Chevrolet Celta: o popular raiz que era um Corsa (ainda) mais simples

Projeto de baixo custo da GM aproveitou carroceria do Corsa B para bombar vendas com preço agressivo e foco em custo-benefício
LA
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14.06.2023 às 14:26
Projeto de baixo custo da GM aproveitou carroceria do Corsa B para bombar vendas com preço agressivo e foco em custo-benefício

O Chevrolet Celta só chegou ao mercado nos anos 2000, mas é uma cria incontestável dos anos 90, a década mais competitiva, sem dúvidas, no mercado automotivo nacional. Especialmente o segmento de compactos populares apresentava disputas acirradíssimas das marcas pela preferência nacional, inclusive internas.

A Fiat, quando lançou o Palio, se deparou com dois produtos na prateleira, pois o Uno Mille não perdeu fôlego. Já a Volkswagen investiu mais pesado na renovação da sua gama em 1999, lançando o Gol G3, mas continuou fabricando o modelo antigo como veículo de entrada (Gol Special).

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Ao mesmo tempo, a GM preparava a segunda geração do Chevrolet Corsa nacional, acompanhando a evolução do irmão Opel Corsa no mundo, Porém, queria um produto mais barato para concorrer diretamente com Ford Ka e os já citados Gol Special e Uno Mille.

Assim, em 1999, foram flagrados os primeiros protótipos do Chevrolet Celta, frutos do projeto Arara-Azul. Lançado em 2000, usando a plataforma e praticamente toda a carroceria do Corsa B, de 1993, o Celta foi concebido para ser barato. Conforme as palavras do David Wong, então consultor da Booz Allen & Hamilton, especializada em indústria automobilística, era “um Corsa simplificado”.

E põe simplificado nisso: não havia ar-condicionado, muito menos direção hidráulica, travas ou vidros elétricos, e a qualidade dos plásticos era baixíssima. Parte desses equipamentos chegaria opcionalmente a partir de 2001. Com linhas simples e fluidas, podia receber kits de embelezamento e rodas de liga leve de 14 polegadas nos concessionários.

O acabamento frágil era muito criticado, pois o plano da GM era fazer do Celta o carro mais barato no Brasil. Por isso, economizava bem nos materiais de seu interior. Mesmo assim, ele agradava pelo design geral e seu painel era considerado bonito, com fundo branco no velocímetro, além de hodômetro e marcador de combustível digitais. Não havia termômetro, o que foi corrigido em 2005, no seu primeiro facelift.

Simples em todos os quesitos e com baixo custo de manutenção, o Celta logo ganhou fama de robusto com seu motor 1.0 herdado do Corsa, que desenvolvia 60 cv de potência a 6.000 rpm e 8,3 kgfm de torque a 3.000 rpm, acoplado a uma caixa de câmbio manual de cinco marchas. Os pneus 145/80 R13 recomendavam prudência nas curvas.

O Celta ia de 0 a 100km/h em 15,64 segundos e e chegava a bons (para a época) 150,4 km/h de velocidade máxima, também graças ao seu coeficiente aerodinâmico relativamente baixo. Era o popular mais rápido de sua época entre os 1.0 de 8 válvulas.

Seu consumo, ao menos nas primeiras unidades, não era muito bom, como atestava seu primeiro teste na edição 482 da revista Quatro Rodas, de setembro de 2000: com médias de 8,8 km/l de gasolina na cidade, consumia tanto quando um Vectra 2.0 ou mesmo um VW Santana 2.0, muito longe de seus concorrentes diretos.

O Uno Mille Smart, por exemplo, fazia 11,22 km/l no mesmo percurso. Já na estrada, sua média era aceitável, chegando a 14,66 km/l, ante 15,58 km/l do Fiat.

Disponível inicialmente nas cores sólidas branco e verde, ou nas metálicas azul, vermelho ou prata, o Celta foi sucesso absoluto pela novidade no mundo dos populares do início da década de 2000. Com apenas quatro meses de vida, foram emplacadas 21.444 unidades do compacto.

No ano seguinte, foram mais de 90 mil carros vendidos e, a partir de 2002, entrou no pelotão de elite (modelos que superam 100 mil unidades por ano), constando sempre entre os quatro modelos mais vendidos do mercado nacional.

Naquele mesmo ano, o modelo recebia a configuração inédita de quatro portas, novo volante e um conta-giros nos instrumentos, desta vez com fundo azul. Em 2003, o motor herdado do Corsinha foi substituído pelo VHC (Very High Compression), de 70 cv a 6.400 rpm e 8,8 kgfm a 3.000 rpm.

Com o novo “coração”, o Celta agora fazia de 0 a 100 km/h em 13,1 s e chegava a 155 km/h de velocidade máxima. Muita gente se considerava “piloto” com este carrinho, e ele realmente encarava os modelos 1.6 com muita garra, principalmente em saídas de semáforo.

Para o ano seguinte, chegava o motor 1.4 de 85 cv a 5.800 rpm e 11,8 kgfm a 3.000 rpm. Mais rápido do que nunca com o motor de maior capacidade cúbica, o popular da Chevrolet atingia 161 km/h de velocidade máxima e fazia de 0 a 100 km/h em 12,3 s.

Em 2005, além da chegada da tecnologia flex, o hatch passou a oferecer como opcional em todas as versões o kit de acessórios Off-Road, que poderia ser instalado inclusive em exemplares usados. A roupagem aventureira era a grande moda utomotiva da época, mas graças a Deus não deu certo!

Sucesso não só no Brasil, o Celta também foi vendido na Argentina e Uruguai como Suzuki Fun, além de países como Guatemala, Nicarágua, El Salvador e Jamaica. Nesses últimos casos, como Chevrolet Celta mesmo.

Ah, ele esteve disponível nas ilhas de Aruba e Curaçao, territórios holandeses no Caribe. Na maioria dos mercados de exportação, prevaleceu o motor 1.0 (neste caso, sempre o antigo de 60 cv), com exceção da Argentina, onde o 1.4 era padrão.

Melhorias chegaram também na linha 2007, quando o Celta passou por sua primeira grande reformulação interna, externa e mecânica. Ali estreava a carroceria sedan (Prisma), uma história rica a qual falarei em breve.

Com vendas em alta, boa aceitação do público e valorização até no mercado de usados, onde virou queridinho graças à sua robustez, mecânica simples e muito barata de ser mantida, o Celta é até hoje aclamado por fãs que lamentam sua despedida das lojas em 2015, ainda em sua primeira e única geração.

Nesses 15 anos de história, após 1,5 milhão de unidades produzidas, o Chevrolet Celta continua sendo um popular muito valorizado no mercado de usados. Era simples? Sim. Ainda remetia ao velho Corsa B? Com certeza. Mas, convenhamos, era legal demais essa disputa dos populares no início do milênio, não?

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…

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