Peugeot Landtrek: o que a avó 504 Pickup tem a ensinar para a neta

Marca francesa se arriscará novamente no mercado de picapes médias, mas pode encontrar muitas pedras no meio do caminho
LF
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30.11.2020 às 08:03
Marca francesa se arriscará novamente no mercado de picapes médias, mas pode encontrar muitas pedras no meio do caminho

Diferentemente da Renault, que refugou de lançar a Alaskan no mercado brasileiro (apesar de produzi-la na Argentina), e da Mercedes-Benz, que simplesmente abortou o projeto da Classe X – curiosamente, irmã de plataforma da Alaskan, ambas derivadas da Nissan Frontier -, a Peugeot parece decidida a ingressar no segmento brasileiro de picapes médias.

Na última semana, a marca francesa anunciou no México o plano de lançamento da Landtrek na América Latina. Na primeira fase, já em 2021, ela ganhará as ruas mexicanas e também de outros países da região, como Chile, Paraguai, Uruguai e América Central.

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O Brasil receberá o modelo em uma segunda etapa, junto de Argentina e Colômbia. Isso acontecerá em 2022. Até lá, três elementos da Landtrek já chamaram a atenção: o visual, bem característico da atual identidade da marca na dianteira; os 1.200 kg anunciados de capacidade de carga; a motorização com opções turbinadas a gasolina ou a diesel, ambas abaixo de 40 kgfm de torque.

Enquanto o propulsor 2.4 movido a gasolina rende 240 cv e 32,6 kgfm, o 1.9 turbodiesel gera meros 150 cv e 35,7 kgfm. É pouco para o Brasil, onde as principais concorrentes do mercado já estão superando a casa de 200 cv e 50 kgfm. Na verdade, é menos até do que uma Fiat Toro na versão 2.0 MultiJet 4x4.

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Fica a dúvida se, com a Landtrek, a fabricante seguirá mais uma vez a cartilha conservadora, assim como fez ao ignorar o propulsor PureTech turbo e equipar o novo 208 apenas com o velho 1.6 EC5, ou se terá na manga uma motorização mais forte e condizente com nossa realidade de mercado.

Seja como for, a Landtrek já é capaz de nos remeter à velha 504 Pickup, um utilitário derivado do sedan 504 (muito popular na Argentina, embora nunca tenha vindo ao Brasil). A picape “avó” pode bem dar algumas boas lições à neta sobre o que fazer e o que não fazer para agradar o consumidor nacional.

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A 504 Pickup ingressou no país em 1994, no esteio da abertura do mercado promovida pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello no princípio da década, assim como da criação, três anos antes, do bloco Mercosul, que passou a facilitar importações e exportações entre os países vizinhos.

A questão é que o 504 sedan é um projeto de 1968, sendo que sua derivação com caçamba surgiu nove anos mais tarde, em 77. Ou seja: estamos falando de um veículo que aportou nos anos 90 com estilo de quase 30 anos antes. Teria como dar certo? 

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Nesse ponto, embora ainda demore um bocado a chegar, a Landtrek certamente passará do jeitão de defasada. Até porque sua cabine tem tudo para ser referência no segmento, com volante moderno, central multimídia de 10 polegadas e painel estiloso.

Outro trunfo que poderá ser compartilhado entre as duas é a capacidade de carga. A 504 Pickup prometia aguentar nada menos que 1,3 tonelada, número de respeito e que chegou a ser bem explorado pela marca ao divulgar o produto. E, de acordo com proprietários, o modelo é de fato valente e “pau para toda obra”.

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Curiosidade aleatória: 504 Pickup chegou a ser vendida com erro de concordância no anúncio de que tinha 1,3 tonelada

O que falava muito contra a 504 era o motor 2.3 a diesel de apenas 70 cv e 13,5 kgfm, que lhe conferia um 0 a 100 km/h de incríveis (pelo lado negativo) 24,2 segundos. E olha que, antes de vir ao Brasil, ela chegou a experimentar propulsores ainda mais fracos. Pelo menos era um motor econômico, segundo proprietário que já tiveram uma.

Outro vacilo da 504 Pickup era ser oferecida apenas em configuração cabine simples e com tração traseira, sem uma vertente 4x4. Opções com cabine dupla eram criadas apenas de maneira independente por concessionárias, algo comum entre veículos utilitários (e até alguns carros de passeio) na época.

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Também há relatos de dificuldades para encontrar peças de reposição ou para encontrar um mecânico que entenda as particularidades mecânicas da veterana (como, por exemplo, sua bomba injetora rotativa) e saibam mexer nela com segurança e propriedade. A ver que tipo de fama a Landtrek ganhará nesse sentido.

Também serve de sinal de alerta para a neta o fato de que, além de vir equipada com um motor bem menos forte que os dos modelos mais renomados do segmento, até o momento não existe o casamento do propulsor a diesel com câmbio automático. 

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Se a Peugeot quiser que sua nova picape média faça sucesso, especialmente no varejo, precisará ter versões cabine dupla a diesel automáticas e com mais fôlego. Porque espaço, porte, refinamento interno, capacidades, bancos modulares e boas tecnologias ela terá. 

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Derivada da picape chinesa Kaicene F70, a Landtrek mede 5.390 mm de comprimento, 1.963 mm de largura, 3.180 mm de entre-eixos e até 1.835 mm de altura, sendo maior do que uma Toyota Hilux por alguns centímetros em todas as dimensões. Nesse sentido, ela até destoa da velha 504 Pickup, um modelo de dimensões bem mais comedidas.

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Possui, ainda, 29 graus de ângulo de ataque, 25 de transposição de rampa e 27 de saída, além de 600 mm de nível máximo de imersão, 42 graus de inclinação lateral e 3 toneladas de capacidade de reboque.

Talvez de nada adiante ter todo esse currículo se a empresa francesa não acertar a mão no “coração” da Landtrek. Caso erre, há boas chances de que o destino dela seja o mesmo da velha 504, uma picape valente, simpática e folclórica, mas que deixou o país em 1999, apenas cinco anos após o lançamento, sem deixar muita gente com saudades.

Colaborou Rafael Passaro.

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