Avaliação: Volvo C40 leva Google a bordo e liga sem ter botão de partida
Capacidade cúbica, faixas de rotação, óleo de motor, couro... Esqueça esse tipo de discussão quando falamos sobre os novos carros de luxo chegando ao mercado. Pelo menos os da Volvo. Na marca sueca, todos os principais lançamentos a partir de agora serão SUVs, elétricos e formados por materiais recicláveis no acabamento.
O momento é de entender mais sobre capacidade bruta e líquida de bateria, tipos de motor elétrico, condução por apenas um pedal, conectividade direta com o Google e como garrafas PET e plásticos PVC podem ser reaproveitados como revestimentos de bancos no lugar de couro e suede de origem animal.
Tudo isso é realidade no Volvo C40 Recharge, recentemente apresentado no Brasil. O SUV deriva do XC40 e se parece demais com o irmão a um primeiro olhar, mas traz soluções exclusivas e surpreendentes. A Mobiauto teve oportunidade de conhecê-lo mais de perto no lançamento do modelo para toda a América Latina, na Cidade do México.
Após uma pré-venda limitada a 200 unidades, o C40 já está nas concessionárias da marca no país e cobra o mesmo valor da fase de reservas, pouco menos de R$ 420.000. Segundo a marca, o preço não subiu por causa da redução da alíquota de IPI anunciada pelo governo no fim de fevereiro. Quem comprou o lote inicial, por sua vez, ganhou um desconto de R$ 10.000.
Volvo C40 Recharge P8 Electric 2022 – Preço: R$ 419.950. Pintura Azul Fjord: incluída
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Design: um XC40, só que mais estiloso
O C40 Recharge nasce da plataforma CMA, desenvolvida pela Volvo em parceria com a chinesa Geely, sua acionista majoritária. Porém, é o primeiro produto dessa matriz a já nascer 100% elétrico. Sequer há previsão de que ele ganhe algum tipo de configuração a combustão.
Neste outro artigo, já discorremos um pouco sobre seu visual. Em relação ao XC40, a diferença mais óbvia está na traseira, que no C40 possui um caimento estilo cupê. Curioso é que isso lhe confere apenas 1,5 cm a mais de comprimento (totalizando 4.440 mm), mas gera uma redução de quase 40 litros no volume do porta-malas, de 452 para 413 l.
Por não ter barras longitudinais de teto, o novato é quase 6 cm mais baixo, mas a largura e o entre-eixos são os mesmos. Sua dianteira, apesar de parecida, é exclusiva e não tão musculosa quanto a do XC40, com caimento mais suave do capô e uma falsa grade menos proeminente.
Tomada de ar, mesmo, só na base do para-choque, visto que refrigerar o conjunto elétrico demanda menos ar do que um trem de força a combustão. Por motivo similar, as rodas de liga leve aro 20 possuem entranhas menores e caráter aerodinâmico. Afinal, a frenagem renegerativa proporcionada pelos motores elétricos alivia um pouco o trabalho dos freios a disco.
Os faróis full-LED possuem ajuste inteligente de facho e altura. Na traseira, a assinatura das lanternas subindo de modo pontilhado até a coluna C é o grande destaque, assim como a tampa do porta-malas com abertura por sensor de aproximação dos pés.
E, boa notícia, no C40 o sistema funciona mesmo! Para tanto, a chave precisa estar nas mãos do condutor e as portas, trancadas.
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Acabamento interno: fazendo lixo virar luxo
Falando em chave, elas têm um sensor de aproximação que dispensa até o botão de partida. Pode procurar no painel: você não vai encontrar nenhum. Para ligar o C40, basta colocar a manopla do câmbio diretamente em D e que a ECU (central eletrônica) leia a presença da chave dentro da cabine. E aí, só sair rodando.
Dentro do habitáculo, chama muita atenção a faixa horizontal translúcida ao centro, chamada pela marca de Topography, inspirada em mapas topográficos do Parque Nacional de Abisko, no norte da Suécia. As texturas da superfície lembram as de uma pedra preciosa, mas na verdade o elemento é feito de plástico reciclado.
Todo o revestimento dos bancos, do volante e do câmbio remetem a couro e suede, mas usam plástico tricotado à base de PVC com suporte têxtil confeccionado a partir de poliéster, novamente, reciclado. Já a superfície dos tapetes reaproveita garrafas PET.
Dentre as opções de acabamento interno, a unidade que avaliamos trazia carpetes e tapetes na cor azul, combinando com a pintura externa Azul Fjord, esta última inspirada nos fiordes nórdicos. Não é o mais refinado dos revestimentos, mas pelo menos é ecologicamente correto.
