Como a chegada do 5G vai transformar os carros no Brasil
Por Homero Gottardello
O tão aguardado leilão brasileiro do 5G despertou todo tipo de paixão política, mas pouco se falou sobre um aspecto bastante positivo da chegada do novo – e, até agora, mais avançado – padrão de tecnologia para redes móveis e de banda larga.
A verdadeira revolução que ele representa para o setor automotivo, principalmente no que diz respeito à condução autônoma. “O 5G tem um poder sísmico para a indústria”, resumiu o diretor de conectividade da Audi norte-americana, Anupam Malhotra, para o suplemento Shift, da AutoNews.
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Enquanto esta tecnologia ensaia seus primeiros passos por aqui, a Verizon Wireless adquiriu uma das licenças para operar a Banda C nos Estados Unidos pela bagatela de US$ 53 bilhões (o equivalente a quase R$ 297 bilhões). Para motoristas e usuários do transporte coletivo, a promessa é de melhorias consideráveis em segurança e conveniência.
“Neste momento, estamos mergulhados nas questões que surgirão quando a tecnologia C-V2X for embarcada nos veículos de nossa gama”, disse Malhotra.
Para quem nunca leu esta sigla, antes, ela é a abreviação de “vehicle-to-every-thing”, um conceito inovador de conectividade que vai, basicamente, interligar os automóveis com todos os objetos ao seu redor, dos semáforos aos smartphones dos transeuntes, permitindo a digitalização de todas as condições de tráfego.
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Na prática, o C-V2X alertará o condutor para que reduza a velocidade quando estiver próximo de uma área escolar, por exemplo. Um sistema semelhante, que vem sendo testado pela Honda, também é capaz de alertar sobre a iminência do surgimento de um pedestre à frente, mesmo que ele venha de um ponto cego, a partir do 5G.
Para a General Motors, o 5G é a base para o desenvolvimento da condução autônoma. “Com milhões de automóveis conectados à mesma rede, vamos melhorar a experiência do condutor em relação aos serviços de concierge que já ofertamos em 2024”, afirmou o vice-presidente sênior de negócios e soluções industriais da AT&T, parceira da GM, Gregory Wieboldt.
“Ao mesmo tempo, avançaremos para uma segunda geração de veículos autônomos”, completou o executivo. Desde 2014, donos de carros da marca já usaram 171 milhões de GB de dados, isso com conexão 4G LTE.
A Microsoft ainda fornecerá a plataforma de inteligência para novos serviços de assistência, navegação (20 vezes mais preciso que o GPS atual) e e-commerce, operados por comandos de voz.
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Realidade estendida
A Holoride pretende juntar o ambiente da realidade virtual (VR) às projeções da realidade aumentada (AR) para criar um novo conceito de entretenimento a bordo, com base na realidade estendida (XR).
“Com o 5G, teremos um design mais avançado para as experiências de mídia, que antes era impossível por causa de limitação na largura da banda”, avalia o presidente-executivo (CEO) da empresa, Nils Wollny.
Na verdade, a Holoride não cria ambientes virtuais, mas NFTs que garantirão um ecossistema digital para as montadoras, bem como uma base para a distribuição de conteúdo.
“Esta base otimizará as atualizações de mapas e de outros softwares veiculares, como os sistemas de diagnose e head-up displays”, pontua Ed Martin, que gerencia o departamento automotivo da Unity, desenvolvedor de conteúdo 3D em tempo real (RT3D).
Além da Verizon Wirelles, a AT&T e a T-Mobile garantiram suas fatias na Banda C, com investimentos de US$ 23,4 bilhões (o equivalente a R$ 129 bilhões) e US$ 9,3 bilhões (R$ 52,1 bilhões), respectivamente.
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A exemplo das ondas de rádio, as frequências mais baixas do 5G (menos de 1 GHz) têm maior alcance, porém carregam menos informações. As frequências mais altas, de 24 GHz a 40 GHz, carregam muito mais dados, porém sofrem restrições físicas – de prédios, por exemplo – e até mesmo da umidade da chuva.
“Teremos, basicamente, a mesma infraestrutura da rede atual, mas passamos os últimos anos densificando nossa malha, com pequenas células e macrocélulas que já garantem conexão mais rápida para usuários comuns e, principalmente, para a automação industrial”, detalhou o vice-presidente sênior de planejamento da Verizon, Adam Koeppe.
É verdade que o advento do 5G, por si só, não tornará todos os automóveis autônomos, mas este tipo de conectividade permitirá o uso de sensores que transmitirão um número maior de dados, de informações digitais, bem como sua interpretação instantânea.
“Hoje, o 5G atende nossas necessidades plenamente, já que carrega mais dados para monitoramento. Para falar a verdade, os veículos autônomos não necessitam, obrigatoriamente, desse tipo de rede, mas se beneficiam dos dados que são gerados”, pontua o vice-presidente de tecnologia estratégica da Motional, umas das pioneiras norte-americanas em mobilidade autônoma, Eryk Nice.
“A rede 5G também vai permitir que a redundância dos sistemas, que hoje ocupa quatro canais, seja simplificada, garantindo maior confiabilidade. Para as companhias, isso representa simplificação e barateamento, em outras palavras, redução dos custos de produção”, acrescenta.
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Segurança e eficiência
Na China, o 5G vem sendo usado para integrar as informações de sensores instalados em ruas, avenidas e rodovias, criando algoritmos que auxiliam na condução dos automóveis autônomos.
“É uma abordagem um pouco diferente, com base no conceito V2X e foco na segurança e eficiência viárias. Ou seja, toda a infraestrutura de tráfego e os pedestres transmitem informações entre si”, explica o presidente-executivo (CEO) da consultoria Horizon Advisory, Nathan Picarsic.
“Quando olhamos um veículo japonês, outro europeu, um americano e um chinês, eles se parecem bastante, mas a forma como os governos de cada um desses países olha para a questão infraestrutural, quando se trata de mobilidade autônoma, é muito diferente”, destacou o analista.
Para ele, a China tem um cenário ideal para a combinação daquilo que a rede 5G e a inteligência artificial (IA) oferecem.
Por trás da Grande Muralha, o país já tem instaladas mais de 500 mil estações-base que suportam o 5G e, de acordo com a consultoria Counterpoint Research, apenas três empresas de telecomunicação chinesas (nominalmente a China Mobile, a China Unicom e a China Telecom) irão investir US$ 184 bilhões (o equivalente à cifra estratosférica de R$ 1,03 trilhão) em redes com a nova tecnologia.
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A Counterpoint Research ainda projeta que, em 2025, 25% dos automóveis vendidos globalmente terão conectividade 5G e que a maioria deles vai circular na China. O robotáxi da Baidu, por exemplo, consegue reduzir o tempo de deslocamento em 30%, suportado por nada menos que 86 interseções V2X, instaladas em Pequim e Xangai.
Como se vê, enquanto o Brasil se preocupa, apenas e tão somente, com o loteamento do 5G para a exploração de multinacionais (a italiana TIM e as “semibrasileiras” Claro e Vivo ficaram com as maiores e melhores fatias do negócio), fazendo festa para comemorar a arrecadação futura de R$ 7,1 bilhões, nos Estados Unidos e na China a coisa vai muito além da espoliação.
É preciso entender que, sem nenhum tipo de promessa para o setor industrial e o segmento de transportes, o governo entregou a exploração de nossa mais avançada rede de telecomunicação por um valor que representa 0,007% do que apenas três companhias chinesas irão investir em infraestrutura.
É o “neoliberalismo brasilis” gerando menos valor do que o comunismo de Mao. Vai entender...
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