Por que o preço do diesel não está baixando junto com o da gasolina

Abastecer o tanque de 400 litros de um caminhão já custa R$ 1.192 a mais que em julho de 2021
Camila Torres
Por
03.08.2022 às 11:41
Abastecer o tanque de 400 litros de um caminhão já custa R$ 1.192 a mais que em julho de 2021

O diesel pela primeira vez na história do Brasil, está mais caro que a gasolina. Nos últimos sete meses, o valor médio do combustível usado em veículos pesados e 4x4 aumentou 37,6%. Se considerado o período de um ano, de julho de 2021 a julho de 2022, a alta é ainda mais expressiva: 64,9%.

Os dados são da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).  Um ano atrás, o preço médio do litro do diesel estava em R$ 4,59. Já em julho deste ano, a média subiu para R$ 7,57. Em números absolutos, a alta foi de R$ 2,98. 

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Quanto isso custa para o bolso do brasileiro? Hoje, abastecer o tanque de 80 litros de uma picape sai R$ 238,40 mais caro que um ano atrás. E fica muito pior se fizermos essa conta em um caminhão com tanque de 400 litros. Para ele, a diferença é de R$ 1.192.

Em contrapartida, a gasolina, devido à redução de ICMS aplicada temporariamente até o fim deste ano, está apenas 4,1% mais cara se compararmos com julho do ano passado. Lá, o valor médio do litro era de R$ 5,81; agora, está em R$ 6,05. 

Quando comparamos os meses de junho e julho, os resultados também são muito discrepantes. Enquanto o diesel ficou em média R$ 0,37 mais caro, o que representa um aumento de 5,14%, a gasolina teve queda de R$ 1,20, ou 16,5%.

Abastecer o tanque de 400 litros de um caminhão já custa R$ 1.192 a mais que em julho de 2021

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Mas por que a gasolina está ficando mais barata e o diesel, mais caro? Esse valor continuará subindo? A Mobiauto entrevistou Paulo Feldmann, professor de economia da Universidade de São Paulo (FEA USP), para entender o cenário atual e o que esperar do preço do diesel nos próximos meses.


Por que o valor do diesel não baixa?

Guerra: o conflito entre Rússia e Ucrânia tem causado diversos prejuízos ao Brasil e ao mundo. E aqui vale lembrar que a Rússia é responsável por 15% de toda a produção mundial de diesel.

A sanção dos Estados Unidos ao petróleo russo e a redução da exportação de gás natural da Rússia para a Europa - que levou os europeus a estocarem diesel para substituir o gás como fonte de energia para a calefação doméstica durante o inverno - ajudam a explicar os aumentos de preço.

Retomada econômica lenta: Além disso, é preciso considerar a retomada do mercado mundial pós-pandemia, com uma produção de petróleo que ainda não está no mesmo patamar de 2019, nem no Brasil, nem no mundo.

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Tudo isso impacta significativamente a demanda e pressiona o valor do diesel. Nesta briga de gente grande, obviamente o Brasil leva a pior, pois, além de lidar com as oscilações de preço, negocia o combustível em dólar e, quando converte para o real, alcança patamares elevados demais para a nossa realidade. 

Abastecer o tanque de 400 litros de um caminhão já custa R$ 1.192 a mais que em julho de 2021

Insubstituível: dois fatores agravam ainda mais a situação. Primeiro: não há um substituto para o diesel; segundo: ele tem importância vital para o nosso país. O diesel é o principal combustível utilizado no transporte de cargas, e sabemos que, mesmo tendo um território de dimensões continentais, somos extremamente dependentes do transporte rodoviário.

Mas o diesel importado não é a principal fonte em nosso mercado. Cerca de 75% do diesel consumido por aqui é produzido em solo nacional, de acordo com levantamento da Ilos (Especialista em logística e Supply Chain). E aí é que vem o próximo fator.

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Paridade de Preço Internacional (PPI): mesmo que o diesel utilizado aqui seja majoritariamente extraído e refinado aqui, o valor praticado segue a política de Paridade de Preços Internacionais. 

