Avaliação Honda ZR-V Touring: falta emoção mesmo com herança do Civic

SUV com boa dirigibilidade, conforto e equipamentos pede por motor mais potente que o atual 2.0 aspirado
Diego Dias
Por
05.02.2024 às 19:05
SUV com boa dirigibilidade, conforto e equipamentos pede por motor mais potente que o atual 2.0 aspirado

Com três meses completados no Brasil, o Honda ZR-V Touring 2024 ainda vem conquistando seu espaço num segmento dominado por Jeep CompassToyota Corolla Cross e VW Taos, só para citar os principais. É óbvio ainda que seus números de venda ainda são distantes desse trio, pois o novo SUV da marca japonesa ainda é uma novidade e também vem importado do México – e o volume de unidades é bem menor.

Apesar desses fatores, o novo Honda ZR-V Touring 2024 tem seus predicados e também uma missão natural de ser o verdadeiro substituto do Civic, já que é vendido numa faixa de preço mais próxima do antigo sedan médio de décima geração. O atual Civic G11 é um híbrido importado da Tailândia e acabou virando um carro caro e com pouca expressão no mercado nacional, tanto que vendeu apenas 475 unidades em 2023. Por isso o ZR-V é tão importante para a Honda e foi o SUV o avaliado da vez na Mobiauto.

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O ZR-V Touring 2024 é encontrado na rede de concessionárias da marca por R$ 214.500 em versão única e sem opcionais. O preço varia apenas pela cor escolhida para a carroceria, ficando R$ 2.000 mais caro pela pintura metálica ou R$ 2.300 somados pela tonalidade perolizada. Bora conferir quais os pontos positivos do Honda ZR-V Touring 2024 e em quais ele pode melhorar.

Honda ZR-V Touring 2024 – Pontos positivos

1. Estilo

O Honda ZR-V é aquele clássico carro em que as fotos não retratam a realidade, pois o SUV tem sim um visual interessante ao vivo. Seu capô longo e faróis afilados com a grade bicuda destacada em colmeia dão um estilo mais próprio perante os outros Honda, sem contar que tem ainda um estilo que remete as famosas station wagons que foram esquecidas no mercado nacional (culpa dos próprios SUVs), isso principalmente por sua altura mais baixa. Destoam mesmo as rodas de 17 polegadas com desenho pouco inspirado.

Nas duas semanas de avaliação acabei até me surpreendendo com a reação curiosa das pessoas pelas ruas tentando enxergar a tampa traseira do ZR-V para ver seu nome. Aliás, durante uma ducha no lava-rápido o atendente teimou que o carro não se chamava ZR-V, mas sim HR-V. Será que seria melhor usar outro nome para o SUV médio, Honda?

2. Estabilidade

Algo que sem dúvidas o Honda ZR-V herdou do Civic em seu projeto foi a estabilidade, tanto que é construído sobre a mesma plataforma da 11ª geração do sedan médio, que atualmente vem importado da Tailândia. Assim como o Civic, utiliza uma suspensão McPherson na dianteira e Multilink na traseira. O resultado? O ZR-V tem a suavidade e maciez de um sedan, grudando no chão em velocidades de cruzeiro e dando bastante confiança ao motorista. Nas curvas então nem se fala, pois foi disparado um dos SUVs que menos oscilou a carroceria que já avaliei em bons anos. Mérito da qualidade construtiva do ZR-V e da configuração/calibração da Honda.

3. Piloto automático adaptativo

Não é exagero algum dizer que o piloto automático adaptativo da Honda é um dos melhores (senão o melhor) entre as marcas generalistas do mercado brasileiro – não devendo nada para marcas de luxo. É bacana como o ACC (controle de cruzeiro adaptativo) e o assistente ativo de faixa funcionam de forma suave e sem dar sustos, dando a impressão que está ali um motorista de verdade dirigindo o carro, sem qualquer tipo de zigue-zague. Isso porque as acelerações e frenagens são muito progressivas, se adaptando bastante ao fluxo de carros numa rodovia em velocidade de cruzeiro ou mesmo no “para e anda” no trânsito. Aliás, em paradas, basta dar um toque leve no acelerador para ele seguir o carro à frente.

