Ar-condicionado de carro: tudo que você precisa saber para não ser enganado

Só trocar o filtro de cabine a cada 10.000 quilômetros pode não ser o suficiente para manter o ar em dia
JC
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04.06.2022 às 09:30
Só trocar o filtro de cabine a cada 10.000 quilômetros pode não ser o suficiente para manter o ar em dia

por William Marinho, do Podcast Perda Total

Na última década o ar condicionado perdeu definitivamente o status de opcional, se transformando em um item obrigatório em praticamente todos os veículos. Isso ocorreu com certa demora, convenhamos, considerando que vivemos em um país tropical. 

Deste modo foi adicionado um item de manutenção em nossos veículos. E quase ninguém presta a devida atenção nesse sistema, pelo menos até ele perder eficiência, ou pior: deixar de funcionar. Tudo bem, você deve se lembrar da troca o filtro da cabine a cada dez mil km... Mas e se eu te disser que só isso não é o suficiente?

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Primeiro, para que minha explicação seja mais fácil, vou detalhar da forma mais rasa possível como funciona um sistema de ar condicionado. Tudo começa nos itens básicos para que o ciclo de resfriamento seja completo. Óbvio que existem diversas peças complexas no sistema, e algumas características podem variar dependendo da montadora. Mas o básico está abaixo:

Só trocar o filtro de cabine a cada 10.000 quilômetros pode não ser o suficiente para manter o ar em dia

 Figura 1 - Diagrama básico de um sistema de ar condicionado automotivo 

 Neste esquema básico percebemos que a pressão e o estado do fluido refrigerante são alterados no ciclo, como mostrado na legenda. Este fluido é o responsável pela troca de calor. No português bem claro: seu ar gela porque esse fluido está gelado.

Dando segmento no diagrama, temos:

1 – Compressor: Responsável por fornecer energia ao sistema, elevando a pressão do fluido (gás) refrigerante, fazendo com que este circule pelo sistema.

2 – Condensador: Trocador de calor responsável por resfriar o fluido refrigerante após este ser comprimido. Esta perda de calor faz com que o fluido passe do estado gasoso para o líquido. Para resfriar o fluido refrigerante o condensador conta com o auxílio do ventilador (ventoinha).

3 – Filtro secador: Como o próprio nome já diz, ele é o responsável por retirar umidade do sistema, e também separa as partículas ácidas e sólidas que possam existir no sistema, oriundas de impurezas.

4 – Válvula de Expansão: Onde o fluido refrigerante a alta pressão é expandido (perde pressão) antes do evaporador. Essa diminuição da pressão reduz ainda mais a temperatura do fluido.

5 – Evaporador: Conhecido vulgarmente nos carros como serpentina, ele é responsável pela troca de calor do fluido refrigerante a baixa temperatura, auxiliado por um ventilador.

Depois dessa explicação sobre o ciclo de funcionamento, fica bem evidente que a manutenção de troca de filtro de cabine não é o suficiente num sistema que mesmo simples, carece de mais atenção com o passar dos anos. Mas, que tipo de atenção é essa?

Pense que o seu sistema recebe toda a sujeira do deslocamento do seu veículo, assim como toda a parte externa do seu xodó. Logo, o condensador que fica à frente do veículo precisa de limpezas periódicas para se manter íntegro, e com boa capacidade de troca de calor. Trocando em miúdos: toda a poeira, óleo, fumaça etc. que “gruda” no condensador cria uma camada que atrapalha o resfriamento do fluido refrigerante.

É fácil afirmar que a maioria dos problemas oriundos do sistema vêm da negligência da limpeza dos trocadores e possíveis vazamentos. Então aquele mecânico esperto te empurra a famosa “carga de gás”. Oras, se o trocador está sujo e com deficiência nessa função, como a pressão adequada pode ser atingida? Exatamente, caro leitor! É aí que ele te enrola!

Logicamente, podem ocorrer vazamentos. Esses vazamentos são mais comuns nas válvulas de serviço, onde é efetuada a medição de pressão e carga de refrigerante. Problema de simples solução, normalmente com a substituição das válvulas ou só do miolo, mas: CUIDADO com o procedimento. 

Toda intervenção deve ser executada cuidadosamente por alguém com ferramentas adequadas e respeitando as quantidades de fluido necessário (normalmente entre 600 g a pouco mais de 1 kg) e o mais importante de tudo:  o sistema deve ser desidratado, através do uso de uma bomba de vácuo. Além disso, ao inserir novo fluido refrigerante no sistema deve ser também adicionado o óleo lubrificante.

Só trocar o filtro de cabine a cada 10.000 quilômetros pode não ser o suficiente para manter o ar em dia

 

Figura 2 - Válvulas

Outros problemas comuns são vazamentos pelos trocadores. Esses vazamentos podem estar diretamente ligados à presença de umidade no sistema, que gera oxidação dos componentes e falha prematura destes. Assim como a falta de lubrificante pode diminuir a vida útil do compressor. Os rolamentos do compressor também têm vida útil, apresentando ruídos e vibração após esse limite.

Um problema menos comum é o entupimento do filtro secador devido a impurezas. Apesar de raro, pode levar a uma avaliação mais rasa, tendo como diagnóstico a falha da capacidade do compressor de elevar a pressão do fluido, ou ainda falta de gás. Ou seja: uma peça relativamente barata pode levar a um orçamento exorbitante.

Só trocar o filtro de cabine a cada 10.000 quilômetros pode não ser o suficiente para manter o ar em dia

 

Figura 3 - Filtro secador

E como evitar isso tudo? 

Uma boa lavagem com o produto adequado no condensador a cada 12 ou 18 meses, dependendo das condições de rodagem do veículo, vai preservar a capacidade de troca do sistema e manter as pressões dentro do projetado, evitando esforços desnecessários do compressor e de todo o sistema

Substituição do filtro de cabine dentro do recomendado irá aumentar o intervalo de limpeza do evaporador e também a qualidade do ar, bem como a ausência de odores.

Mediante qualquer perda repentina de eficiência, o sistema deve ser verificado para detecção de possíveis vazamentos pelas válvulas de serviço.

Não existe “recarga de gás” sem vazamento. A única possibilidade é quando o veículo fica parado por muito tempo, quando PODE ocorrer vazamento pelos pistões do compressor. O fluido refrigerante nunca é consumido! Se tem falta é porque tem vazamento.

E o mais importante de tudo: Sempre procure um mecânico de confiança, e que tenha as ferramentas adequadas para a execução do serviço.

William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

 Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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