Ford Escort: a história do primeiro carro global da marca feito no Brasil

Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção
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15.02.2023 às 09:04 • Atualizado em 01.03.2023
Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

Em processo de tropicalização desde agosto de 1981, o Ford Escort MK3 foi lançado no Brasil em agosto de 1983 e causou frisson quando chegou aos concessionários da marca por seu estilo moderno “2 volumes e meio”, por seu acabamento esmerado, sua mecânica moderna e principalmente por ser o primeiro carro mundial da marca fabricado no Brasil, argumento em alta nos anos 80.

Com carroceria de 2 ou 4 portas e nas versões Standart, L, GL e Ghia, o carro mundial da Ford oferecia 3 anos de garantia contra corrosão, 1 ano de garantia sem limite de quilometragem para motor e câmbio, além de ar-condicionado e teto solar opcionais para as versões GL e Ghia, opcionais bastante raros na categoria até então.

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Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

Com motores 1.3 de 4 marchas para a versão Standart (com a 5ª opcional) e 1.6 de 5 marchas para as versões L, GL e Ghia (opcional no Standart), inaugurou no Brasil o motor CHT, uma evolução dos motores Cléon-Fonte dos Ford Corcel e Del Rey, com melhor rendimento e maior torque em baixa rotação.

Foram modificados o comando de válvulas, além de pistões, novo bloco e novo cabeçote, conseguindo extrair uma curva de torque bem mais plana, privilegiando seu funcionamento em baixas rotações, e tornando-se assim referência em economia de combustível por quase uma década.

Para o Escort, a Weber desenvolveu também à época um novo carburador de corpo duplo, que funcionava tanto em motores transversais ou longitudinais. Denominado DMTB, onde D significava duplo, M manual, T transversal e B Brasil, este carburador possibilitou à Ford equipar também as linhas Corcel/Del Rey/Pampa com o novo motor CHT logo após o lançamento do Escort. O motor 1.3 equipava Escort e Corcel, enquanto a versão 1.6 equipava Escort, Corcel, Belina, Del Rey, Scala e Pampa.

Além do moderno sistema de ajuste automático da folga da embreagem deste novo motor, que eliminava a necessidade de constantes regulagens, o Escort tinha suspensão independente nas quatro rodas, elogiada por sua maciez e criticada pelos apressadinhos que gostavam de contornar as curvas em alta-velocidade.

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Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

O Escort desbancava até mesmo o Ford Corcel no quesito manutenção, com trocas de óleo realizadas a cada 10.000km (até então o padrão era 5.000km), e sem a necessidade de troca de óleo do câmbio, que usava óleo do tipo long-life. Seus pneus eram exclusivos do Ford na pedida 165SR13, que garantiam o conforto em sua rodagem.

Em seu primeiro teste para a revista Quatro Rodas, motor de 1,6 litro a álcool com 73 cv a 5.200 rpm e 11,6 kgfm de torque a 3.600 rpm fez de 0 a 100 km/h em 13s58 e atingiu 160,714 km/h de velocidade máxima. O que impressionou foi seu consumo, fazendo 9,63km/l no circuito urbano e 14,59 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 80km/h. A 100km/h, ainda tinha média excelente de 12,20 km/l.

A versão 1,3 também foi testada pouco tempo depois, e seu motor a álcool de 62,8 cv a 5000 rpm com 10,5kgfm de torque a 2.800 rpm foi capaz de levar o Escort de 0 a 100km/h em 18s22 e atingiu 149,377 km/h de velocidade máxima. Fez 9,07 km/l no circuito urbano e 13,98 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 80 km/h. A 100 km/h, ainda tinha média de 10,93 km/l. Com médias inferiores ao 1.6, a versão não sobreviveu mais que 1 ano e meio em produção. 

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O esportivo Ford Escort XR3

Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

Em dezembro de 1983, foi lançada a versão XR3, um cobiçado esportivo com motor recalibrado, intitulado motor CHT HP (High Performance). Com seus defletores aerodinâmicos, rodas aro 14 com pneus 185-60, teto solar e bancos esportivos, trazia uma receita apimentada para render mais desempenho, além de opcionais como ar-condicionado e rodas de liga-leve, já que a versão trazia rodas de ferro com as belíssimas e hoje extremamente raras calotas alemãs.

O CHT HP presente no XR3 trazia mudanças no diâmetro das válvulas e novo comando, além de novos coletores de admissão e escape. Exclusivamente a álcool, possuía suspensão mais estável graças a sua calibragem dura.

Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

Seu motor de 1,6 litro fornecia 82,9 cv a 5.600 rpm com 12,8 kgfm de torque a 4.000 rpm, capaz de levar o esportivo de 0 a 100 km/h em 14s34 e atingir 165,138 km/h de velocidade máxima. Fazia 8,02 km/l no circuito urbano e 11,69 km/l no circuito rodoviário, com velocidade média de 100 km/h.

Não era um carro ágil, em muitas vezes até mais lento que a versão Standart ou L (mais leves), mas era mais veloz que as demais versões, com maior velocidade final. Com um estilo que marou gerações, virou sonho de consumo de muitos endinheirados à época. Seu preço no lançamento era de Cr$ 8.117.039,00, equivalentes hoje a R$ 120.696,37 em conversão pelo INPC. 

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As versões especiais de 84 e 85

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Em 84 foram lançadas as versões especiais como as GL Special, com calotas da versão Ghia, filetes nas laterais e cor Prata e XR3 Pace Car, esta última limitada a 350 unidades fabricadas entre fevereiro e março em alusão ao GP Brasil de fórmula 1, ocorrido em 15 de março daquele ano. Ayrton Senna chegava à F1 neste GP, e depois virou inclusive garoto propaganda da marca.

O XR3 Pace-Car exibe faixas azuis laterais com a inscrição PACE-CAR, para-choque traseiro da versão L, carroceria branca e rodas de liga leve na mesma tonalidade. Sua mecânica é a mesma do XR3 comum, diferentemente do PACE CAR que apareceu nas telas do GP Brasil de fórmula 1, que trazia motor turbo com 200 cv. Ainda em 1984, o Escort recebia o título de Carro do Ano pela revista Auto Esporte.

Em 1985 foi lançada a versão XR3 Laser, edição limitada a 1.000 unidades. Sempre na cor branco Andino, trazia de série filetes coloridos nas laterais e rodas de ferro com as calotas alemãs, sem a possibilidade de opcionais.

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Em abril do mesmo ano, chegava nos concessionários o XR3 Conversível, fabricado em parceria com a Karmann-Ghia do Brasil, tornando-o o modelo mais desejado do Brasil e até então o carro mais caro nacional. Sua construção era um pouco trabalhosa, pois a montagem inicial se dava na fábrica da Karmann-Ghia do Brasil, depois o monobloco era levado à Ford para receber a proteção anticorrosão e ser pintado, e em seguida retornava à Karmann-Ghia do Brasil para o acabamento, até finalmente ser devolvido à Ford para a comercialização.

Ford Escort foi reconhecido pela sua economia e desbancava até o Corcel no quesito manutenção

Com poucas alterações do projeto original, mas com importantes melhorias, tinha uma eficiente vedação contra poeira, vigia traseiro de vidro com desembaçador (não de plástico como os conversíveis fora-de-série da época e com uma capota submetida a tratamento antifogo, com manta termoacústica e estabilizador térmico.

Seu motor de 1,6 litro fornecia 82,9 cv a 5.600 rpm com 12,8 kgfm de torque a 4.000 rpm, capaz de levar o esportivo de 0 a 100 km/h em 13s95 e atingir 162,162 km/h de velocidade máxima, sendo ligeiramente mais ágil e menos veloz se comparado a versão com capota rígida. Fazia 6,79 km/l no circuito urbano, graças principalmente ao maior peso, mas mantinha praticamente a média em estrada com 11,47 km/l, sempre a 100 km/h. Os opcionais também eram os mesmos da versão com capota, que incluía também as rodas de liga-leve.

Tudo isso tinha seu preço, e em abril de 1985 um XR3 conversível sem opcionais custava Cr$ 72.000.000,00, equivalentes hoje a R$ 218.257,31 em conversão pelo INPC. 

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O “Escortinho”, como os íntimos o chamavam, era muito gostoso de dirigir. Em 2018, tive a oportunidade de guiar um modelo L de 1986 a álcool do meu amigo Daniel da Classic Customs, restauradora de clássicos de Uberlândia/MG, e fiquei impressionado à época com o torque e o silêncio a bordo. Como o carro era original e estava imaculado, consegui me transportar aos anos 80 e ter a mesma experiência que o meu médico particular, o Doutor José Roberto Andrade Pinto, tinha ao dirigir o seu Ghia quando começou a me atender nos idos de 1986. 

Visto como clássico moderno, hoje um Escort MK3 L, GL ou Ghia em bom estado podem ser encontrados de R$ 12.000,00 a R$ 40.000,00, e se for o XR3, seu preço parte de R$ 25.000,00.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…

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