4. Espaço interno

Outro ponto de destaque do ZR-V é o espaço interno na cabine, afinal, temos 2.655 mm de entre-eixos muitíssimo aproveitados, obrigado. É verdade que a cabine tem revestimento num tom mais claro para reforçar a sensação de amplitude, mas ficou mais do que provado que, durante o uso, tanto um motorista de 1,85 m quanto um passageiro de 1,95 m acomodado logo na segunda fileira tiveram um espaço suficiente. Vale dizer que o espaço para ombros no carro também é interessante, sem contar que os passageiros do assento de trás ficam mais confortáveis com o piso praticamente plano. Pena que o privilégio ao espaço interno teve um preço - que vou contar mais adiante.

5. Conforto

A Honda também caprichou no conforto do ZR-V Touring 2024, algo mais do que bem-vindo por se tratar de um carro familiar. Isso vai desde a calibração da suspensão, que na prática deixa o SUV muito macio de rodar e sem transmitir muito as imperfeições das vias brasileiras, até mesmo aos bancos que acomodam muito bem todos, do motorista aos passageiros. Foram mais de 1.000 km rodados e sequer deu para sentir cansaço com o SUV médio da Honda. Além disso, outros detalhes fazem a diferença como os apoios de braço nas portas, que trazem espuma densa e não apenas uma superfície macia ao toque como muitos veículos à venda por aí.

6. Isolamento acústico

Viajar com o ZR-V Touring 2024 é das tarefas mais simples, pois o utilitário trata bem o ouvido de todos os ocupantes pelo silêncio a bordo. O isolamento acústico foi levado a sério no SUV com bons materiais fonoabsorventes no piso e em outras partes, como na manta que reveste o capô, que traz uma camada bem espessa. A tranquilidade na cabine só vai ser quebrada mesmo em retomadas durante ultrapassagens, situação na qual o motor 2.0 aspirado e câmbio CVT são mais solicitados.

7. Acabamento

Outro ponto de destaque do utilitário é o bom acabamento. Na parte superior do painel tem tratamento emborrachado e macio ao toque, algo que é até comum na categoria, mas seu diferencial mesmo são os apliques na parte central do painel (com acabamento creme) e também no console central e apoios de braço – pontos em que são utilizados materiais macios e de boa densidade. A única mancada é que a parte central dos painéis das portas trazem revestimento em plástico duro, sendo que a marca poderia estender o revestimento emborrachado da porção superior para toda a peça.

Honda ZR-V Touring 2024 – Pontos negativos

1. Motor 2.0

Com plataforma de Civic, algo que já mencionamos, o ZR-V Touring 2024 é um SUV acima da média para dirigir, ficando em pé de igualdade com o Taos. Mas há uma desvantagem crucial em relação ao SUV da VW: seu motor 2.0 aspirado a gasolina, que entrega razoáveis 161 cv de potência e 19,12 kgfm de torque. Não é um carro lento no dia a dia, mas falta um motor com mais fôlego para o uso rodoviário e que dê conta de um nada leve ZR-V (são 1.446 kg de peso).

O motor 2.0 até faz bom par com o câmbio CVT de sete marchas simuladas, que o deixa bastante elástico na estrada e até com giro baixo em velocidades de cruzeiro, mas obviamente em retomadas e arrancadas o propulsor de 2,0 litros vai gritar bastante, pois falta aquela força extra – que parte dos rivais trazem com o turbo. É algo complicado para a fabricante, pois o irmão menor HR-V tem um 1.5 turbo na prateleira que anda muito mais. A implicação, na verdade, é que ZR-V é que o modelo é feito no México somente com esse motor 2.0 aspirado.

