Ele cruzou 5.000 km no Brasil de carro elétrico instalando carregadores por conta

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho
Renan Bandeira
Por
12.04.2023 às 12:28
Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

Os carros elétricos estão ganhando mais espaço no Brasil. Tanto que, no primeiro trimestre deste ano, o segmento cresceu 52%, chegando a quase 2.000 unidades emplacadas, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). Você pode conferir o ranking completo aqui. Esse é o melhor desempenho da série histórica. 

Com mais carros desse tipo na rua, é necessário ter uma maior infraestrutura para recarga. Não só isso como dar mais acesso à informação para estabelecimentos entenderem o que é um veículo elétrico e como um carregador pode ajudar um comércio. Além, é claro, dos custos de uma operação desse tipo. 

Foi com essa missão que Nivton Rocha, empresário e diretor da Abravei (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores) na Região Nordeste, decidiu fazer uma viagem de cerca de 5.000 km cruzando o Brasil em dois carros elétricos ao lado de um outro amigo motorista. Eles foram de Fortaleza (CE) até Gramado (RS) em um Tesla Model Y e um BYD Tan, onde Rocha encontraria a esposa. 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

O empresário contou à Mobiauto que já havia viajado com carros movidos a baterias antes, porém usando apenas corredores verde já dotados de infraestrutura de recarga, o que facilita alcançar o ponto final do trajeto.  

Você pode se interessar por:

Depois, experimentou uma viagem menor, de Fortaleza (CE) a Juazeiro (BA), a fim de entender se conseguiria instalar wallboxes próprios, por exemplo, em hotéis desprovidos de pontos de recarga. Como tudo deu certo, resolveu partir sentido Sul do país. 

Para aumentar a dificuldade da aventura e comparar cenários com veículos de diferentes marcas, Nivton decidiu fazer o percurso com seu Tesla Model Y, enquanto seu amigo o acompanhou com um BYD Tan, um SUV de sete lugares que a Mobiauto já testou. 

“Queria entender se seria muito mais difícil viajar com dois carros elétricos. Com um só, eu já sabia que não era complicado. Minha ideia era testar a possível situação de encontrar alguém já carregando em um hotel”, explicou o empresário. E, assim, a dificuldade do projeto dobrou. 

Pontos de recarga instalados 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

A experiência prévia de Rocha foi crucial para o plano estratégico de criar por conta própria um corredor de recarga para quem quer viajar de carro elétrico do Nordeste ao Sul do Brasil. “Foi nos percursos menores que percebi que pontos de parada, como hotéis, não exigem infraestrutura muito cara para pontos de recarga, e isso atrai público para o estabelecimento”, esclareceu. 

Rocha partiu de Fortaleza com o objetivo de difundir o conceito da eletrificação e vender a ideia de que um ponto de recarga, seja uma tomada apropriada ou um wallbox, pode, sim, ajudar estabelecimentos comerciais. 

Foi aí que começou a saga. “Batemos de porta em porta para falar que a eletromobilidade existe, que muitos já têm carros elétricos, que querem viajar e que, para isso acontecer, precisam da segurança de encontrar carregadores no percurso. E questionei o porquê de eles não terem um.” 

De Fortaleza para Gramado, não existiam pontos de recarga suficientes para conclusão do trajeto. Nivton, então, criou a própria rede de carregamento, instalando oito pontos entre Salvador (BA) e Vitória (ES), o trecho mais crítico do trajeto – conhecido como “deserto de carregamento”. 

Leia também: O incrível projeto brasileiro que fez um Peugeot 3008 a diesel rodar com etanol 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

“Agora qualquer um pode realizar a mesma viagem que eu sem problemas”, contou, com orgulho. No total, foram dez pontos de recarga instalados na aventura, sendo cinco deles tomadas próprias para carros elétricos, doadas pela Abravei, e os outros cinco, wallbox com 5 ou 7 kWh de potência cedidos pela BYD Carmais. De acordo com o diretor regional da associação, hoje, a instalação de um desses pontos custa entre R$ 500 e R$ 800. 

Autonomia e recargas 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

Nivton também queria testar se os carros entregavam a autonomia que prometiam. Para isso, viajou sempre a carga útil máxima dos dois veículos, cerca de 500 kg cada. No BYD, o alcance variou entre 400 km e 700 km. No Tesla, entre 480 e 900 km. 

Isso porque, assim como os carros a combustão, carros elétricos também têm variação de consumo, ligadas a circunstâncias. Em subidas, gasta-se mais energia, seguido pelas estradas planas. Nas descidas, além de não precisar acelerar, é possível usar a frenagem regenerativa dos veículos a fim de recuperar energia. 

Só que o processo de recarga não foi sempre fácil. “No [Estado do] Rio de Janeiro, os pontos surpreenderam negativamente. Entregavam bem menos corrente do que prometiam, e prejudicaram o planejamento inicial”, conta Rocha. 

Leia também:  Bingo: o elétrico de R$ 44 mil maior que Kwid e 7 vezes mais econômico | Mobiauto

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

Em Silva Jardim (RJ), os amigos tiveram a pior experiência: não teve como carregar os dois carros de uma só vez porque o equipamento não suportava isso, e chegou a oferecer a instalação de um wallbox sem custos para o estabelecimento. No entanto, os proprietários recusaram e a parada, que duraria 4 horas, virou 7 horas. 

De acordo com o viajante, a receita para curar um possível tédio das longas paradas para carregamento é virar a chavinha do pensamento e da estratégia na viagem. “Você não pode pensar que vai ter que parar para carregar o carro, mas sim aproveitar os momentos de descanso e até de conhecer locais para deixar o veículo plugado à tomada.” 

Rocha até cita isso como um dos pontos positivos no trajeto. “Os curiosos ajudaram bastante na estrada. Em paradas programadas para ficarmos 15 minutos, acabamos ficando 30 minutos, 1 hora, atendendo pessoas e explicando sobre os veículos. Com isso, os carros carregavam mais e tínhamos mais autonomia.” 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

A viagem durou 13 dias, mas Rocha esclarece que o percurso não foi demorado exclusivamente por causa das recargas, já que os veículos ficaram ligados a tomada por 80 horas durante a viagem, mas também porque haviam se planejado para conhecer mais os pontos de parada e tiveram o processo de instalação de dez pontos de carga. 

Se refizesse o trajeto sem paradas para instalar os carregadores, Nivton teria levado cinco dias, sendo 98 horas de viagem e outras 48 horas de carga – que seriam aproveitadas para descanso, claro, e para visitar as cidades. 

Anuncie seu carro na Mobiauto  

O futuro já começou 

Empresário viajou do Ceará ao Rio Grande do Sul junto com um amigo em um Tesla Model Y e um BYD Tan, e teve até que instalar carregador por conta própria no caminho

Ainda que a mobilidade elétrica esteja engatinhando no Brasil, já há uma grande mudança nesse cenário por aqui, como vemos na abertura deste artigo. Claro que não temos a mesma rede de abastecimento que encontramos para carros a combustão, mas para o diretor regional da Abravei, uma viagem bem planejada pode ser feita, sim, com veículos a bateria. 

Ainda há muitas coisas para evoluir, mas para Nivton Rocha a parte mais interessante da experiência foi levar conhecimento sobre o segmento e perceber também que há muito interesse sobre o assunto por parte da população. “Muita coisa já começou a acontecer. Nada se muda da noite para o dia, mas o avanço já começou”, concluiu.  


Comentários