Como o estilo de condução afeta (e muito) o consumo de combustível

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim
LF
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16.12.2020 às 13:40
Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim

Foto: Juliana Carneiro/Mobiauto

Vários fatores inerentes ao projeto de um carro interferem no quanto ele será ávido ou econômico no consumo de combustível: dimensões, peso, coeficiente aerodinâmico, motor utilizado, relação peso/potência, relação peso/torque, curva de potência, curva de torque...

Há ainda as circunstâncias específicas de cada trajeto: quantos passageiros estão a bordo, quanto pesam, quanto de carga está sendo transportado no bagageiro, qual a calibragem dos pneus etc. O ambiente, se é urbano, rodoviário ou em trilha off-road, também conta.

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Mas também pesa (e muito) um último elemento: o estilo de condução do motorista. Se os níveis de consumo vão esbarrar nas variáveis acima, quer queiramos ou não, a forma de dirigir influirá diretamente na capacidade de o carro rodar próximo ou distante (às vezes muito) de sua faixa mais econômica possível.

Para comprovar este axioma, a reportagem da Mobiauto resolveu fazer um teste: completamos dois ciclos de uso que incluíram cidade, rodovia e estrada de terra em proporções similares. No primeiro, rodamos da maneira mais suave e econômica possível. Na segunda, a preocupação com consumo foi nula. O abismo entre os resultados impressionou.

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Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim
Foto: Juliana Carneiro/Mobiauto

O carro escolhido para nosso desafio foi o novo Renault Duster. Sabemos que a segunda geração do SUV está longe de ser o modelo mais comedido em consumo de nosso mercado, mas o objetivo é justamente mostrar que o veículo não pode ser usado como muleta o tempo inteiro para justificar nosso estilo de condução. 

Segundo o programa de etiquetagem veicular do Inmetro, o Duster 1.6 CVT que utilizamos em nosso desafio é capaz de alcançar 7,2 e 7,8 km/l com etanol, sendo 10,7 e 11,1 km/l com gasolina, respectivamente nos ciclos urbano e rodoviário. 

Tais resultados lhe conferem nota C na média geral e A na categoria “SUVs grandes” – ao qual o Duster, curiosamente, não pertence.

Algumas características do próprio Duster se mostrariam desafiadoras em nosso teste: o motor 1.6 flex de 118/120 cv (gasolina/etanol), a 5.500 rpm, e 16,2 kgfm (qualquer combustível), a 4.000 giros, é pouco elástico e tem fôlego limitado para empurrar os 1.279 kg de peso da versão Iconic, a topo de linha. São 10,7 kg/cv de peso/potência e 79 kg/kgfm de peso/torque.

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim
Foto: Juliana Carneiro/Mobiauto 

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O câmbio CVT da Jatco, com simulação de seis marchas, faz o propulsor berrar um bocado em retomadas. Já o vão livre do solo, de 23,7 cm, pode ser excelente para transpor obstáculos, mas não tanto para sua aerodinâmica. Com isso, o coeficiente de arrasto fica em 0,4 Cx. 

Na primeira perna, havia uma passageira a bordo e o porta-malas praticamente cheio de bagagens. E escolhi rodar sempre com etanol, logo a menos eficiente das opções de combustível.

Só que o novo Duster possui em sua central multimídia um trunfo que se tornou muito útil para me ajudar a dosar o pé e a conferir o quanto eu estava sendo eficiente (ou não): uma função chamada Driving Eco, que dá notas de 0 a 100 para o motorista de acordo com o nível de consumo no trecho indicado. E acredite: ele ajuda mesmo a controlar o ímpeto.

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim

Iniciamos nossa auferição em perímetro urbano e, depois, partimos para uma viagem de São Paulo (SP) rumo a Gonçalves (MG), que incluiu um longo trecho pela rodovia Fernão Dias mais uma perna de subida de serra em estrada de terra. 

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Meu objetivo, nesse momento, era ser o mais eficiente possível. Foram 374 km rodados, sendo 70% na Fernão, 20% citadinos e 10% de off-road, aproximadamente. Aqui vem a primeira lição: foi justamente na terra, o pior ambiente em teoria, que o Driving Eco me deu as melhores notas.

Na cidade e nos primeiros trechos de estrada, ainda um pouco impaciente para conter as retomadas, especialmente nos trechos de subida, eu mal vinha conseguindo superar a casa de 80/100 no “econômetro” da central.

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim

Foi só após alguns quilômetros de Fernão Dias que minha média melhorou, para a faixa de 85/100. Quando cheguei à serra, porém, apesar das subidas íngremes e da queda de aderência, a paciência para acelerar só com a “casquinha” do pé e antecipar reduções me fizeram chegar à nota 99! Nada mau.

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As retomadas e reduzidas são justamente os elementos analisados pelo sistema, nas opções “Aceleração” e “Previsão”, com notas de zero a cinco estrelas. Quanto mais você souber dosar o acelerador e manter velocidades constantes, maior será a nota no primeiro item. 

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim

E quanto mais conseguir antecipar momentos de desaceleração e frenagem, tirando o pé com antecedência e usando os freios com parcimônia, sem deixar para frear em cima de lombadas, semáforos ou demais obstáculos, maior ficará o seu saldo no segundo. Simples assim.

Ao fim da jornada, gastei 40,8 litros de etanol, o que me deu uma média de 9,16 km/l. Bem superior ao que o SUV obteve no Inmetro com o combustível vegetal, mesmo com bagagem a bordo e incluindo subida de serra sobre uma estrada de terra. Motivos para celebrar!

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Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim

Já a segunda etapa foi formada por um trecho final da própria Fernão, outro ciclo de utilização dentro da capital paulista e uma viagem pela rodovia Castello Branco até Elias Fausto (SP), onde fica localizado o Circuito Panamericano da Pirelli.

Apesar de menor, 255 km, a proporção de 70% de rodovia, 20% de cidade e 10% de terra foi respeitada. Com a diferença de que a Castello é muito menos sinuosa e possui menos mudanças de relevo que a Fernão, e que o trecho off-road era mais plano. 

Além disso, a maior parte do ciclo ocorreu com apenas eu a bordo e sem nenhuma carga no bagageiro. Ou seja: desta vez o cenário era teoricamente mais favorável ao consumo.

Porém, como rodei sem preocupação alguma, não hesitei em pisar no acelerador com gosto nas retomadas e ultrapassagens, além de ter deixado para frear bem mais em cima de qualquer tipo de incidente à minha frente (com responsabilidade, obviamente, mas sem qualquer esforço para me antecipar a nada).

Uma direção mais suave requer paciência, mas te ajuda a ter médias de consumo até 50% mais econômicas, mesmo num carro não tão eficiente assim
A imagem de minha nota mais baixa no Driving Eco foi feita por mim mesmo e está péssima, mas fica de registro

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Resultado: minha nota no Driving eco caiu para 63/100 e, mesmo rodando quase 120 km a menos do que na primeira fase do teste, consumi 42,8 litros de etanol, 2 litros a mais do que antes. A média final foi de 5,96 km/l, uma diferença de 53% se tomado como base o número mais baixo.

Conclusão de nossa aventura: o carro e as circunstâncias interferem, é verdade, mas, em boa parte, os grandes culpados por virarmos frequentadores assíduos do posto de combustível somos nós mesmos. 

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