2. Porta-malas

Lembra que o privilégio ao espaço interno teria um preço a se pagar no ZR-V? O porta-malas tem capacidade para 389 litros, o que em tese é um espaço até ok, mas não quando se trata de um SUV médio para levar a família. Os rivais levam a melhor nesse ponto e todos ficam acima dos 400 litros, com o Compass levando 410 litros, o Corolla Cross 440 e o Taos se destacando com seus 498 litros. A situação fica ainda mais feia quando lembramos que um SUV-cupê compacto como o VW Nivus leva 415 litros.

3. Saída de ar traseira não convencional

Uma das maiores penalidades do Honda ZR-V é não vir equipado com as saídas de ar convencionais para o banco traseiro. Leia-se convencionais aquelas que em tese estariam logo atrás do console central a meia altura. No lugar delas se tem um espaço para se colocar objetos e duas entradas USB tipo C. A solução da Honda foi colocar dutos de ar logo abaixo dos bancos dianteiros direcionados para os pés de quem vai sentado atrás mas, para ativar o recurso, o motorista precisa selecionar no ar-condicionado aquele grafismo do boneco com a “setinha” direcionada para frente e para baixo. Caso esteja no padrão convencional (setinha para frente), os passageiros do banco traseiro não terão o ar gelado nos pés. Muito trabalho, era mais fácil a saída de ar básica, não? Até o HR-V mais barato tem.

4. Sem apoio de braço central

Fica difícil de entender um utilitário médio que custa mais de R$ 200 mil não ter o apoia braço central no banco traseiro, recurso que é encontrado até em carros mais baratos. Até há passageiros que acabam esquecendo de utilizar o recurso, mas é um item de conforto mais do que obrigatório num SUV deste preço. Fora que esses descansa-braço central traseiro costumam ter porta-copos e acaba-se perdendo isso também.

5. Sem luz de porta-luvas

Caso você tenha achado a falta de descansa braço central traseiro absurda em um utilitário dessa faixa de preço, o que dizer então de um porta-luvas sem qualquer tipo de iluminação? O ZR-V Touring não tem luz no porta-luvas e caso você tenha deixado algum objeto menor no fundo do compartimento, terá que utilizar a lanterna do smartphone.

6. Sem capacidade de reboque

Um detalhe que pode passar despercebido, mas que é importante é que o Honda ZR-V Touring 2024 não tem capacidade de reboque declarada. Ou seja, caso você tenha pretensões de instalar um engate para rebocar alguma carretinha com moto aquática ou um compartimento extra, ficará na vontade. A própria Honda diz que os veículos da marca “não foram projetados para rebocar trailer, lancha ou qualquer tipo de carreta. Este tipo de instalação pode comprometer o funcionamento e a durabilidade do veículo”. O rival Toyota Corolla Cross, por exemplo, reboca até 700 kg em sua versão 2.0.

Honda ZR-V Touring 2024 – Ficha técnica

Motor 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, aspirado, gasolina, injeção multiponto, duplo comando de válvulas com variação em admissão (i-VTEC) e escape (VTC)
Taxa de compressão
10,8:1
Potência
161 cv a 4.200 rpm
Torque
19,1 kgfm (G) a 3.600 rpm
Peso/potência
8,98 kg/cv
Peso/torque
75,7 kg/kgfm
Câmbio
automático CVT, sete marchas simuladas
Tração
dianteira
0 a 100 km/h
não divulgada
Velocidade máxima
não divulgada
Consumo Inmetro
10,2 km/l na cidade; 12,1 km/l na estrada.
Dimensões e capacidades
4.568 mm de comprimento, 2.655 mm de entre-eixos, 1.840 mm de largura, 1.611 mm de altura, 389 litros de porta-malas, 464 kg de carga útil, 53 litros de tanque de combustível, 1.446 kg de peso em ordem de marcha.
Dados técnicos
direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro, não divulgado; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 17,8 cm; ângulo de ataque, 16,4°; ângulo de saída, 20,2°; ângulo de transposição de rampas não divulgado; pneus, 215/60 R17; estepe temporário 135/90 D17.

