Fábrica que Toyota fechará após 60 anos fez Bandeirante e pintou até Fusca

Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades
Renan Bandeira
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06.04.2022 às 15:47
Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades

A Toyota anunciou na última terça-feira (5) que fechará sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP). A fabricante japonesa vai transferir todas as suas operações para as instalações de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, cidades situadas no interior do Estado de São Paulo.

De acordo com a marca, a mudança será gradual e acontecerá entre dezembro deste ano e novembro de 2023. Embora a decisão tenha sido divulgada agora, as movimentações para o fechamento da unidade começaram ainda no fim de 2020. 

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Na época, a Toyota anunciou que a sede administrativa seria transferida para Sorocaba (SP). Com isso, o complexo se tornou o mais importante da montadora no país, visto que fabrica os modelos Corolla Cross, Yaris (hatch e sedan) e Etios (este último, só para exportação).

Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades

A movimentação já sinalizava que as operações no ABC paulista estavam próximas do fim. Atualmente, o complexo produz apenas peças de reposição para alimentar os mercados brasileiro, argentino e americano. 

A fabricante afirma que oferecerá aos cerca de 550 funcionários da unidade a oportunidade de serem realocados a uma das outras três fábricas. Os que não puderem ou quiserem entrarão em um plano de demissões.

Primeira fábrica da Toyota no Brasil e fora do Japão

Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades

A fábrica de São Bernardo do Campo (SP) foi a primeira da Toyota no Brasil, mas não só isso. Também foi a primeira em qualquer lugar do mundo fora o Japão. Além disso, foi a responsável pela fabricação de um dos modelos mais icônicos da marca em nosso mercado, e não estamos falando do Corolla.

Em 1962, quando a empresa iniciou as operações industriais no Brasil, o sedan sequer existia - sua primeira geração só surgiria quatro anos mais tarde. O produto em questão era o Bandeirante (ou Land Cruiser, como foi chamado em outros mercados).

Com formas quadradas, o saudoso jipinho foi produzido no Brasil por 40 anos, saindo de linha em 2001. Ele tinha fama de pau para toda obra, por causa de sua robustez e capacidade off-road, sendo um dos veículos que mais fortaleceram a fama da marca no país.

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Foi durante o seu período de produção que aconteceu uma das histórias mais inusitadas da indústria automotiva nacional. Embora a produção do Bandeirante tenha começado em 1962, a marca só começou a construir a cabine do jipe em 1968 - até então, a carroceria era fornecida pela Brasinca. 

O ponto alto da fábrica, que passava a ter uma linha mais completa de produção, ajudou na verdade uma outra fabricante: a Volkswagen. Em 1970, as instalações da marca alemã, também em São Bernardo do Campo, margeando a Rodovia Anchieta, pegaram fogo.

Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades

O incêndio durou 12 horas, segundo a Folha de S. Paulo na época, e teve grandes proporções. Foram várias alas afetadas, sendo uma delas a Ala 13, um dos espaços responsáveis pela pintura dos veículos fabricados pela marca alemã na época.

Com a destruição do local, a VW ficou temporariamente sem ter como finalizar a pintura de seus veículos. A solução foi procurar uma fábrica vizinha capaz de realizar esse trabalho. As candidatas eram Karmann-Ghia, Brasinca ou… Toyota.

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Por mais inusitado que seja, houve um acordo entre as duas companhias que garantiu que a marca alemã levasse seus Fusca para a Toyota aplicar um dos processos de pintura na carroceria. 

Dessa forma, durante meses, o complexo fabril em São Bernardo do Campo teve o Besouro e o Bandeirante passando pela mesma linha de produção. 

A movimentação, inclusive, pode ter sido ponto crucial para manter a montadora no Brasil, já que o Bandeirante não era um sucesso absoluto de vendas por aqui, como os amigos da Quatro Rodas já contaram

Com os Fusca, a unidade de São Bernardo do Campo deve ter atingido seu maior volume produtivo da história. Entre 1962 e 2001, pouco mais de 100.000 unidades do Toyota Bandeirante foram fabricadas em São Bernardo do Campo (SP), uma média de cerca de 2.500 unidades por ano.

Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades

Infelizmente, com a saída do Bandeirante do nosso mercado, a fábrica também deu seu último suspiro em relação à produção de veículos. Depois do jipe, as instalações no ABC Paulista foram responsáveis apenas por confeccionar peças de reposição e abrigar a sede administrativa, sem ter mais nenhum outro modelo produzido.

O Corolla, àquela altura, já era fabricado nacionalmente, porém em Indaiatuba. Em 2012, outro complexo foi inaugurado, em Sorocaba, dedicado à família Etios. Por fim, em 2016, veio a fábrica de motores em Porto Feliz.

Já a histórica fábrica de São Bernardo do Campo terá a trajetória encerrada ao longo deste ano e do próximo, provavelmente perdendo suas características, como aconteceu com a Ford no ano passado.

Imagens: Divulgação Toyota e Folha Imagem.

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