Como a troca do líquido de arrefecimento salvou o trocador de calor dos Jeep

Depois do novo composto aplicado ao motor 1.8 E.torQ, casos de problemas no trocador de calor diminuíram
Renan Rodrigues
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06.04.2023 às 17:40 • Atualizado em 25.07.2023
Depois do novo composto aplicado ao motor 1.8 E.torQ, casos de problemas no trocador de calor diminuíram

Nos últimos anos, uma série de reclamações, processos e comentários nas redes socais denunciavam problemas de Jeep e Fiat com os trocadores de calor do câmbio Aisin automático de seis marchas ligado ao motor 1.8 E.torQ flex ou 2.0 Tigershark flex.

Curiosamente, a maioria dos problemas está registrada em unidades anteriores à linha 2019, seja de Renegade, Compass, Toro, Argo ou Cronos. E isso está diretamente relacionado com uma mudança em um componente “simples” da manutenção.

Antes de explicar como a Stellantis resolveu esse problema, é importante contextualizar o ocorrido.

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O trocador de calor é a peça responsável por resfriar a transmissão automática enquanto ela trabalha. No caso da caixa Aisin AT6 usada pela Stellantis, que atende pelo código TF72-SC, o próprio líquido de arrefecimento do motor é utilizado nesta função.

No entanto, segundo duas fontes ouvidas pela Mobiauto, o líquido de arrefecimento, a certas condições, passava por uma eletrólise, processo químico não espontâneo que gera energia. E aí morava o problema. 

Esse processo gera perda de eficiência do líquido de arrefecimento, já que altera suas propriedades. Mesmo que o motorista esteja atento e pare antes de um problema mais grave, o diagnóstico é dificultado pelas características da peça.

Como o trocador de calor é construído em alumínio, as descargas elétricas da eletrólise geram poros, que se fecham quando a peça resfria. Dessa forma, muitos mecânicos não conseguem identificar o problema, justamente porque só conseguem inspecionar o componente com ele a temperaturas mais baixas.

Geralmente, a detecção do problema só ocorre quando é tarde demais e o óleo da transmissão já foi contaminado. Nesse momento, há entrada de água com etileno glicol, que é altamente danoso ao fluido de transmissão, o que condena a caixa, já que os componentes eletrônicos são sensíveis.

Troca do líquido 

Em 2018, a Stellantis descobriu o fenômeno e resolveu fazer algumas alterações. A primeira delas foi na composição do líquido de arrefecimento. O líquido passou de ASTM D3306, ASTM D4955, NBR 15297 e 9.55523-2 para FCA MS 90032 Mopar Antifreeze Coolant. A concentração também mudou de 30% de aditivo e 70% de água para 50% de cada.

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Além disso, passou a recomendar a troca do líquido a cada 36.000 km ou dois anos. Antes, o manual não sugeria nenhum prazo para substituição, o que pegou muitos proprietários de surpresa na hora de fazer a manutenção, conforme descrito nesse depoimento no Reclame Aqui.

A grande maioria das reclamações aponta para problemas após o fim da garantia, que é de três anos. Dessa maneira, com a troca a cada dois anos, é possível que os modelos mais recentes não encontrem problemas, mas só o tempo dirá.

Os clientes que tiverem o defeito detectado com o veículo ainda em garantia foram atendidos com a troca gratuita do líquido de arrefecimento total, mas essa troca foi feita apenas em casos nos quais se constatou a necessidade, abrangendo apenas unidades de ano-modelo anterior à substituição da especificação do fluido.

Qualquer consumidor que quiser realizar agora a limpeza do sistema e a troca de líquido de arrefecimento encontrará apenas a nova formulação à venda pela Mopar, divisão de peças e acessórios da Stellantis. Trocas feitas fora do período indicado pelo manual do proprietário e do período de garantia serão cobradas normalmente. Ainda, a subsituição só acontece caso o técnico da concessionária detecte que há a necessidade desse procedimento.

Sem recall

Em janeiro do ano passado, o Procon-SP (Instituto de Defesa do Consumidor do Estado de São Paulo) chegou a cobrar um posicionamento da Stellantis a respeito dos problemas. Após alguns esclarecimentos, a entidade descartou um recall.

“Ainda que a determinação de um recall independa da quantidade de veículos afetados, mas sim do risco à saúde e a segurança, analisando esse dado apresentado pela empresa, num primeiro momento, pode-se afastar a incidência do recall”, explicou o órgão de defesa do consumidor sobre o caso.

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“Contudo, não se pode descartar que o número de registros apresentados pelas reportagens é considerável e que as alegações de mau uso da montadora não são comprovadas”, complementou.

Segundo resposta da Jeep ao Procon-SP sobre o tema, dos 450.810 veículos que estavam na garantia em 2020 no país, 302 foram atendidos em razão do problema. No ano seguinte, dos 502.493 veículos em garantia, 207 foram atendidos.

Tais números, que representam menos de 0,05% da frota da marca em período de garantia, justificariam a posição da empresa de que um recall não seria necessário e os problemas são decorrentes de falta de manutenção inadequada por parte dos proprietários.

Questionamos a Stellantis a respeito dos casos citados, a empresa se limitou a falar a respeito de melhorias e dos problemas causados por manutenção inadequada. Confira:

"A Stellantis esclarece que veículos que não realizam o plano de manutenções programadas, conforme previsto no Manual do Proprietário, estão sujeitos a manutenção corretiva antecipada. Reafirma ainda que estes casos não evidenciam ou apontam para uma falha ou um defeito de qualidade e, aproveita a oportunidade para informar que alterações em fluidos, peças de desgaste natural e/ou acessórios e componentes em geral passam por processos evolutivos em respeito ao cliente, às legislações, e que podem impactar na periodicidade das manutenções preventivas.” 

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