Toyota, Ferrari, Tesla: quanto vale uma marca de carros?
O brasileiro apaixonado por carros tende a superestimar marcas e modelos, atribuindo a alguns fabricantes um valor que não espelha os olhos dos investidores. O que pouca gente sabe é que a Philip Morris, uma companhia do setor de tabaco que produz os cigarros Marlboro, entre outras marcas, tem uma capitalização de mercado de US$ 141,8 bilhões (o equivalente a R$ 700 bilhões), sendo muito mais valiosa do que a Mercedes-Benz (US$ 84,6 bilhões) e todo o grupo Stellantis (US$ 83 bilhões).
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“Uma montadora controla, diretamente, 40% do custo do automóvel que ela produz. Então, você vende um carro, por exemplo, por R$ 100 mil e vai deduzindo os gastos: 30% é custo de distribuição, que engloba 10% de margem do revendedor, de 2% a 4% de garantia, 3% de logística, até 5% de meio comercial variável (bônus), outros 5% de marketing e de 3% a 5% de despesas financeiras. Dos R$ 70 mil que a montadora efetivamente retém, você gasta R$ 4 mil na fábrica, na planta fabril, mais R$ 55 mil com chapa de aço, estamparia, soldagem, pintura e na finalização da montagem. Vai sobrar R$ 11 mil, às vezes nem isso. Ou seja, não sobra nada”, resume o proprietário do Grupo SHC (holding que engloba todas as atividades das concessionárias JAC, Jaguar Land Rover e Aston Martin) e ex-presidente da Citroën do Brasil, Sergio Habib.
O leitor pode achar exagero, mas o mais entendido de seus amigos, aquele que é capaz de “declamar” os portfólios de todas as marcas nacionais dirá, muito provavelmente, que qualquer montadora vale mais do que um fabricante de videogames – ledo engano.
Pois bem, a Nintendo (US$ 65,6 bilhões) vale mais do que a Honda (US$ 57,4 bilhões). Imagine, então, como este amigo reagiria se você lhe contasse que a Renault (US$ 12,4 bilhões) e a Nissan (US$ 14,9 bilhões), juntas, valem menos que a companhia brasileira (US$ 40,6 bilhões) de bebidas Ambev?
“Montadora de automóvel, pelo menos no planeta Terra, não vale nada. E não vale nada porque ganha 10% em um ramo que é velho, tem mais de um século, que emprega até 300 mil colaboradores, que corre enormes riscos e, por isso mesmo, não vale nada”, resume Habib de forma pragmática.
E sendo a Matemática uma ciência exata, não é difícil de averiguar os fatos: quem investiu em ações do Banco Itaú (US$ 6,83 por ação, hoje), no final de 2022, fechou o ano passado com ganho de mais de 49%. Já quem apostou na Toyota (US$ 247,22 por ação, hoje) ganhou 16 pontos percentuais menos, 32,8%, enquanto quem comprou papéis da Volkswagen (US$ 127,41 por ação, hoje) perdeu 11,2%.
A Tesla, que é a empresa do setor automotivo mais valiosa do mundo atualmente, com uma capitalização de mercado de US$ 570,6 bilhões (o equivalente a R$ 2,8 trilhões), aparece numa modesta 14ª posição entre as gigantes globais e a segunda montadora mais valiosa, que é a Toyota (US$ 333,4 bilhões), já figura na “segunda página”, numa discretíssima 28ª colocação no ranking mundial.
Falem mal ou falem bem, nossa Petrobras (US$ 108 bilhões),
por exemplo, vale mais do que Ford (US$ 49 bilhões) e General Motors (US$ 45,3
bilhões), juntas. Ainda no Brasil, tanto a Localiza (US$ 11,3 bilhões) quanto a
JBS (US$ 9,6 bilhões), dos inesquecíveis Joesley e Wesley Batista, não só valem
mais como também remuneram melhor seus acionistas em relação à Volvo Car, que
deu aos seus investidores um prejuízo indesculpável de quase 30%, só no ano
passado.
A RaiaDrogasil (US$ 9 bilhões), conhecida nacionalmente como Droga Raia, vale
cinco vezes mais que a prestigiadíssima Aston Martin (US$ 1,6 bilhão) e duas
vezes mais que a Mitsubishi Motors (US$ 4,5 bilhões).
Já a Ferrari (US$ 75,7 bilhões), tida pelos aficionados como o suprassumo do setor automotivo, não é tão superlativa quando se trata de finanças: a marca do “cavallino rampante” tem capitalização de mercado inferior à da CATL (US$ 97,9 bilhões), maior fornecedor mundial de baterias para EVs.
“Quem fornece estes números não sou eu. São as bolsas de valores”, sublinha Habib. “Uma montadora vale pouco porque ganha pouco e os CEOs dessas empresas, muitas vezes, não entendem bulhufas de carro, nem de marketing”, acrescenta.
Finalizando com uma clareza solar, a Meta Platforms (US$ 1,3 trilhão), vulgo Facebook, tem maior valor de mercado do que Tesla, Toyota, Mercedes-Benz, Stellantis, Porsche, BMW e Ferrari, somadas!
Jornalista Automotivo