Avaliação: Renault Stepway, o único Sandero a ainda ser 1.6 CVT

Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?
Camila Torres
Por
21.04.2021 às 08:00
Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?

Passamos uma semana com o Renault Stepway Iconic 1.6 CVT para ver como anda o último “Sandero” ainda equipado com motor 1.6 e câmbio CVT. Afinal, a gama do hatch foi reduzida às versões 1.0 manual

Mas o irmão, que foi emancipado de versão aventureira a modelo com nome próprio, apesar de utilizar a mesma carroceria, e ainda é chamado de “SUV” pela marca, segue vivo com o trem de força maior e usando caixa automática.

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Apesar de ser mais potente que o Sandero 1.0, o Stepway 1.6 ainda come poeira dos rivais Fiat Argo Trekking 1.8 e Hyundai HB20X 1.6 automáticos. E com um projeto mais antigo, que remonta a 2014, o “Sandero 1.6” sobrevivente precisa caprichar no custo-benefício para se mostrar mais atraente que os rivais. Será que consegue? 

Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?

Por enquanto, é com ele que a Renault terá que brigar por espaço no mercado, porque a nova geração de Sandero, Stepway e Logan, já apresentada na Europa sob a insígnia da Dacia (e também na Turquia, no caso do sedan, trocando o nome para Taliant), está com o projeto congelado no Brasil e ainda não se sabe se sairá do papel.

Caso venha, o novo Renault Stepway deve passar por retoques estéticos para ser “abrasileirado”. Mas o ponto alto mesmo será o uso de um novo motor 1.0 turbo que. Enquanto esses planos não se concretizam, temos aqui o Stepway brasileiro da vida real: na versão Iconic 1.6 CVT, ofertado por R$ 90.790. Mas o que ele oferece? 


Desempenho: tem que esperar embalar

Se a ideia é comprar um Renault 1.6 CVT com bom vão livre do solo, mas que não te fará passar raiva nas acelerações, melhor fugir de Duster e Captur, presentes na lista de SUVs mais lentos à venda no Brasil, e partir para um Stepway.

Não, o Stepway ainda não é um carro de respostas instantâneas. É preciso pisar um pouco fundo no acelerador para ele reagir a contento. Porém, depois que embala, até encara bem uma subida mais íngreme. Quem não precisa de impulso, não é mesmo?

O seu motor 1.6 entrega 115/118 cv (etanol/gasolina), a 5.500 rpm, e 16,3 kgfm (com qualquer combustível), a 4.000 rpm. Como se pode constatar, o propulsor oferece potência e força relativamente boas, só que em uma faixa de rotação muito alta, por isso precisa de um embalo para desempenhar bem.

Por isso mesmo, e também pelos índices inferiores de potência e torque, o Stepway não rende tão bem quanto o Fiat Argo Trekking 1.8 AT (R$ 82.590), com seu 1.8 de 139 cv a 5.500 rpm e 19,3 kgfm a 3.750 rpm. Nem em comparação com o Hyundai HB20X Evolution 1.6 AT (R$ 82.290), com 130 cv a 6.000 rpm e 16,5 kgfm a 4.500 rpm.

Vamos ver a diferença que isso faz no 0 a 100 km/h, de acordo com dados oficiais das respectivas fabricantes dos três modelos:

Renault Stepway Iconic 1.6 CVT: 0 a 100 km/h em 11,2 segundos
Fiat Argo Trekking 1.8 AT: 0 a 100 km/h em 10,4 segundos
Hyundai HB20X 1.6 Evolution AT: 0 a 100 km/h em 10,9 segundos

Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?

Parece uma diferença pequena nos números, mas que se sente de modo evidente ao volante, seja nas acelerações para ultrapassagens, no fôlego para encarar subidas ou nas arrancadas constantes do dia a dia. 

O Stepway tem ainda mais um fator contra: o câmbio CVT com simulação de seis marchas. Enquanto seus rivais têm caixas automáticas mais silenciosas, a do Renault costuma operar a rotações mais altas, comprometendo o conforto. 

Ainda falando da dirigibilidade, o Stepway tem apenas direção eletro-hidráulica, enquanto seus concorrentes já oferecem direção elétrica, um pouco mais leve. Mas não chega a ser um ponto a se criticar. 

No geral, a direção é macia e confortável. Além disso, o carro se mostra até firme e não desliza ou inclina tanto nas curvas, o que passa segurança. O fato de ter a carroceria um pouco mais elevada não atrapalha tanto nesse sentido, e ainda faz com que a visão de quem o conduz seja mais privilegiada. 