O teto panorâmico não abre, o que é uma pena, mas tem estilo e controle inteligente de incidência de luz solar: seu revestimento IR bloqueia até 95% da luz, 80% do calor e 99,5% de raios UV (ultravioleta).
Numa região de clima predominantemente frio e com poucos meses de verão, como a Escandinávia, excelente. Num país tropical como o Brasil, a ausência da persiana auxiliar será sentida nos dias de sol escaldante.
Dimensões: comprimento, 4.440 mm; largura, 1.873 mm; altura, 1.591 mm; entre-eixos, 2.702 mm. Porta-malas: 413 litros.
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Desempenho
Nossa reportagem experimentou o desempenho do C40 em um trajeto de mais de 100 km, que incluiu trechos urbanos dentro da capital mexicana e uma boa dose de rodovia, com direito a curvas bem sinuosas.
O conjunto motriz, chamado pela Volvo de P8, é o mesmo do XC40 Recharge já vendido em nosso mercado. São dois motores elétricos síncronos (com ímãs permanentes) de 204 cv e 36,7 kgfm cada, do tipo PMSM, um posicionado sobre cada eixo. A potência combinada é de 408 cv e o torque, de 67,3 kgfm.
Como explicamos neste outro artigo, os motores síncronos PMSM (Ímã de Magnestismo Síncrono Permanente) geram um aproveitamento maior de energia e, consequentemente, mais torque instantâneo, sendo também mais leves e compactos que os do tipo assíncrono. Só que são mais caros, inclusive na manutenção.
Motor: elétrico, um dianteiro e um traseiro, transversal, síncrono PMSM AC (corrente alternada)
Potência: 408 cv (204 cv por motor)
Torque: 67,3 kgfm (36,7 kgfm por motor)
Peso/potência: 5,41 kg/cv
Peso/torque: 32,8 kg/kgfm
Câmbio: automático, marcha infinita
Tração: integral
0 a 100 km/h: 4,7 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h (controlados eletronicamente)
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Na prática, percebe-se uma entrega muito direta de potência e torque, especialmente nos modos de condução mais esportivos. Que, por sinal, também deixam as rodas mais livres nas desacelerações, demandando um uso mais assertivo do pedal dos freios, visto que não há trocas de marcha.
Já o modo One Pedal faz o carro praticamente parar sozinho tão logo se tira o pé do acelerador. É estranho aprender a usá-lo, mas dentro da cidade a função pode ser muito conveniente. O pecado é não haver uma função no volante para regular o nível de intromissão do sistema. Só é possível fazê-lo em um campo escondido na central multimídia.
Outra surpresa não tão agradável está no nível de estabilidade e rolagem de carroceria em curvas. Sempre que se fala de um carro elétrico com baterias posicionadas no assoalho, ressalta-se a teórica vantagem do centro de gravidade mais baixo. Mas, ao esterçar com o C40, sente-se a força centrípeta muito mais do que se gostaria.
Por outro lado, as suspensões são macias e muito confortáveis em perímetro urbano. Como não há ruído de motor, a viagem a bordo do SUV cupê da Volvo é silenciosa como num Boeing 787 em céu de brigadeiro, sem turbulêncuas. Acione o controle de cruzeiro adaptativo e o assistente de faixa, milimetricamente preciso em rodovia, e a experiência de pegar a estrada se torna só conforto.
Até lembrarmos que ele é elétrico e precisa ser carregado...
Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e independente com molas helicoidais e barra estabilizadora (traseira); freios a disco ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); peso em ordem de marcha, 2.207 kg; carga útil, 435 kg; diâmetro de giro, 11,4 m; vão livre do solo, 171 mm; ângulo de ataque, 20,1°; ângulo central, 16,2°; ângulo de saída, 26,6°; coeficiente aerodinâmico, 0,329 Cx; capacidade de imersão, 450 mm (a 10 km/h); pneus dianteiros 235/45 R20 e traseiros 255/45 R20; estepe por kit de reparo.
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Consumo e autonomia
O conjunto de baterias do C40 Recharge é, de novo, igual ao do irmão XC40: 78 kWh de capacidade bruta e 75 kWh líquidos. No ciclo europeu WLTP, são 440 km de autonomia prometida em ciclo misto. Ou seja, não se passa aperto com o novato em viagens de curta ou até média distância.
