Avaliação: novo Peugeot 3008 é o SUV certo com o motor errado
Lançado na Europa há quase um ano, o novo Peugeot 3008 chegou ao Brasil em maio. A reestilização de meia vida do SUV se limitou a mudanças estéticas e a agregar alguns itens de série. Mas cobra caro por isso.
O modelo chegou em duas versões: Griffe e GT Pack, oferecidas respectivamente a R$ 244.990 e R$ 269.990. Passamos uma semana com a versão de entrada para escrever esta avaliação.
O novo 3008 apenas trocou de maquiagem, mas continua o mesmo. Manteve a plataforma EMP2 e o conjunto mecânico, incluindo o já conhecido motor THP 1.6 turbo, só a gasolina, casado ao câmbio automático de seis marchas com tração dianteira. O que demonstra uma certa falta de percepção ou de estratégia de sua fabricante.
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A Peugeot por muito tempo foi conhecida por ter modelos caros, de manutenção alta e peças frágeis. Com o passar dos anos, a fama foi se amenizando, mas a marca francesa até hoje parece ter dificuldades na hora de posicionar seus produtos.
Aconteceu com a nova geração do 208 no ano passado e se repete agora com o 3008. Na faixa de preço em que a Peugeot o encaixou, o SUV já começa a se meter com modelos e marcas premium, como Volvo XC40 e BMW X1.
Esperar a fidelidade do público competindo com SUVs de grife como esses, sem qualquer diferencial em termos de motorização, é jogar a sorte ao vento.
Nessa avaliação do Peugeot 3008 Griffe, vamos abordar as principais mudanças do SUV e explicar o que ele oferece de melhor e pior, para responder se ele vale os quase R$ 250 mil pedidos pela fabricante e se vai dar conta da concorrência.
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Design moderno
O design do novo Peugeot 3008 vem agradando os consumidores tanto do continente europeu quanto do lado de cá do Atlântico, e exibe nitidamente o flerte da marca com o universo premium. A reestilização de meia vida trouxe ainda mais personalidade ao SUV e fez isso com muito requinte.
A grade foi totalmente redesenhada. O efeito prateado ficou no passado para dar lugar às aletas em efeito 3D. O desenho é replicado na carroceria do carro, estendendo-se até os faróis para dar uma sensação de “grade infinita”. Na pintura cinza, a ideia se mostra uma boa sacada, pois a grade acaba de fato se camuflando.
Assim como o primo 208, o novo Peugeot 3008 traz luzes diurnas de LED no para-choque frontal imitando garras de leão. Os faróis ganharam função de iluminação auxiliar em curvas e, na versão topo de linha, são Full-LED.
A traseira se manteve sem grandes ajustes estéticos. O ponto que mais chama atenção é o design das lanternas, cujo desenho lembra garras de leão. Ao dar seta, a iluminação é do tipo dinâmica e corre na direção indicada.
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Espaço, conforto e acabamento interno
Apesar do exterior refinado à primeira vista, o maior impacto ficou por conta do design do habitáculo. Ao entrar no modelo, o consumidor se depara com componentes nobres como teto solar panorâmico, detalhes em Alcântara e cromado, e faixas coloridas de luz que contornam o painel e as portas.
Mas o 3008 vai além da estética e investe também em tecnologia para trazer o máximo de modernidade. O SUV tem cluster digital de 12,3 polegadas com resolução elogiável e efeito tridimensional, como no novo 208, e pode ser configurado para mostrar as informações que o motorista desejar.
A central multimídia tem 8 polegadas (na versão GT, são 10 polegadas), é compatível com Android Auto e Apple Car Play, mas o espelhamento é só por fio. O que mostra uma certa incoerência, visto que o 3008 tem até carregador por indução para eliminar os cabos.
Em compensação, a multimídia tem alguns botões que servem como atalhos, e que são muito úteis para quem está dirigindo. As centrais atuais têm muitas funções concentradas na tela tátil. No trânsito, é difícil ficar passando pelas telas até encontrar o comando desejado. Ponto para o Peugeot.
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No banco do motorista, o condutor sente tudo sob controle. O console tem uma divisória um pouco mais alta do lado direito, que é destacado por um detalhe em cromado. Essa pequena interferência dá a quem está dirigindo uma certa sensação de privacidade, de que ali é o “seu espaço”.
