BYD lança Seagull, hatch elétrico mais barato que Kwid que roda 62,5 km/l

Marca aproveitou o movimentado Salão de Xangai, com 360 mil metros quadrados e um milhão de visitantes, para assustar marcas japonesas
HG
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05.05.2023 às 17:30
Marca aproveitou o movimentado Salão de Xangai, com 360 mil metros quadrados e um milhão de visitantes, para assustar marcas japonesas

Anote estes números: 360 mil metros quadrados, 1.000 expositores de 20 países diferentes e um público de mais de um milhão de visitantes, em dez dias. Houve um tempo em que os salões do automóvel norte-americanos e europeus eram eventos prestigiados e seus ingressos eram disputados, a tapa, pelo público.  

Durante cinco décadas, feiras como as de Detroit, nos Estados Unidos, Frankfurt, na Alemanha, Paris, na França, e Genebra, na Suíça, foram palco dos lançamentos mais importantes da indústria automotiva, em nível global. Hoje esvaziados, vêm o eixo do setor mudar para a Ásia, onde o Salão de Xangai assume o posto de mais importante evento do setor em nível global.  

Depois de um hiato de quatro anos, em função da pandemia, a mostra reabriu suas portas e encerrou a edição de 2023 com sucesso, no último dia 27 de abril. Entre sua mais de uma centena de lançamentos, 70 carros elétricos inéditos – a imensa maioria de marcas chinesas – e a confirmação daquilo que todos já sabem: que a China terá cada vez mais protagonismo no mundo das quatro rodas. 

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BYD Seagull é a estrela da noite

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Mas a grande estrela, em Xangai, foi BYD Seagull, que recebeu mais de 10 mil pedidos só no primeiro dia de vendas. O novo compacto da maior fabricante de carros elétricos do mundo chega ao mercado chinês com preço básico de 78.800 yuans (o equivalente a R$ 57.200) e alcance de até 405 quilômetros, sem necessidade de recarga das baterias – a versão de entrada tem autonomia menor, de 305 km.  

Lá, ele custa menos que um Honda Fit equipado com motor a combustão. “A apresentação do Seagull chocou a concorrência estrangeira, com preços até 75% inferiores aos da maioria dos elétricos europeus. A BYD adota uma estratégia agressiva de preços, impondo uma pressão deflacionária muito grande sobre as marcas japonesas, europeias e norte-americanas”, avalia o analista Adam Jonas, da Morgan Stanley, consultoria que atende instituições, corporações e governos em 41 países. 

Comparado ao Renault Kwid vendido no Brasil, o BYD Seagull é 20% mais barato, mesmo em relação à paupérrima versão Zen (a partir de R$ 69 mil). Por falar no Kwid, o lançamento da BYD é de 4,1 vezes a 5,7 vezes mais econômico que o subcompacto nacional, com um consumo médio – de eletricidade – equivalente a 62,5 km/l.  

São números que podem levar o leitor a crer que Seagull é um microcarro, um 'kei car', mas ele é 10 cm maior (3,78 metros de comprimento), 13 mais largo (1,71 m de largura) e 6 cm mais alto (1,54 m de altura) que o pé-de-boi da Renault – sua distância entre-eixos também é 7,5 cm maior, o que se traduz em maior espaço interno.  

“O BYD Seagull possui atributos para ameaçar as montadoras tradicionais nos mercados europeu e asiático, já que é um EV muitíssimo competitivo”, pontua o presidente-executivo da Faurecia, grupo francês de engenharia e produção, Patrick Koller. “Durante o salão, conversei com presidentes e CEOs de duas dúzias de marcas chinesas e eles querem dominar o segmento de entrada europeu com suas exportações”. 

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A NIO que, hoje, disputa com a BMW uma fatia dos EVs ‘premium’, no mercado chinês, confirmou durante o Salão de Xangai que vai lançar uma nova marca de modelos 100% elétricos, com foco no segmento de entrada.  

“Nosso mercado-alvo é a Europa, obviamente, mas também queremos vender nossos produtos nos Estados Unidos. Temos todas as condições de proporcionar uma melhor experiência para os consumidores europeus e apostamos na competitividade de nossa marca. Queremos, com toda justiça, nossa parte do bolo”, disse o presidente da montadora, Qin Lihong.  