Honda ZR-V Touring 2024 – Itens de série

  • Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
  • Travas elétricas
  • Vidros dianteiros elétricos com função "um toque" com antiesmagamento
  • Vidros traseiros elétricos
  • Retrovisores externos com ajuste elétrico
  • Alavanca de seta com One-Touch
  • Volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade
  • Banco do motorista com ajuste elétrico
  • Desligamento automático dos faróis programável
  • Jogo de tapetes com trava antiescorregamento
  • Espelhos no quebra sol com iluminação
  • Retrovisor interno fotocrômico
  • Ar-condicionado automático digital de duas zonas
  • Duas portas USB tipo C dianteiras
  • Duas portas USB tipo C traseiras
  • Porta USB tipo A dianteira
  • Chave com sensor presencial
  • Partida do motor por botão
  • Banco traseiro bipartido (60/40)
  • Volante e alavanca do câmbio revestidos em couro sintético
  • Acabamento do volante em preto brilhante
  • Bancos em couro sintético com faixas centrais microperfuradas
  • Bancos com Estabilizador Corporal
  • Sistema de som com 8 Alto-falantes
  • Central multimídia de 9" com Apple CarPlay (sem fio) e Android Auto (por cabo)
  • Volante multifuncional
  • Quadro de instrumentos parcialmente digital de 7"
  • Carregador de celular por indução
  • Modos de condução Eco e Sport
  • Sistema MyHonda Connect via aplicativo de celular
  • Teto Solar
  • Para-brisas acústico
  • Alarme
  • Frenagem autônoma de emergência (EBA)
  • Freio de estacionamento eletrônico Auto Hold
  • Controles de estabilidade e tração (VSA)
  • Assistente de partidas em Rampa (HSA)
  • Controle de velocidade em descida (HDC)
  • Oito airbags (frontais, laterais, de joelhos e de cortina)
  • Lembrete de afivelamento dos cintos dianteiros e traseiros
  • Sistema Isofix de fixação para cadeirinhas infantis
  • Câmera de ré com linhas dinâmicas
  • Alerta de pressão dos pneus (TPMS)
  • Lembrete de esquecimento de objetos no banco traseiro
  • Monitor de atenção do motorista
  • Honda LaneWatch - Câmera para redução de ponto cego
  • Controle de cruzeiro adaptativo (ACC) com ajuste de velocidade
  • Frenagem de mitigação de colisão (CMBS)
  • Assistente ativo de permanência em faixa (LKAS)
  • Farol alto automático (AHB)
  • Faróis full-LED com DRL (luzes de rodagem diurna), acendimento integrado e ajuste manual de altura do facho
  • Lanternas traseiras em LED
  • Antena tipo Tubarão
  • Limpador de para-brisa com função intermitente e lavadores integrados

Honda ZR-V Touring 2024 – Vale a pena?

Vendido por R$ 214.500, o Honda ZR-V Touring 2024 é mais caro que os rivais VW Taos Highline (R$ 212.480) e Toyota Corolla Cross XRX Hybrid (R$ 210.990) e se apoia na dinâmica de sedan para se sobressair perante os concorrentes. Além disso, traz bom pacote de equipamentos e acabamento – esse último em pé de igualdade com o Jeep Compass.

A questão é que o SUV fica devendo bastante em relação a força debaixo do capô, principalmente em rodovias. Sabemos que a missão da marca não é nada fácil, ainda mais com a forte concorrência chinesa da GWM com o Haval H6 HEV e a BYD com o seu Song Plus – ambos com muita pompa pelo visual, motorização híbrida e pacote de itens de série recheado.

Em contrapartida, ele pode ser uma alternativa para quem ainda tem um pé atrás com as marcas novas no mercado ou acha que os rivais mais vendidos não são tão interessantes assim. No final das contas, o ZR-V é aquele SUV de uma marca com boa reputação e confiabilidade, mas que no saldo final pede por aquele “molho” a mais.

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