O Peugeot 3008 não é como um sapato bonito que faz calo no pé. Ele consegue unir beleza, comodidade e bom espaço. Os bancos são macios e continuam confortáveis até em uma longa viagem. Os assentos dianteiros contam com um extensor, o que é ótimo para quem tem pernas compridas. Na versão de topo, há até massageador para o motorista.
Independentemente de a sua família ter crianças ou adolescentes, ninguém precisará invadir o espaço do outro por estar apertado, pois a distância dos bancos traseiros para o encosto dos dianteiros é o suficiente para dar uma esticada nas pernas. Isso não mudou na reestilização. O Peugeot 3008 continua com os mesmos 4.447 mm de comprimento, 2.675 mm de entre-eixos, 1.841 mm de largura e 1.625 mm de altura.
O porta-malas também é generoso: são 520 litros de capacidade. Isso lhe dá uma boa vantagem em relação ao Jeep Compass, que tem só 410 litros. Outro detalhe que faz a diferença no 3008 é o espaço para objetos, o do console dá para guardar muita coisa e até iluminado. A abertura é feita por duas portinhas, que lembram quase um armário.
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Erro de estratégia
Tudo caminhou muito bem até aqui. A Peugeot foi quase impecável em design, espaço e conforto do novo 3008. Mas corre o risco de colocar tudo a perder por conta do motor THP 1.6 turbo de 165 cv a 6.000 rpm e 24,5 kgfm de torque a 1.400 rpm.
Esse motor é fruto de uma parceria feita entre a Peugeot e a BMW, em 2006. Tem boa procedência, é muito confiável, mas já é um propulsor com 15 anos de vida e não tem o fôlego necessário para competir com SUVs premium.
Com a versão de entrada do Peugeot 3008 custando R$ 245 mil, o público fica muito mais exigente e a régua sobe para além do Jeep Compass. Modelos como Volvo XC40 e BMW X1 entram para disputar mercado, com a vantagem de contar com motorização mais potente e/ou eficiente.
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O Jeep Compass na versão topo de linha, a Trailhawk 4x4, tem motor turbodiesel 2.0 de 170 cv e 35,7 kgfm de torque, custando R$ 229.473, R$ 15 mil a menos do que um 3008 Griffe.
O Volvo XC40 na versão de entrada, Inscription, custa R$ 259.950. Por R$ 15 mil a mais, traz propulsão híbrida de 262 cv e 43,3 kgfm de torque, além de um consumo de combustível digno de carros 1.0. Já o BMW X1 SDrive 20i custa praticamente os mesmos R$ 270 mil do Peugeot 3008 GT, mas entrega 192 cv e 28,5 kgfm.
Conseguem perceber o tamanho do erro estratégico da Peugeot? E sequer é possível justificá-lo por falta de opção. Na Europa, o 3008 tem versões com o motor PureTech de 180 cv e 25,5 kgfm, ou até mesmo motorização híbrida de 225 cv ou até 300 cv. Seriam opções mais adequadas para sua faixa de preço.
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Desempenho esperto, só não mais que a concorrência
O Peugeot 3008 vai de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos e pode chegar até a 206 km/h. Como os números comprovam, estamos falando de um SUV esperto, muito graças ao torque entregue totalmente a uma rotação baixíssima, 1.400 rpm. Por isso, o modelo já mostra agilidade e veemência na primeira partida.
Já a potência é entregue de forma gradual, atingindo o pico em 6.000 rpm, uma rotação alta. Tudo isso torna a direção do 3008 muito gostosa, com arrancadas espertas e ganho gradual de velocidade em ritmo de cruzeiro, sem perder o embalo ou engasgar nas trocas de marcha.
Só não nos empolgamos tanto ao saber que, a preços similares, podemos levar para casa SUVs de marcas premium com mais potência, torque e fôlego nas acelerações.
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O Peugeot 3008 também não é tão eficiente ao absorver os impactos de uma rua esburacada. Se já é difícil na cidade, melhor nem testar na estrada de terra, até porque este SUV não foi feito para isso.
Apesar do balanço da carroceria e da moleza nas suspensões, que possui um conjunto simples de eixo de torção na traseira, nas curvas o modelo não passa a sensação de instabilidade. A direção leve é confortável, mas em alguns momentos passa sensação de insegurança e anestesia. Esses são os pontos mais incômodos a bordo.