A pressão da nova safra de elétricos chineses é tão grande que a Tesla, que liderou este segmento em nível global até 2022, vem reduzindo os preços de sua gama para não ver a atual vice-liderança ameaçada.  

“A BYD não confirmou a exportação do Seagull para a Europa, mas o “SEV” Dolphin desembarca por lá no último trimestre deste ano”, lembra o analista Adam Jonas, da Morgan Stanley. “Em breve, o veremos rodando em Roma ou Lisboa”. 

Outros lançamentos

“Estamos sob muita pressão e devemos nos mover, rapidamente, à medida que a concorrência chinesa aumenta. O mercado chinês é o maior do mundo e precisamos acelerar nossa estratégia para mantermos a participação doméstica”, reconheceu o presidente-executivo (CEO) da Toyota, maior montadora em nível global, Koji Sato.  

A marca japonesa confirmou, em Xangai, o lançamento de dez novos elétricos e a pretensão de vender 1,5 milhão de veículos elétricos, anualmente, a partir de 2026. “No ano passado, os carros movidos a bateria representaram apenas 0,2% de nossas vendas globais e, considerando o impacto que o salão deste ano terá, creio que a China vai se consolidar não só como o maior mercado do mundo, mas como a grande referência para a virada da eletromobilidade”. 

Quem esteve em Xangai viu uma realidade bem diferente daquela que rotula o comunismo chinês como um regime fundamentado na ditadura e no trabalho escravo – ainda há quem acredite neste tipo de propaganda imperialista. No estande da BYD, por exemplo, o superesportivo Yangweng U9 dividia espaço com o grandalhão U8, um “SEV” com autonomia de 1.000 quilômetros sem necessidade de recarga das baterias.

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No da HiPhi, destaque para o crossover X, que começa a ser vendido na Europa ainda neste ano, e no da Mercedes-Benz, para o Maybach EQS SUV, primeiro modelo 100% elétrico da marca de altíssimo luxo.  

A NIO, além do “miniSEV” EC6, apresentou a terceira geração de sua estação de troca de baterias, uma alternativa à espera pelo recarregamento. Já a XPeng revelou o G6, uma espécie de anti-Model Y, da Tesla, enquanto a Zeekr (do grupo Geely) lançou oficialmente o crossover X, que vai encarar Audi Q4 e-tron, BMW iX1 e Mercedes-Benz EQA, no mercado europeu. 

A Nissan é outra marca japonesa que parece ter se assustado com o que presenciou, em Xangai. “As necessidades dos clientes e do mercado chinês, como um todo, mostram que há uma mudança rápida se operando. Quem esteve no salão viu que a China está impulsionando a virada da eletromobilidade e que será a líder em serviços de conectividade. Estamos trabalhando duro e não devemos demorar para apresentar a versão de produção do crossover elétrico Arizona, que exibimos em nosso estande”, disse o diretor de operações (COO) do fabricante, Ashwani Gupta.

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Entre outros destaques do Salão de Xangai, a Polestar – braço de EVs da Volvo, que produz exclusivamente na China e faz parte do Grupo Geely – exibiu seus novos modelos 3 e 4 (dois crossovers), enquanto a Volkswagen apresentou o inédito ID7. 

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A Nio trouxe seus clientes para o desenvolvimento virtual de novos modelos, a GAC apostou no público feminino para promover sua marca Trumpchi e mesmo a presença ilustre de nomes como Bentley, Lamborghini e Maserati – que promoveu a ‘avant premiere’ do Grecale, 100% elétrico – não foi páreo para as jovens fabricantes chineses, como a Aion, a HiPhi e a Xpeng – de que já falamos.  

Longe do Brasil, uma nova ordem se consolida e montadoras totalmente desconhecidas, por aqui, já rivalizam com os medalhões europeus no maior salão do automóvel do mundo. 

Isso tem um significado: que o caminho para o futuro está sendo construído por companhias muito diferentes daquelas que aqui, em Pindorama, ainda dão as cartas e cobram preços acintosos por veículos totalmente ultrapassados, fazendo crer que a virada da eletromobilidade é uma moda passageira.

 Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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