Motor 1.0 saiu de patinho feio para queridinho das marcas e clientes

Motorização surgiu no Fiat Mille em 1990, mas agora equipada SUVs como VW T-Cross e Hyundai Creta
Diego Dias
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10.10.2024 às 21:01 • Atualizado em 27.11.2024
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Motorização surgiu no Fiat Mille em 1990, mas agora equipada SUVs como VW T-Cross e Hyundai Creta

Quem vê agora os carros 1.0 turbo à venda no Brasil, mal lembra que o tal “motorzinho de dentista” que muitos apreciam nos dias de hoje era de certa forma o patinho feio do mercado há pouco mais de 30 anos. Isso porque a primeira fase dos carros populares foi iniciada com o Fiat Uno Mille em 1990, quando foi lançado no país o primeiro carro com motor 1.0.

A Fiat foi a pioneira no segmento de carros populares com motor 1.0, quando o famoso Uno Mille foi lançado e perdurou com a mesma receita até 2013, quando veio a obrigatoriedade de freios ABS e airbags para carros novos fabricados no Brasil. Com isso, o querido Mille perdurou por nada menos que 23 anos. Depois dele, em 1992 veio o Chevrolet Chevette Junior, VW Gol 1000 em 1993, bem como o Ford Escort Hobby no mesmo ano.

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Para se ter ideia da realidade dos anos 1990, o Fiat Uno Mille vinha equipado com o motor 1.0 aspirado da família Fiasa, que rendia 48,5 cv de potência e 7,4 kgfm de torque e trabalhava com um câmbio manual (de 4 ou 5 marchas). A aceleração de 0 a 100 km/h é bem distante do desempenho que temos atualmente com os 1.0 turbo que temos hoje. O Uno Mille mesmo para referência cumpria a prova de 0 a 100 km/h na casa dos 19,7 segundos.

A chegada da injeção eletrônica

Todo esse movimento puxado pelo Uno Mille fez a indústria se mexer com o lançamento de outros concorrentes que citamos agora há pouco (Gol 1000, Escort Hobby), mas foi a chegada de um outro hatch que fez o segmento de carros 1.0 dar o próximo passo: o Chevrolet Corsa 1.0. Lançado em 1994, suas formas redondas impactaram tanto que fez os rivais ficarem com estilo da década passada.

Além disso, o saudoso “Corsinha” foi o primeiro carro 1.0 dotado de injeção eletrônica, que gerenciava o motor 1.0 aspirado de 50 cv e 7,8 kgfm de torque. Era uma injeção simples do tipo monoponto (utilizando um bico apenas), mas era um salto de confiabilidade frente ao usual carburador da época, que demandava mais cuidados. Depois, vieram os Fiat Palio e Uno Mille EP em 1996, bem como o VW Gol “bola”.

O primeiro turbo

Ainda em tempos em que ter o emblema 1.6, 1.8 ou 2.0 era sinônimo de status no Brasil, algo que sempre se referia a capacidade cúbica do motor, a Volkswagen lançava em 2000 o Gol 1.0 Turbo 16V. Aproveitando a reestilização do famoso “Gol G3”, a fabricante trazia o inédito motor quatro cilindros 1.0 turbo de 16 válvulas, conjunto que rendia 112 cv de potência e 15,8 kgfm de torque. Para se ter ideia, era força equivalente ao famoso motor 2.0 AP-2000.

Mesmo sem saber, a marca iniciava ali o caminho rumo ao que chamamos hoje de “downsizing”. Mas como é comum em algumas revoluções, chegar com elas num mercado conservador como o brasileiro (e talvez fora de hora) lhe rendeu uma certa má fama, principalmente devido a manutenções específicas. Um dos percalços era na polia do comando de válvulas com variador de fase.

Além disso, com o passar do tempo foi para o mercado de usados e caindo nas mãos de quem não estava habituado a um carro turbo, sem contar que no país havia a cultura de troca de óleo no posto (com qualquer óleo), como relembramos sobre atal injustiça com o tal motor 1.0 16V turbo.

Downsizing: dos compactos aos SUVs

A era do downsizing que estamos hoje e que consiste na redução do tamanho físico dos motores é uma realidade há bons anos no mercado europeu, mas no Brasil teve sua “chavinha” virada em 2015, quando foi lançado no mercado o VW Up! TSI. O hatch compacto trazia debaixo do capô o propulsor três cilindros 1.0 turbo flex, que rendia até 105 cv e 16,8 kgfm de torque máximo.

Embora sua proposta fosse de consumo extraordinário há nove anos, quando a marca anunciava capacidade do Up! TSI fazer até 16,1 km/litro na estrada, o modelo acabou ganhando fama mesmo pelo alto desempenho. A receita de motor pequeno dotado de turbocompressor e injeção direta surpreendeu na época, na qual o carrinho fazia a prova de 0 a 100 km/h em apenas 9,1 segundos. Não é raro também ver esses pequenos motores preparados em oficinas especializadas por aí e extraindo mais de 180 cv...

A questão é que essa receita do UP! TSI acabou virando padrão na indústria. Basta reparar hoje como temos diversos modelos com motores 1.0 turbo: VW Polo 170 TSI, Hyundai HB20, Chevrolet Onix e Fiat Pulse. Temos ainda a presença dessa fórmula em sedans como VW Virtus, HB20S e Onix Plus, sem contar que equipa ainda SUVs mais pesados como Hyundai Creta, Fiat Fastback e VW T-Cross.

Com todo esse histórico, vale dizer que realmente o motor 1.0 passou da fama de ser apenas aquela motorização de carro barato e que sofre em ladeiras para ser o queridinho das montadoras e consumidores. Os emblemas 1.6, 1.8 e 2.0 caíram no ostracismo e assim foram substituídos por 200TSI, Turbo 200, entre outros que remetem diretamente ao que empolga os motoristas hoje em dia: o torque.

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