Nissan March morre no Brasil: cinco fatores que levaram ao seu fim

Marca japonesa confirma o encerramento da produção. Substituto será um “mini-SUV” indiano.
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28.08.2020 às 11:19
Marca japonesa confirma o encerramento da produção. Substituto será um “mini-SUV” indiano.

 A informação foi antecipada pelo colega André Gessner em seu canal no YouTube, depois alastrada pelos veículos especializados e, em seguida, confirmada pela própria marca: o Nissan March deixou de ser produzido no Brasil.

Lançado em setembro de 2011, durante o período de maior expansão do mercado automotivo nacional, o hatch compacto vendido em outros mercados como Micra parecia ter futuro promissor no país, pois alcançou rápida aceitação entre os consumidores.

Porém, uma sucessão de fatores, de cunho interno ou externo, atrapalhou sua trajetória e o levou a morrer em nosso mercado após quase exatos nove anos, e com apenas uma geração comercializada.

Do triunfo ao desastre

Marca japonesa confirma o encerramento da produção local o hatch compacto. Substituto será um “mini-SUV” a ser lançado em 2022

Quando chegou, importado do México, o March trazia motores 1.0 de 74 cv e 1.6 de 111 cv, ambos quatro-cilindros 16V flex, e vinha sempre nas configurações cinco portas com câmbio manual.

No último trimestre de 2011, a Nissan conseguiu emplacar quase 7 mil unidades do compacto, número deveras promissor. As vendas iam de vento em popa até meados do ano seguinte, quando a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, estabeleceu o Inovar-Auto.

O regime, que estipulava cotas de importação e sobretaxa de 30 pontos percentuais no IPI para quem extrapolasse os limites fez com que as vendas tanto do March quanto do sedã Versa ficassem travadas no último semestre daquele ano. As unidades simplesmente desapareceram das concessionárias.

Marca japonesa confirma o encerramento da produção local o hatch compacto. Substituto será um “mini-SUV” a ser lançado em 2022

Ainda assim, aquele foi o melhor ano do compacto nos registros de emplacamento da Fenabrave (associação nacional dos concessionários), com mais de 33 mil exemplares entregues. Porém, o estrago da falta de unidades a pronta entrega no fim daquele ano já estava feito.

A partir de 2013, as vendas só fizeram cair. Nem mesmo a finalização da fábrica de Resende (RJ), com início da produção local do modelo, em 2014, deu jeito na tendência.

O March chegou a trocar o motor 1.0 de quatro por um de três cilindros, mais eficiente e com 77 cv, em 2016. Um ano mais tarde, adotou câmbio CVT nas versões mais caras. Nada disso surtiu o efeito desejado. Confira a evolução de vendas do modelo desde sua chegada:

2011 – 6.939 unidades
2012 – 33.149
2013 – 24.255

2014 – 24.650
2015 – 23.023
2016 – 18.376
2017 – 14.052
2018 – 11.947
2019 – 6.897
2020 (primeiro semestre) – 1.940

Já há uma nova geração do March à venda na Europa, e ela chegou a ser cogitada por muito tempo no Brasil. No entanto, as contas para sua produção local não fecharam e a Nissan parece ter desistido do projeto.

Ao invés do novo March, a marca japonesa produzirá em Resende, a partir de março de 2022, um SUV subcompacto chamado Magnite, cujo projeto tem origem indiana. Ele utiliza a mesma plataforma do Renault Kwid feito em São José dos Pinhais (PR), a CMF.

Marca japonesa confirma o encerramento da produção local o hatch compacto. Substituto será um “mini-SUV” a ser lançado em 2022

Nossa reportagem elencou cinco fatores fundamentais para abreviar a vida do March no Brasil:

1) O surpreendente plano anti-importados do governo

O surgimento bombástico e inesperado do Inovar-Auto, em 2012, a fim de conter a invasão de carros importados (em especial os chineses) no mercado nacional, atrapalhou muito a vida da Nissan. Afinal, ela trazia o pequeno hatch do México, embora já com planos de fabricá-lo nacionalmente.

Naquele ano, a empresa extrapolou sua cota de importação em agosto, e teve de segurar as entregas de March e Versa para novos compradores ao longo de cinco meses. O mercado não perdoou a falta de unidades a pronta entrega em estoque e a relação do March com o consumidor brasileiro nunca mais foi a mesma.

2) Estratégia de produção local

Marca japonesa confirma o encerramento da produção local o hatch compacto. Substituto será um “mini-SUV” a ser lançado em 2022

Quando a Nissan planejou a produção do March em Resende, o mercado era um. Quando o modelo foi efetivamente lançado, o país já estava estagnado e prestes a entrar em recessão. Tal cenário atrapalhou muito a vida do March brasileiro.

Além disso, a empresa errou ao simplesmente nacionalizar a produção do compacto com uma reestilização simples, sem grandes novidades na lista de equipamentos e com nenhuma mudança na motorização.

Com isso, o à época chamado “New March” de “new” não tinha tanto assim, e as novidades não foram suficientes para dar a ele o destaque que a Nissan pretendia.

3) Posicionamento de mercado

O March se notabilizou por ser ágil tanto com motor 1.0 quanto 1.6, mas também sempre foi conhecido como um carro pequeno e com espaço interno acanhado. E que, nos últimos anos, já não conseguia esconder a idade avançada do projeto dentro da cabine.

Mesmo assim, a Nissan insistiu em precificá-lo no mesmo nível de rivais mais modernos, conceituados e espaçosos, como Hyundai HB20, Chevrolet Onix e Volkswagen Polo. Com isso, foi perdendo cada vez mais o pouco apelo que já tinha.

4) Hesitação em trazer a nova geração

Marca japonesa confirma o encerramento da produção local o hatch compacto. Substituto será um “mini-SUV” a ser lançado em 2022

A Nissan hesitou demais em trazer a nova geração do March para o Brasil. Na Europa, ela já existe desde 2016. É verdade que a marca guarda alguns traumas com o hatch atual, mas o novo modelo é muito mais bonito, espaçoso e bem resolvido.

Por isso mesmo, teria tudo para chamar a atenção do consumidor e fazer o mesmo sucesso que o Kicks fez quando foi lançado. Mas, ao que parece, este cenário já está totalmente descartado.

5) Reestruturação da aliança

A recente reestruturação global da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, visando à racionalização dos negócios, foi outro fator decisivo para colocar uma pá de cal no assunto “March” no Brasil.

Através dela, tanto a Renault quanto a Nissan claramente focarão em projetos de baixo custo para o nosso mercado, mesmo com o uso de uma matriz modular, a CMF. É por isso que teremos aqui o Magnite, de origem indiana, e não um novo March, projeto europeu. 

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