CES 2022 traz carros que trocam de cor e até matam vírus da Covid

Mesmo afetada pela variante Ômicron, feira mostra guinada que parece não ter volta: a de veículos que se tornaram gadgets elétricos cheios de truques
JC
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07.01.2022 às 10:12
Mesmo afetada pela variante Ômicron, feira mostra guinada que parece não ter volta: a de veículos que se tornaram gadgets elétricos cheios de truques

Por Homero Gottardello

Não há exagero em dizer que o automóvel se tornou um gadget, ou seja, um dispositivo como um smartphone, um console de games, um tablet, um ultrabook ou qualquer outro eletrônico. 

Se o leitor ainda não enxerga um carro elétrico dessa forma, sinto em ser eu a informá-lo: você está ficando para trás, porque esta é a forma que a indústria, os revendedores e os usuários (os antigos motoristas) veem os mais recentes lançamentos da eletromobilidade. 

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Prova inequívoca disso é que o Salão do Automóvel de Detroit, que acontece na ex-Capital Mundial do Automóvel desde 1899 – portanto, há mais de 120 anos – deixou vazios os quase 100 mil metros quadrados do Cobo Center, nesta semana, enquanto seus maiores expositores correram para garantir um lugar no CES (Consumer Electronics Show), do outro lado do país, em Las Vegas. 

Não faz muito tempo, o CES era o palco do lançamento de games, aspiradores de pó autônomos e novas versões de sistemas operacionais. Já nesta edição de 2022 ele traz a avant-première de pelo menos dois dos elétricos mais aguardados no mundo atualmente. 

“É um dos eventos mais importantes do segmento de tecnologia e, por isso mesmo, o escolhemos para apresentarmos mundialmente a nova Chevrolet Silverado EV”, resumiu a presidente-executiva (CEO) da General Motors, Mary Barra, que revelou a picape verde por videoconferência.

Infelizmente, diante do avanço exponencial das infecções pela variante Ômicron do coronavírus, o CES 2022 foi muito esvaziado. Dos 2.200 expositores, diversos recuaram e converteram suas conferências presenciais em fóruns remotos. 

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Mesmo afetada pela variante Ômicron, feira mostra guinada que parece não ter volta: a de veículos que se tornaram gadgets elétricos cheios de truques

Nesse ponto, a GM apenas se juntou a Intel, Lenovo,  Google, Meta, Twitter, TickTok e Amazon, para citar sete titãs do setor digital que decidiram de forma prudente, mas de última hora, desmontar seus estandes. Portanto, apesar de a feira ter aberto as portas na última terça-feira (4), para quase ninguém, o embarque das montadoras parece uma tendência irreversível de agora para frente.

“A Silverado EV chega às ruas em 2023, com uma combinação inédita de capacitação, desempenho e segurança”, disse Barra, durante seu virtual ‘keynote’. A picape verde traz mais de 660 cv na versão RST e tem alcance de mais de 640 quilômetros, sem necessidade recarga das baterias – uma estação rápida garante autonomia extra de 160 quilômetros, com apenas dez minutinhos de recarga. 

Nos EUA, seus preços irão de US$ 39.900 (o equivalente a R$ 227.290), cobrados pelo modelo mais simples, de uso comercial, a US$ 105 mil (o equivalente a R$ 600 mil), no caso da versão superesportiva.

“A saúde e a segurança de nossos clientes, parceiros e colaboradores foi nossa prioridade. Por isso, cancelamos nossa presença física no evento e antecipamos uma apresentação virtual do Vision EQXX”, explicou ao “Yahoo! Finance” o presidente do Conselho de Administração da Daimler AG e da Mercedes-Benz, Oka Källenius. 

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A marca da estrela de três pontas foi outro gigante do setor automotivo que escolheu o CES 2022 para revelar seu mais novo carro-conceito, o Vision EQXX, um elétrico de grande porte – medidas e estilo semelhantes ao Porsche Panamera – com autonomia de quase 1.000 quilômetros (620 milhas). 

“É um projeto que nos faz avançar em várias direções”, destacou Källenius. “É um veículo quase duas vezes mais eficiente que o EQS, com uma média de 6,2 milhas (9,9 quilômetros) por kWh, que agrega o know-how de nossa equipe da Fórmula 1 e conta com um pacote de baterias 50% menor, em volume, e 30% mais leve que o usado atualmente”, acrescentou.

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A BMW também cancelou sua participação física na CES 2022, mas não deixou de surpreender com conceitos como o iX Flow, cuja pintura varia entre branco, cinza e preto de modo praticamente instantâneo.

A mesma escolha foi feita pela Stellantis (grupo que reúne 15 marcas antes pertencentes a Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën), que apresentou remotamente o conceitual Airflow, primeiro modelo 100% elétrico da Chrysler, o New 500, da Fiat, o Citroën Ami EV e o monoposto da Fórmula E da DS Automobiles. 

De qualquer forma, apesar da ducha de água fria, a chegada das montadoras foi comemorada por quem já fazia parte da CES: “Há uma abordagem cada vez mais cooperativa em torno da mobilidade e isso adiciona ainda mais parceiros aos nossos negócios”, avalia o vice-presidente sênior e diretor de produto da HERE Tecnologies, Jorgen Behrens. 

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A empresa produz o aplicativo de navegação gratuito WeGo, um dos mais usados pelos turistas em viagens de família. “Estamos entusiasmados em apresentar nossa tecnologia para novas empresas”, acrescentou.

Na CES, o automóvel ainda é um ator coadjuvante, mas que busca o estrelato. E entre as estrelas já consolidadas, muitas têm foco no setor automotivo, como a Arbe Robotics. 