Outra desvantagem do Peugeot 3008 é que ele é movido apenas a gasolina. Na cidade, faz 9,8 km/litro na cidade e 12,1 km/litro na estrada, segundo o Programa de Etiquetagem do Inmetro. O consumo é bem similar ao do rival BMW X1 sDrive 20i 2.0, porém com desempenho inferior.
Motor: 1.6, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, gasolina, duplo comando variável de válvulas, injeção direta de combustível, taxa de compressão 10,5:1
0 a 100 km/h: 8,9 segundos
Velocidade máxima: 206 km/h
Peso/potência: 8,3 kg/cv
Peso/torque: 56,1 kg/kgfm
Câmbio: automático, 6 marchas
Tração: dianteira
Dados técnicos: direção elétrica / suspensão dianteira: McPherson / suspensão traseira: eixo de torção / freios dianteiros: disco ventilados / freios traseiros: discos sólidos / pneus e rodas dianteiros e traseiros: 235/50 R19 / vão livre do solo: 219 mm / ângulo de entrada: 20 graus / ângulo central: não divulgado / ângulo de saída: 29 graus / diâmetro de giro: 10,7 m / Coeficiente aerodinâmico: não divulgado
Itens de série
O Peugeot 3008 Griffe tem uma lista de equipamentos honesta para o valor que cobra. Os sistemas semiautônomos são os que mais se destacam. Nós testamos o assistente de estacionamento do modelo, que promete entrar e sair sozinho de vagas paralelas e perpendiculares. Porém, ele mostrou que ainda precisa ser aprimorado.
Em vagas paralelas, o 3008 conseguiu realizar a baliza, mas não ficou alinhado com os outros dois carros estacionados. Um detalhe importante é que é fundamental manter o pé no freio para interferir sempre que for necessário, afinal estamos falando de assistente semiautônomo.
Para sair da vaga, quando coloquei o câmbio no Drive, o SUV avançou mesmo com os sensores apitando constantemente. Ou seja, se eu não estivesse controlando o freio, o sistema não impediria a colisão. Feito isso, selecionei a ré, esperei acertar o necessário e coloquei no Drive novamente para dar certo.
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Já na vaga transversal, foram inúmeras tentativas malsucedidas. Mesmo com o meu auxílio para mudar do Drive para Ré nos momentos que achava preciso, o 3008 não conseguiu fazer as manobras corretamente. Em alguns momentos, o sistema quase avançou para cima da Fiat Toro que deixamos na vaga ao lado. Claro que temos os registros em vídeo, no nosso quadro Primeira Partida, confira aqui.
Peugeot 3008 Griffe 2022 - Principais itens de série
- Sensor de ponto cego
- Leitor de placas de trânsito
- Câmera 360º
- Assistência de permanência em faixa
- Farol alto automático
- Piloto automático adaptativo com função start stop
- Frenagem automática de emergência
- Park Assist – Assistente de estacionamento em vagas paralelas e transversais
- Teto solar panorâmico
- Rodas de liga aro 19"
- Alarme
- Airbags frontais, laterais e de cortina
- 3 saídas 12v
- Retrovisores com rebatimento elétrico
- Acesso com mãos livres (ADML)
- Carregador de celular sem fio
- Multimídia
- Central Multimídia 8" com Android Auto e CarPlay
- Conforto
- Ar-condicionado automático bi-zone
- Visiopark 180 + Sensor estacionamento Dian/Tras
- ESP + Controle de Tração
- Faróis em Full LED
O novo Peugeot 3008 vale a pena?
O Peugeot 3008 Griffe é esteticamente atraente, espaçoso, confortável e tem os itens semiautônomos esperados de um SUV premium. O motor 1.6 THP não chega a ser frustrante, conferindo uma dirigibilidade muito agradável ao SUV.
A questão é que sua faixa de valores abre muito o leque de possibilidades, colocando SUVs de marca premium com motorização bem mais potente e moderna na jogada. Quando colocamos no páreo XC40 ou X1, fica difícil para o 3008 competir com um motor já usado há tantos anos e com uma performance inferior.
No geral, o novo Peugeot 3008 é um carro muito bom. Mas, por estar mal posicionado no mercado e cobrar um valor que poucos estão dispostos a pagar, tem tudo para se tornar um SUV que poucos escolherão para ter na garagem.
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A faculdade me fez jornalista, a vida me fez aficionada por carros esportivos e adrenalina. Unindo paixão e profissão, realizo a missão de conectar pessoas com o universo automotivo, mas confesso que já tentei pilotar um kart e não deu muito certo.