Em nosso teste, mesmo com o ar ligado o tempo todo e sem qualquer preocupação com uma condução mais econômica, gastamos pouco mais de um quarto da carga em um trajeto de cerca de 120 km, e tínhamos mais de 300 km de autonomia anunciada no painel quando chegamos ao destino. Porém, uma recarga rápida de 80% da autonomia não levará menos do que 40 minutos.
Capacidade da bateria: 78 kWh brutos e 75 kWh líquidos
Consumo (WLTP): 5,86 km/kWh
Alcance (WLTP): 440 km
Recarga rápida: 80% em 40 minutos (carregador de até 150 kW DC)
Recarga lenta: 100% em 8 horas (wallbox de 11 kW) ou de 12 a 24 horas (tomada de 220 Volts)
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Google a bordo
Entre todos os elementos de segurança e tecnologia, optamos por falar da central multimídia estilo tablet, com tela vertical de 9”. Desenvolvido pelo Google, o sistema operacional é quase como se você estivesse diante de uma tela de celular Android ou aba do Chrome.
Tanto que possui aplicativos já instalados, como o Maps, que funcionam através de um chip de dados nativo instalado no carro. Este permite ainda usar serviços de concierge, instalar outros apps via Play Store e promover atualizações de softwares via nuvem. Segundo a Volvo, os dados do SIM Card poderão ser usados gratuitamente pelo período de dois anos.
Volvo C40 Recharge P8 Electric 2022 - Itens de série
Além dos obrigatórios airbags frontais, freios dianteiros com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem), cintos de segurança de três pontos em todas as posições, encostos de cabeça em todas as posições e ganchos Isofix para cadeirinhas infantis, o Volvo C40 Recharge vem de série com:
Visual: faróis full-LED com acendimento e nivelamento automático; faróis de neblina de LED; lanternas traseiras de LED; rodas de liga leve aro 20 aerodinâmicas; teto panorâmico com controle inteligente de incidência da luz solar; soleiras das portas dianteiras com logotipo Recharge; tampa do porta-malas com abertura hands free.
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Segurança: alarme com sensor de movimento interno; sete airbags; suporte de mitigação de colisão frontal e traseira; alerta de ponto cego; alerta de tráfego cruzado traseiro; alerta de mudança de faixa com assistente ativo de permanência; proteção contra impactos laterais; proteção contra lesões na coluna cervical; assistente de partida em aclives; controle de velocidade em declives; assistente de estacionamento frontal, lateral e traseiro; controle de cruzeiro adaptativo (ACC); leitor de placas; câmera 360°; sensor de chuva.
Tecnologia: quadro de instrumentos digital de 12,3” com projeção de imagens do Google Maps; SIM Card nativo para atualização de softwares em nuvem, uso do Google Maps e download de aplicativos; sistema de concierge e assistente de emergência Volvo On Call; central multimídia de 9” com tela antirreflexiva, Android Auto (sem fio) e Apple CarPlay (via cabo); Google Automotive Service com Maps, Assistant e Play Store; carregador de celular sem fio; som Harman Kardon de 660 Watts com 13 alto-falantes mais subwoofer e tecnologia Woofer Air.
Conforto e acabamento: volante com regulagem manual de altura e profundidade; volante, bancos e manopla de câmbio revestidos em couro sintético com plástico de PVC mais poliéster 100% reciclados; tapetes feitos de garrafas PET recicladas; painel translúcido revestido com plástico reciclado; modo de condução One Pedal; chave com sensor presencial, inclusive para partida do motor; vidros elétricos com um-toque; travamento automático e interno de porta-malas; retrovisores externos e interno com escurecimento automático.
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Conclusão: “luxo consciente”
O C40 Recharge traz tudo que se espera de um carro premium moderno: silhueta de SUV com estilo traseiro de cupê, motorização elétrica, boa dose de conectividade e sistemas de segurança e tecnologia a bordo, além de soluções de acabamento que demonstram preocupação com o meio ambiente.
Não é mais completo nem o mais conectado nem o mais potente nem o mais tecnológico dos produtos premium ou de luxo oferecidos no Brasil, mas traz um pacote equilibrado. O preço é o de um apartamento? Sim, mas qual carro não está caro hoje em dia?
Quando se fala de “luxo consciente”, aí o C40 Recharge parece não deixar margem para mais ninguém. E a gente já sabe: carro premium do futuro não está nem aí para graxa, fumaça ou V6. Isso é demodê demais. Chique mesmo, hoje em dia, é fazer plástico reciclado virar painel translúcido.
Imagens: Divulgação/Volvo
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Jornalista Automotivo
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