“Somos líderes em radares 4D para direção autônoma e, neste ano, apresentamos um mapeamento refinado, um novo algoritmo que, agora, consegue enxergar áreas desobstruídas ao redor do veículo, mapeando um espaço dirigível pela combinação de sensores”, explica o diretor de negócios da empresa que tem sede em Tel Aviv (Israel), Ram Machness.

“Nenhum outro fornecedor foi capaz, até agora, de mapear o espaço livre. Os radares atuais ignoram objetos estacionários, bem como o tamanho e altura desses objetos”, acrescenta Machness.

Na prática, o sistema da Arbe Robotics permite a direção autônoma de Níveis 4 e 5, em que não se presume a intervenção de um motorista. A empresa foi destacada com o prêmio de Inovação, em “Vehicle Intelligence & Transportation”.

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Interseção

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A interseção entre o CES e o futuro da mobilidade também é evidente e, mesmo combalido pela pandemia, o evento apontou o inegável interesse do segmento de delivery nos modelos comerciais autônomos. 

A Udelv, por exemplo, exibe o Transponder, um furgão com capacidade para 745 quilos e capaz de fazer até 80 entregas por ciclo, cobrindo um raio de até 480 quilômetros, dependendo do pacote de baterias escolhido pelo operador. 

A empresa já contabiliza uma carteira com 1.000 pedidos do Transponder, incluindo da Força Aérea Norte-Americana. O veículo começa a ser produzido em 2023 e a fabricante espera ter nada menos que 50 mil transportadores autônomos operando em 2028. 

“O segmento de compartilhamento está fervilhando”, avalia o presidente-executivo (CEO) da Indigo, Will Graylin. “Apresentamos dois furgões equipados com novas rodas robóticas, com até 400 quilômetros de alcance, que ofertarão um novo padrão de rodagem e permitirão melhor aproveitamento de espaço”, complementou.

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A Indigo, por exemplo, anunciou a contratação do ex-gerente de inovação da Audi, Volker Kaese, como seu novo diretor de tecnologia, comprovando que algumas startups já têm cacife para, inclusive, promover uma dança das cadeiras com as multinacionais do setor automotivo.

No país dos SUVs, o Grand Cherokee 4xe coloca a Jeep, finalmente, nos trilhos da eletromobilidade, mesmo que por meio de um modelo híbrido (plug-in). 

“Projetamos um futuro totalmente eletrificado, conectado por dentro e por fora dos veículos”, resume o diretor de design da Stellantis (controladora da Jeep), Ralph Gilles. “Estamos nos movendo para oferecermos um conceito de mobilidade limpo, livre de emissões, com foco em conectividade”, reforça o executivo.

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Entre os fornecedores da indústria automotiva, a Valeo apresentou a terceira geração de seu sistema de direção autônoma LiDAR, capaz de reconstruir imagens em 3D do entorno do veículo, a uma velocidade de 25 quadros por segundo e com uma resolução de 4,5 milhões de pixels (um ganho de 12 vezes em relação à segunda geração).

Já a Bosch exibiu o quebra-sol inteligente, um Visor Virtual que identifica a posição dos olhos do motorista escurecendo a parte do para-brisa por onde a luz poderia cegá-lo. A Marelli foi premiada por um sistema de purificação (IAQ) que usa luzes UV-A e UV-C, combinadas a um filtro de dióxido de titânio, para eliminar bactérias da cabine e até mesmo o vírus da Covid-19.

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Enquanto isso, o destaque robótico para a Hyundai com seu MobED (do inglês “Moblie Eccentric Droid”), uma plataforma multiuso para aplicações que vão do transporte de mercadorias, com um suporte que se movimenta em 360 graus, até a acomodação de recém-nascidos em berços.

“Os mais recentes resultados do nosso observatório Tech Compass, em que ouvimos pessoas nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Índia e China, apontam para uma visão pragmática da tecnologia. As pessoas querem, simplesmente, que ela resolva os problemas do nosso tempo e, não, do futuro”, comenta o presidente-executivo (CEO) da Bosch, Stefan Hartung. 

“Na Ásia, por exemplo, há uma grande expectativa em relação às telecomunicações, principalmente em relação ao 5G, e à inteligência artificial, mas o automóvel ainda é o meio de transporte mais desejado, com a preferência de 56% dos entrevistados”, pontuou. 

Realmente, parece que estamos vendo um choque de galáxias que, a exemplo do que ocorre na Astronomia, passarão a comutar uma mesma órbita. 

Sem um lançamento, propriamente dito, a Volvo aproveita a CES 2022 para mostrar um novo produto, ou melhor, uma nova tecnologia que pretende comercializar como um opcional para suas futuras gamas: trata-se do Ride Pilot, seu “sistema de direção autônoma sem supervisão”, ou seja, seu piloto automático de Nível 5 – a Volvo não quis usar a classificação da SAE. 

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O Ride Pilot estará disponível para o próximo crossover elétrico da marca, só que por assinatura. “Este tipo de direção totalmente autônoma é uma coisa muito valiosa para as montadoras”, disse o presidente-executivo (CEO) da companhia, Hakan Samuelsson. 

“Vamos equipar todos nossos modelos com o hardware necessário, composto de oito câmeras, cinco radares e 16 sensores ultrassônicos, preparando nossa frota, independentemente do país, para a oferta da assinatura deste serviço”, adiantou. 

Agora, é aguardar as confirmações dos grandes salões europeus do automóvel para saber se as montadoras estão de malas prontas para uma mudança global de paradigma. 

De qualquer forma, o bom e velho Salão de Detroit está confirmado para o próximo mês de novembro, entre os dias 23 e 26, com a chancela de “Motor Bella” e uma pegada bem diferente daquele que o marcou por mais de um século. É o mundo dando suas voltas!

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