Leia também: Carro automático: vantagens e desvantagens do conversor de torque

Para rodar na cidade, o Stepway é uma boa opção. Oferece o que é necessário para enfrentar o trânsito cotidiano com comodidade. E se precisar extrair um pouco mais de performance, a resposta pode não ser instantânea a princípio, mas ela vem. E aí, meu amigo, é só ligar o rádio para que a melodia se sobressaia aos gritos do motor proporcionados pelo câmbio CVT. 

Motorização: motor 1.6 aspirado (flex) de 115/118 cv (etanol/gasolina), a 5.500 rpm, e 16,3 kgfm (com qualquer combustível), a 4.000 rpm / 0 a 100 km/h em 11,2 segundos / velocidade máxima: 11,2 segundos / câmbio CVT de seis velocidades / tração dianteira

Dados técnicos: eletro-hidráulica / suspensão dianteira independente McPherson e mola helicoidal, e suspensão traseira com eixo de torção e mola helicoidal / freios dianteiros a disco e traseiros a tambor / pneus 205/55 R 16 / Diâmetro mínimo de giros: 10,6 m / vão livre do 185 mm

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Consumo: na média

Abastecido com etanol, o Renault Stepway Iconic 1.6 faz 7,7 km/litro na cidade e 8,3 km/litro na estrada, segundo o Inmetro. Já com gasolina, faz 11,5 km/litro na cidade e 12 km/litro na estrada. 

Lembra que o Fiat Argo levou a melhor lá em cima quando falamos de performance? Agora foi o momento de o Stepway ficar em vantagem, e a caixa CVT tem o seu papel nisso, pois costuma ser mais eficiente do que uma automática com conversor de torque. 

Tanto que o Argo Trekking 1.8 AT fica para atrás em consumo na cidade, fazendo 6,6 km/l com etanol e 9,4 km/l com gasolina. Já o HB20X 1.6 AT aproveita o motor mais moderno, o porte menor e o peso mais comedido para seguir em vantagem também neste quesito. 

O hatch aventureiro da Hyundai com etanol faz 7,7 km/litro na cidade e 9,2 km/litro na estrada, com gasolina faz 10,9 km/litro na cidade e 12,9 km/litro na estrada.


Espaço e conforto são diferenciais do Renault Stepway

O próprio Renault Sandero se destaca diante da concorrência graças às dimensões generosas para a categoria. Com o Stepway não é diferente: o hatch aventureiro que gostaria de ser SUV tem 4.070 mm de comprimento, 2.590 mm de entre-eixos, 1.730 mm de largura, 1.630 mm de altura e 320 litros de porta-malas. 

Curiosamente, ele é mais avantajado que o Jeep Renegade no entre-eixos (2.570 mm) e se iguala a ele no volume do bagageiro. Em relação ao VW Nivus, a vantagem fica por conta do entre-eixos (o VW possui 2.566 mm) e da altura (1.493 mm para o Nivus). 

Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?

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Diante dos hatches compactos, o espaço do Stepway é um dos melhores da categoria, e o porta-malas é o maior do segmento. Para quem não quer se render a um sedan ou SUV, mas precisa de espaço para a família, o Stepway atende este requisito com louvor.

A bordo do aventureiro, os bancos são algo a se elogiar, pelo conforto que proporcionam. Os dianteiros oferecem um bom encaixe aos ocupantes e quem vai atrás, mesmo que seja mais alto ou gordinho, desfruta de bom espaço e de assentos e encosto macios. 


Design: queria ser SUV, mas é hatch

O Renault Stepway é um carro fotogênico, mas faltava comprovar ao vivo se seguiria visualmente agradável. Ao vivo, continua bonito, mas parte daquela sensação de carro maior, quase um SUV, parece derreter, apesar da suspensão mais elevada e dos penduricalhos que tentam aumentar a robustez da carroceria. 

É, definitivamente, um hatch com roupa de aventureiro para atrair especialmente o público feminino. Depois do comercial da Marina Ruy Barbosa a bordo do Stepway, não há como negar suas intenções. 

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Falando do interior, o excesso de plástico na cabine, juntamente com a manopla do câmbio CVT, que parece a de uma caixa manual, remete a carros de entrada. Porém, o Stepway não deixa de ter um acabamento harmonioso. 