Pressionada, a CNT (Confederação Nacional de Transportes) se manifestou em nota informando que é possível fazer a gestão das oscilações de preço do mercado internacional sem abrir mão da política de preços e sem colocar em risco as atividades essenciais:

“Mais grave do que aumento de preço é a falta de estabilidade e de previsibilidade no custo do combustível. Oscilações constantes no custo do diesel inviabilizam a formação de preços justos e seguros para o frete. Essa situação expõe os transportadores a incertezas e a prejuízos insuportáveis”, afirma a confederação.

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Além disso, a Petrobras alega que não seguir Paridade de Preços Internacionais poderia desestimular empresas a exportarem combustível para nosso país, ocasionando um desabastecimento pontual.

ICMS: a redução de ICMS trouxe mais impactos positivos para o valor da gasolina, porque antes do Projeto de Lei Complementar nº 194/22 sancionado em 25 de junho, o ICMS para gasolina passava de 30% em vários Estados brasileiros, enquanto o do diesel já tinha o teto de 15%.

Quando o ICMS da gasolina passou para o teto de 18%, medida que ficará válida até o fim deste ano, fez muita diferença. Além disso, o diesel já era comercializado com outros benefícios fiscais, como impostos federais zerados. Por isso, não havia mais muita margem de corte em seu custo.

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Valor do diesel não irá cair até o fim do ano

Cláudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, afirmou que não acredita na redução no valor do diesel até o fim do ano, em teleconferência sobre o balanço do segundo semestre na última sexta-feira (29). 

Pelo contrário, o executivo explica que a alta demanda e a chegada do inverno no Hemisfério Norte podem fazer com que o preço aumente ainda mais: “"A expectativa é que o diesel fique nesse cenário ou até mais forte, a menos que se confirme expectativa de grande recessão global", afirmou Martella. 

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Feeldmann também não traz boas previsões: “O valor do diesel irá se manter elevado pelo menos até o fim da guerra da Ucrânia. Depois disso, será necessário acabar o boicote econômico à Rússia. E Infelizmente não é algo que vá acontecer logo”.
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Porém, o professor de economia aponta alguns caminhos que poderiam viabilizar a redução do valor do diesel no Brasil: “A Petrobras precisa investir em novas refinarias que produzam diesel”, diz.

Outra meta seria diminuir nossa dependência do diesel: “O Brasil é um dos poucos países onde a maior parte das mercadorias são transportadas por caminhão. Na maioria dos países economicamente relevantes, esse transporte é feito por ferrovias. Essa seria a solução principal para o Brasil ficar mais independente desse tipo de combustível”.


Estados que o diesel está mais caro*

*Coletas realizadas entre: 01/07/2022 a 29/07/2022 pela ANP

O Acre é o Estado em que o diesel está mais caro, com o litro custando em média R$ 8,58, segundo o levantamento de julho de 2022. A região Norte concentra os Estados com os preços mais elevados. Nordeste e Centro-Oeste aparecem com as médias empatadas. Em seguida vem o Sudeste e o Sul como região com as médias mais baixas.

Curiosamente, o Estado em que o diesel está mais barato é Sergipe, localizado em uma das regiões em que o litro do combustível custa mais caro. São Paulo e Rio de Janeiro aparecem no ranking entre os dez Estados com os preços mais baixos. 

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1º Acre: R$ 8,58
2° Roraima: R$ 7,83
3° Rondônia: R$ 7,79
4° Pará: R$ 7,78
5º Ceará: R$ 7,76
6º Mato Grosso: R$ 7,71
7º Pernambuco: R$ 7,64
8º Maranhão: R$ 7,57
9º Piauí: R$ 7,56
10º Rio Grande do Norte: R$ 7,56
11º Bahia: R$ 7,50
12ºGoiás: R$ 7,50
13ºAlagoas: R$ 7,49
14º Minas Gerais: R$ 7,49
15º Amazonas: R$ 7,46
16º Distrito Federal: 7,46
17º Paraíba: R$ 7,45
18º Amapá: R$ 7,45
19º Rio de Janeiro: R$ 7,42
20º São Paulo: R$ 7,40
21º Tocantins: R$ 7,39
22º Santa Catarina: R$ 7,37
23º Rio Grande do Sul: R$ 7,34
24º Espírito Santo: R$ 7,33
25º Paraná: 7,31
26º Mato Grosso do Sul: R$ 7,30
27º Sergipe: R$ 7,27


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