Por que mercado brasileiro não é de elétricos, mas de híbridos
O mercado de carros elétricos no Brasil vem em constante crescimento, tanto que teve sua maior alta em 2024, quando nada menos do que 61.615 unidades de modelos foram emplacadas. Para efeito de comparação, no ano anterior os veículos movidos a bateria representavam 13.310 unidades, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). Mas isso pode ser passageiro.
Antes de mais nada, temos que recapitular que boa parte desse emplacamento de elétricos em 2024 se deu por conta de dois modelos da BYD: primeiro o Dolphin, que estreou no mercado nacional em 2023; e depois o Dolphin Mini, que foi lançado no começo do ano passado com preço de hatch compacto a combustão. Para se ter ideia, ambos totalizam 37.147 unidades, o que na prática representa quase 61% de todos os elétricos comercializados ano passado.
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Mobiauto conferiu de perto o Fórum Direções Quatro Rodas: conexão Brasil-China, na última terça-feira (25), oportunidade em que aproveitamos para saber mais detalhes sobre o mercado de elétricos no Brasil. Segundo Milad Kalume Neto, consultor automotivo independente, o mercado de eletrificados no Brasil já conta com um veículo bem definido.
“O mercado brasileiro não é o mercado de elétricos, é o mercado de híbridos e híbridos plug-in, então isso tem que ficar muito bem claro, com uma grande ascendência dos híbridos leves, aqueles até de 12V, que a Stellantis lançou dois produtos ano passado nesse sentido; e os novos lançamentos vão correr também nesse tipo de produto”, explica Milad.
Em janeiro de 2025 as vendas de carros elétricos enfrentaram uma pequena retração quando comparamos com o mesmo período do ano passado, passando de 4.358 para 3.700 unidades emplacadas, uma queda de 15,1%. Mas em fevereiro houve uma recuperação de 23,4% (de 3.639 para 4.492 carros BEV), segundo dados da ABVE. Vale lembrar que em fevereiro deste ano não houve carnaval, ao contrário de fevereiro de 2024, período em que um mês já curto contou ainda com menos dias úteis.
Porém, quando pegamos o mercado geral de vendas de automóveis e comerciais leves, com o total de 2.484.740 veículos emplacados em 2024 de acordo com a Fenabrave, os veículos movidos exclusivamente a bateria representaram somente 2,5% do total de emplacamentos no Brasil. Segundo Milad, em 2025 este mercado deve crescer mais um pouco e representar no máximo em 4% as vendas totais no país.
“Sobre o aspecto do elétrico, o elétrico vai enfrentar uma queda ano a ano com relação ao mercado. Eu acho que tem uma tendência aí de até esses 4%, não mais do que isso, no médio e longo prazo. Falta infraestrutura, tem a questão da autonomia, isso tudo tende a ser revertido, mas de qualquer forma o mercado, eu acho que isso, gosto de sintetizar, o mercado brasileiro é sim dos híbridos e dos híbridos plug-in. Acho que esse vai ser o mercado que vai sair fortalecido dentro dos mercados dos eletrificados”, conclui o consultor automotivo.
Quando observados o mercado de eletrificados como um todo, podemos entender a importância dos veículos híbridos plenos (HEV), híbridos plug-in (PHEV) e dos híbridos-leves (MHEV) – esse último desde janeiro de 2025 não mais considerados veículos eletrificados pela ABVE. A entidade considera eletrificado modelos com tração elétrica autônoma e motorização acima de 60V.
Mas voltando ao volume de mercados, todos esses três diferentes híbridos (MHEV, HEV e PHEV) foram responsáveis por 115.743 veículos emplacados. Dessa forma, no bolo do mercado geral de veículos no Brasil, os híbridos apareceram com 4,1% das vendas – superior aos 2,5% conquistado pelos elétricos ao longo de 2024.
Modelos híbridos plenos flex como Toyota Corolla Cross e Corolla foram destaques nas vendas do ano passado, tanto que figuraram entre os 20 carros mais vendidos no Brasil. A gama BYD Song (Song Pro, Song Plus e Song Plus Premium) também acumulou um montante considerável nos emplacamentos, enquanto o GWM Haval H6 foi o híbrido plug-in mais vendido do país.
Com a estreia de híbridos-leves de volume como Pulse e Fastback Hybrid em 2024, além de outros modelos previstos para serem lançados ao longo deste ano, vide os novos Toyota Yaris Cross e Jeep Avenger, os híbridos deverão ganhar cada vez mais espaço nas ruas brasileiras. A questão será somente de autonomia e tempo.
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Repórter
Entusiasta de carros desde criança, achou no jornalismo uma forma de combinar paixão e profissão. É jornalista formado pela faculdade FIAM-FAAM e atua no setor automotivo desde 2014, com passagens por Auto+, Quatro Rodas e Motor1 Brasil.