O volante, presente também no novo Duster, tem desenho elegante. E os bancos, com acabamento em couro sintético, ajudam a requintar o interior do modelo. Não há nada de errado com o design interno. O problema é que por R$ 90 mil, o nível de exigência sobe.


Principais itens de série do Renault Stepway Iconic 1.6 CVT

● Alerta do cinto de segurança do motorista 

● Vidro Traseiro com função One Touch 

● Travas Elétricas 

● Ar - condicionado automático 

● Abertura elétrica do porta-malas 

● Sensor de estacionamento + Câmera de ré 

● MEDIA Evolution Apple CarPlay® / Android Auto® 

● Direção eletro-hidráulica 

● Vidros dianteiros com função One Touch 

● Comando de satélite no volante 

● Quatro airbags 

● Alarme perimétrico 

● Sistema CAR - travamento automático a 6km/h 

● ESP + HSA (controle eletrônico de estabilidade) 

● Cinto de segurança dianteiro e traseiro de três pontos 

● Freios antitravamento (ABS) 

● Retrovisores elétricos com repetidores 

● Indicador de troca de marcha 

● Sensor de chuva e luzes automáticos 

● Computador de bordo 

● Automático CVT X-TRONIC 

● Desembaçador do vidro traseiro 

● Direção eletro-hidráulica 

● Limpador do vidro traseiro 

● Maçanetas na cor da carroceria 

● Luzes diurnas em LED 

● Farol de neblina 

● Retrovisor na cor preto brilhante 

● Barras longitudinais 

● Lanternas traseiras com assinatura em LED

“Nada demais”, é o termo que melhor define a lista de equipamentos do Renault Stepway. Nada de alerta de frenagem de emergência, assistente de mudança de faixa, carregador por indução, alerta de ponto cego ou start-stop. Será que teremos esses itens na próxima geração? Aliás, será que teremos uma próxima geração? Ficam os questionamentos.

A crítica pode parecer dura, mas quando já temos esses itens num Chevrolet Onix Premier, cuja versão topo de linha custa R$ 2.000 a menos que o modelo desta avaliação, e ainda possui a mesma potência, só que entregue por um motor 1.0 turbo, mais eficiente, ficamos mais “chatos” nos critérios. 

O Fiat Argo Trekking 1.8 AT está na mesma em termos de tecnologia, mas o Hyundai HB20X 1.6 AT Evolution já contempla itens como frenagem autônoma de emergência e alerta de mudança de faixa por um preço bem menor. 

Leia também: 10 Itens que o Chevrolet Onix tem e o Kia Rio não, mesmo custando mais caro


Vale a pena comprar o Renault Stepway Iconic 1.6 CVT?

Emancipada a modelo com nome próprio, e ainda vendida como “SUV”, antiga versão aventureira do Sandero já custa R$ 90.000, mas será que justifica a pedida?

Primeiro é preciso ter em mente o que você quer: um hatch, um hatch aventureiro ou um SUV? Se ficar com a primeira opção, é possível encontrar opções mais baratas e mais completas, como a nova geração do Chevrolet Onix e do Hyundai HB20, que ainda estão fresquinhas e com itens antes vistos só em modelos premium. 

Para quem busca um hatch aventureiro, com maior altura do solo, as opções estão escassas e aí o Stepay entra no jogo. Vale a pena, porém, gastar algum tempo com a ficha técnica do Hyundai HB20X Evolution, que custa R$ 82.290 e entrega ótimo pacote. Também tem o Argo Trekking 1.8 AT, que é bonitão e esperto em desempenho, mas bebe muito e tem uma lista de itens de série parecida com a do Stepway. 

Para os que desejam um SUV, apesar do bom nível de espaço interno oferecido pelo Stepway, não tente se iludir com o comercial da Renault. Eles também chamam o Kwid de SUV dos compactos.

O melhor é dar uma olhada na lista dos “Últimos SUVs abaixo dos R$ 100 mil”, com opções realmente interessantes, como Jeep Renegade e Hyundai Creta. Se você é simpatizante da Renault, algumas versões do novo Duster também estão na lista. Ou talvez seja melhor esperar pelo Captur 1.3 turbo, que chega em breve.

Não teve jeito para o Renault Stepway: os rivais não deram mole e ele sucumbiu de todos os lados. Como você já deve ter entendido nesta avaliação, o maior entrave do Stepway não é a falta de destreza do motor ou a lista de itens de série enxuta, mas o quanto a Renault cobra pelo que o modelo entrega. 


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