia destilava justificativas parcialmente técnicas para provar o desserviço que a nova tecnologia traria, e em alguns casos até o governo se metia, criando leis para dificultar ou barrar o avanço. Tudo isso nos deixou com essa cultura contrária ao novo.

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A Fiat trouxe o 147 para o Brasil ainda nos anos 1970, com tração dianteira, motor na transversal e correia dentada. Três características que um mercado dominado pelo Fusca odiava.

Certa vez perguntei ao meu pai porque ele nunca teve um Fiat, seja 147 ou Uno, ou ainda: qualquer VW quadrado. Ele me respondeu: “porque eles tinham correia dentada”. Nessa época meu pai tinha um Kadett. Advinha como era o sincronismo do comando de válvulas do motor Família 2 do Kadett?

Na década de 1990 (sempre ela), o Brasil passava por uma tardia e gigante mudança: trocávamos o carburador pela injeção eletrônica. Várias pessoas preferiam o primeiro, porque os mecânicos de esquina não entendiam de eletrônica. 

Então, entravam na concessionária, compravam um carro zero KM com uma tecnologia do século XIX, porque quando ele quebrasse, 4 anos depois, o "Zé do Carburador" não ia saber consertar.

Nessa época vários carros ofereciam versões com injeção eletrônica e com carburador, tamanha era a confusão do mercado - ok, as montadoras também não ajudavam. A garantia padrão era de um ano, e quase ninguém fazia as manutenções nas concessionárias, onde os técnicos também não tinham o domínio das novas tecnologias.

Ainda naquela década surgiram os motores multiválvulas - tudo bem, os primeiros a usar essa tecnologia tinham sérios problemas em baixas rotações. Mas sempre tiveram desempenho superior quando comparados aos mesmos motores com duas válvulas por cilindro. Advinha quem o mercado preferia?

Por isso escolhi o Tempra para estampar esse tópico. Ele foi, sem dúvida, um dos carros que mais sofreu preconceito naquela década. Era um excelente carro, mas tinha: motor multiválvulas, injeção eletrônica, correia dentada e carroceria quatro-portas.

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Carros não são bens duráveis, não são investimento. São itens de consumo dentro dos quais você passa uma, duas, três horas por dia. Então, quando for comprar o seu, seja ele novo ou usado, escolha algo que te atenda. 

Você pode me perguntar: “ah, mas como eu vendo depois?” Certo, preocupe-se com isso, mas não use como único fator impeditivo. Quem vai usar o carro primeiro: você ou o próximo dono? Também não siga modas. 

Se você quer um carro vermelho, compre um carro vermelho. Se precisa de espaço pense nos sedãs, não compre SUV só porque todos têm SUV. E pesquise, sempre. 

Tudo isso vai fazer você gastar menos dinheiro e comprar algo que atenda tanto suas necessidades quanto seus desejos. E assista nossos vídeos também, assim você faz tudo isso e ainda se diverte!

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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